Participação

Participar significa, em sua etimologia latina, “fazer parte de” ou “tomar parte em algo”. E também fazer saber, informar, anunciar (do latim participare).

Cada um de nós, portanto, é parte de algo – seja um sistema, um corpo, um organismo – e toma parte simultaneamente em vários processos, nos quais temos papéis ou funções diversas.

Algumas vezes, esses papéis podem ser contraditórios ou conflitar entre si. Por exemplo, posso ser um professor extremamente exigente com meus alunos, mas um pai negligente com meus filhos porque não consigo dedicar um tempo adequado para estar com eles e participar de seus interesses e atividades. Ou, ainda, dedicar tanta energia aos meus afazeres sociais ou profissionais que relego, a segundo plano, minhas obrigações com o meu grupo familiar ou com a comunidade e a vizinhança, descuidando das pessoas e seres por cuja segurança e bem-estar sou responsável. Posso também imaginar que não tenho por que compartilhar meus dons, talentos, habilidades senão com os que me interessam, no sentido comercial do termo. Ou, ainda, posso crer que me é permitido escamotear uma informação que poderia contribuir para o bem-estar geral, seja por omissão ou por descaso para com o entorno e com os demais. Estou protegendo os meus interesses e não me importo com o que isto possa causar aos outros.

Posso chegar ao extremo da negligência, partindo de atitudes banais, de não me importar com o outro, como, por exemplo, quando os meios de comunicação informam sobre alguém que provoca um acidente e não pára sequer para atender as vítimas…

Enfim, são muitas as situações do dia a dia em que a intenção que move as minhas atitudes se manifesta e configura o meu comportamento como indivíduo, ser social, partícipe de um grupo humano, de uma sociedade e época histórica, e cohabitante do planeta Terra.

Como vivemos em relação com tudo e com todos, em consequência de nossa condição humana – seres que só se desenvolvem socialmente –, o grau e o modo com que participamos dos grupos e sistemas de que fazemos parte indicam onde estamos dentro do nosso processo de expansão da consciência e até que ponto estamos efetuando as mudanças a que nos propusemos, quando aderimos a um caminho de desenvolvimento espiritual.

No extremo do egocentrismo, em uma representação linear desse processo de desenvolvimento, só me interessaria a minha vida “particular”, os meus sentimentos e interesses, o meu próprio benefício. À medida que avançamos em direção ao outro extremo, percebemos o quanto somos interdependentes entre nós, e a nossa responsabilidade na relação com o entorno. Vamos nos reposicionando dentro desse contexto humano, ampliando a nossa percepção do outro e o próprio entendimento da liberdade a que cada um faz jus.

Citamos aqui um pequeno trecho que explica claramente um dos conceitos de Cafh: “Renunciamos para liberar-nos, para amar sem atar, para participar sem pedir, para desenvolver uma noção de ser não restrita a limites prefixados, para expandir nossa consciência em direção à união com Deus, tal qual o divino se revela em cada um de nós.”

A participação é uma atitude e um sentimento que se expressam em ações concretas. Como atitude, a participação estabelece limites aos nossos desejos e necessidades, fazendo com que assumamos nossas responsabilidades em relação aos demais. Exige de nós um movimento permanente de atenção com as necessidades alheias e um esforço para nos atualizarmos e explorarmos, em prol de todos, nossas capacidades e possibilidades.

Como sentimento, a participação produz a expansão do nosso estado de consciência. Os seres com vocação para o desenvolvimento pessoal – que em Cafh chamamos de vocação de renúncia – não buscam sua felicidade pessoal a qualquer custo ou exclusivamente. Se realmente me sinto parte do todo, busco vivenciar a vida de todos os outros, entender suas angústias e necessidades, suas dores e alegrias. Busco desenvolver empatia com os demais seres humanos, sejam eles do “meu” grupo – família, comunidade, etnia, sociedade – ou não.

Não se deve desprezar quem busca apenas sua própria felicidade e realização pessoal, mas, uma felicidade individual, isolada, separada ou em oposição à dos demais, não é mais possível para alguém cuja sensibilidade foi tocada por este sentimento de participação. A participação surge da intenção que nos move. Se minha intenção é alcançar somente uma realização pessoal, o outro se torna algo estranho a mim, um estrangeiro que deixo de fora do meu coração como um deserdado, sem documentos em uma fronteira. Se quero contribuir para o bem de toda a humanidade, o trabalho que realizo desenvolverá em mim uma capacidade crescente de amar e de servir. Meu próprio esforço é minha retroalimentação e meu combustível; amar e participar são sinônimos na minha vida.

Se nosso imperativo é desenvolver-nos, renunciamos a nosso egoísmo e sentido de posse e abarcamos contextos cada vez mais amplos em nossa consciência – o outro, os outros, todos os outros, os povos, a Terra, o Cosmos.

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