A arte de viver a relação, baseado na obra de Jorge Waxemberg

Cristina Woolf

Este livro foi escrito para aqueles que estão verdadeiramente interessados em seu desenvolvimento espiritual. Mais que um livro, ele é um guia de orientação ao leitor em seu trabalho interior, em meio à rede de relações em que se está inserido. Quando se trabalha sobre os diversos tipos de relações, buscam- se respostas

às indagações sobre o que somos, de onde viemos e para onde vamos.

As diferentes relações nos conectam com todos os aspectos da realidade, inclusive com aqueles que não compreendemos. Para que consigamos nos relacionar de alguma forma, precisamos ousar e, neste processo, renunciar às idéias cristalizadas acerca do que somos, sabemos e queremos na vida, e passar a nos relacionar de forma mais harmônica e consciente, abrangendo uma área cada vez mais ampla da realidade.

As respostas finais estão dentro de nós mesmos, e toda alma – palavra aqui utilizada para designar o que existe em comum entre os seres humanos – almeja o divino, significando a mais alta possibilidade do ser humano ou o desenvolvimento de sua consciência. O conceito de divino representa o aspecto desconhecido da vida e do mundo, que impulsiona o ser em direção ao conhecimento de si mesmo e da realidade.

A vida espiritual se baseia essencialmente no amor. Desenvolver as relações de forma consciente e harmônica é aprender a amar. Vida espiritual e arte de viver são, portanto, duas maneiras de se referir a uma mesma coisa.

A relação dos seres humanos com o mundo é inconsciente: a alma só é consciente das relações que estabelece voluntariamente. Desse modo, ela vive num meio reduzido, pois sofre influência de sua atitude, saúde, humor e das circunstâncias do momento.

Para que a verdadeira relação se estabeleça, é necessário um esforço interior e exterior.

Interiormente, é necessário um trabalho de autoconhecimento para se superar a ideia de que existimos separadamente dos demais. Isso requer um esforço exterior permanente, para que nossa conduta não nos separe uns dos outros. Quando nos unimos com o divino, estamos também nos unindo com todas as almas e com tudo o que existe.

Existem diversas formas e etapas de se relacionar. A relação possessiva e por participação, por exemplo, são as duas formas básicas dos relacionamentos. A primeira impõe dependência e domínio de um ao outro. As consequências deste tipo de relação são a dor e a destruição. Quando a alma desperta e percebe o círculo vicioso de posse e destruição, ela se abre à sua necessidade de compartilhar, participar e dar-se aos demais. Descobre o respeito e a aceitação do outro.

Um dos pilares dessa aprendizagem é a capacidade de conhecer-se e compreender a si mesmo, dentro do seu próprio meio ambiente. Por isso, é primordial que nos dediquemos a nos conhecer, a nos ocuparmos de nosso desenvolvimento espiritual. Toda alma é expressão do divino, por isso, deve expressar com sua vida reverência a este divino.

O ser humano deve se relacionar consigo mesmo como o professor se relaciona com seu discípulo: aceitando, ensinando, corrigindo, estimulando. Dando sempre a si mesmo o necessário para alcançar e manter o equilíbrio interior. A relação do ser humano consigo mesmo e com a sociedade são aspectos de uma mesma relação e se desenvolvem simultaneamente. Quando a alma compreende que sua vida é inseparável da humanidade, descobre a participação e sua responsabilidade de dar o melhor de si para o bem de todos. Constrói-se uma sociedade mais harmônica através da própria transformação, uma vez que, quanto mais evoluímos, mais nos conhecemos, mais consciente e mais simples é nossa relação com a sociedade e melhor se trabalha para ela.

A atitude construtiva para com a sociedade leva o ser humano a trabalhar de forma produtiva e eficiente; a alma se educa e educa os demais, mas nunca procura afastá-los, pois todos estão em processo de desenvolvimento.

Aprende-se tanto com as experiências agradáveis como com as desagradáveis, mas a qualidade dos pensamentos e sentimentos de um indivíduo depende de seu grau de consciência. Quanto menor o grau de consciência, mais a mente se deixa levar por seus impulsos, paixões e desejos, muitas vezes indesejados e descontrolados.

Aprender a controlar o modo de sentir é mais difícil do que controlar o modo de pensar. Pensar de uma maneira e sentir de outra é um obstáculo para se desenvolver a consciência e para construir um mundo de paz e bem-estar. Quem consegue harmonia entre mente e coração é livre para pensar e sentir de acordo com o seu ideal, e tem em suas mãos os meios necessários para construir um mundo de paz e felicidade para toda a humanidade.

Defeitos e virtudes são dois aspectos de um mesmo esforço, assim nos ensina este “pequeno manual”. Defeitos seriam os aspectos que atrasam ou travam o desenvolvimento e virtudes, os aspectos que ajudam a transcender as limitações e a expandir a consciência. Numa breve metáfora, poderíamos dizer que os defeitos são o campo de batalha da alma e as virtudes, as ferramentas para se trabalhar nele. Não há que se envergonhar ou se vangloriar nem de um nem de outro.

A experiência no trabalho com as imperfeições pessoais capacita a alma a ajudar e acompanhar os outros em seus esforços para compreender e se superar. Por outro lado, devem-se fortalecer as virtudes porque estas outorgam a força interior necessária para que se consiga conhecer a si mesmo.

Os problemas e as dificuldades, que consequentemente se enfrenta neste esforço de superação de si mesmo, não devem transformar esta senda de difícil em intransitável. As dificuldades assinalam os obstáculos que devem ser superados para que se continue a desenvolver; já os problemas são originados pelo próprio ser, quando não sabe enfrentar as dificuldades.

Nem sempre são óbvios, para o ser humano, os efeitos de sua atuação sobre o meio. As ações individuais, carregadas com a força da intenção e da vontade, afetam nosso meio e a sociedade.

O que uma alma faz com sua vida é sua responsabilidade individual; ninguém pode viver ou morrer pelo outro. Cada um vive suas experiências, realiza ou não suas possibilidades e marca seu destino. Mas, pelo simples fato de viver em sociedade, cada qual desfruta do patrimônio criado pelo esforço de inúmeros seres que, com sua contribuição, enriqueceram a humanidade ao longo da história. Todo ser humano tem o direito de desfrutar desse patrimônio, mas esse direito vem acompanhado da obrigação de enriquecê-lo e aumentá-lo.

Quando o ser humano se faz responsável não só por suas ações, como também pela atitude com que nutre seus sentimentos e pensamentos, ele começa a assumir sua responsabilidade espiritual. Ele compreende que não pode resolver fora o que não superou em sua própria vida.

Escutar e informar-se sem julgamentos prévios é um meio excelente de ampliar a compreensão e de se renovar interiormente. Para isso, é necessário que se esteja disposto a deixar que as ideias e as experiências dos demais sejam verdadeiros ensinamentos, de modo a expandir permanentemente o ponto de vista de cada um.

O ser humano se relaciona com a vida através de suas experiências. Quanto mais consciente for essa relação, melhor ele compreende a si mesmo e entende suas experiências. Para aprofundar essa relação, é preciso que expanda seu estado de consciência aceitando cada experiência como parte inseparável de um devenir universal, social, familiar e pessoal, vendo-se como parte integrante de uma totalidade.

Temos uma visão restrita e parcial da realidade. A alma aberta e permeável à mensagem da vida consegue estender o limite do que é pessoal e incorporar tudo e todos numa participação consciente e global da vida.

O interesse em alcançar paz interior, melhor compreensão e, especialmente, em dar sentido à vida são tarefas que fazem parte da arte de viver e, consequentemente, da vida espiritual, pois as duas são uma e a mesma coisa.

Jorge Waxemberg chama a atenção para o fato de que, neste caminho em direção ao desenvolvimento espiritual, é preciso que haja alguém que aconselhe e oriente, alguém que, com sua experiência, compreensão e apoio ajude o ser a resolver seus conflitos, evitar males, realizar suas melhores possibilidades e viver suas experiências, para que redundem em seu próprio bem e no bem de todos.

Em suas últimas palavras, o autor faz uma síntese perfeita do verdadeiro sentido da arte de viver a relação: aprender a se relacionar é o mesmo que aprender a arte de viver; quando a alma se harmoniza e expande seu sistema de relações, sua vida abarca a vastidão do universo e sua consciência vai se fazendo apta para desvelar o mistério do divino.

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