A relação com o meio e com os demais

Rose de Almeida, baseado no livro “ A arte de viver a relação”, de Jorge Waxemberg.

O tipo de relação que estabelecemos com o meio em que vivemos e com os demais – de possessão, tentativa de prevalecer e dominar, ou de expansão e participação – é um bom termômetro para medir nosso grau de amor à liberdade

e de interesse pelo ser humano.

Quanto mais nos desenvolvemos, mais expansivas e participantes são as relações que estabelecemos, com tudo e com todos. Assim, na evolução da relação com os demais, podemos dividir esse processo em duas grandes etapas: a da relação possessiva e a da relação por participação.

A relação possessiva é fácil de perceber: ela impõe dependência. Quando nos relacionamos possessivamente, acreditamos que os demais devem corresponder às nossas expectativas. Sentimo-nos como se fossemos amos e senhores de tudo que nos rodeia, inclusive de outros seres, suas vidas, seus sentimentos, seus pensamentos. Quando não o conseguimos, irritamo-nos e reagimos contra o que escapa ao nosso controle.

Os frutos de uma relação baseada no sentimento de posse geralmente são o confronto, a violência e a dor. Sofremos e fazemos sofrer. Mesmo que esse tipo de relação não se manifeste em atos de violência física, violenta os seres, o meio e a natureza. A relação possessiva nega a liberdade inerente ao ser humano. Desconhece todo direito, salvo o próprio. Em vez de unir, o desejo possessivo separa e, por fim, destrói.

Começamos a mudar uma relação possessiva e trocá-la por uma expansiva quando reconhecemos e compreendemos que fazemos sofrer aqueles que dizemos amar e conseguimos, pouco a pouco, ampliar o círculo de nossos afetos, aprendendo a gozar e a sofrer pelos outros.

Começa aí uma relação por participação. Uma atitude que muda a nossa maneira de responder às circunstâncias da vida e aos demais. Em vez de reagir sempre a favor do que nos agrada e contra o que nos contraria, aprendemos a aceitar. Em vez de sofrer e gozar somente pelo que acontece conosco, aprendemos a participar também do gozo e do sofrimento de outros.

Mas como se desenvolve e fortalece uma relação de participação? Basicamente gerando uma atitude de serviço e mantendo-nos atentos para perceber as necessidades alheias. Não necessitamos contar com tempo extra e bens em grande quantidade para ajudar os demais. Sempre temos oportunidades para assistir de forma construtiva, com compreensão, palavras edificantes e, especialmente, com ações, aos demais.

Atos simples como o de limpar o que não sujamos, ordenar o que não desordenamos, compartilhar o que temos e o que sabemos, cuidar do alheio com mais esmero que do próprio, ajudar a outrem em vez de dar-nos um gosto, são um bom começo na aprendizagem da participação. Estas práticas simples nos ajudam a conquistar uma condição de bem-estar interior, uma consciência de estar unido com todos os seres, com o mundo, com o divino.

À medida que tomamos consciência da realidade que nos circunda, enfocamos nosso interesse nos demais e na sociedade em que vivemos. O meio vai deixando de ser um mero palco onde desfilamos nossas vaidades, para se transformar em nosso campo de estudo e aprendizagem sobre nossas experiências.

Como trabalhamos em nosso desenvolvimento, respeitamos nossa vocação e os princípios que a sustentam; ao mesmo tempo, respeitamos a forma de vida, os pontos de vista e as decisões dos demais.

Algumas das atitudes perniciosas que afetam nossas relações pessoais são o orgulho e o sentimento de superioridade, o crer que sabemos tudo. O desdém, a falta de validação, o autoritarismo para com os que pretendemos ajudar – sejam nossos filhos, cônjuge, amigos, conhecidos ou dependentes – torna muito difícil nossa relação com eles, porque transformamos o desejo de ajuda em luta para impor nossa vontade ou opinião.

Em vez de perguntar-nos “Em que me servem os demais?”, perguntemo-nos: “Em que
sirvo os demais? A quem servem minha vida, meu trabalho, minha experiência?”

A relação possessiva nega a liberdade inerente ao ser humano. Desconhece todo direito, salvo o próprio. Em vez de unir, o desejo possessivo separa e, por fim, destrói.

Últimas matérias
NewsLetter

Assine nossa newsletter

Assine nosso boletim informativo para obter informações atualizadas, notícias e insights gratuitos.