Carlos Emílio Plüss

Marilda Clareth 

Mestre espiritual, ser de amor, de oferenda, de renúncia, ser consagrado, pastor das almas, presença, testemunho de vida…

Falar sobre o Sr. Carlos Emílio Pluss não é uma tarefa fácil. A sua vida não se confina e nem se traduz em informações, lembranças. Mesmo para quem não o conheceu pessoalmente, é uma tarefa que envolve o coração, o mais íntimo de nossa alma, transcendendo o nível do discurso, das palavras. Quem conheceu o Sr. Pluss retrata-o mais com a linguagem da alma, com os olhos do coração, do que com as palavras…

Por isso, neste texto, a intenção é esboçar, com palavras, uma imagem suave do Sr. Pluss para homenagear, lembrar ou suscitar em nossa memória o perfil de um ser que desperta reverência e amor. Não é fácil escrever sobre a vida de um ser de renúncia. Parece que não há meios para descrever, criar um retrato ou uma ideia que o represente. É um exercício que exige do leitor e de quem escreve uma atitude de silêncio, pois é preciso abrir o espaço do indizível para ali sentirmos a grandeza que exala desse grande ser de amor.

Carlos Emilio Pluss… “sorriso misterioso, claro sorriso de menino, expressão de majestade e de humildade, olhos azuis, engenheiro, filho de suíços, casado com Josefina Banaudi de Pluss”, um ser de amor e de extrema liberdade interior.

Quem o conheceu destaca a sua grande sensibilidade para perceber as necessidades de seus semelhantes, isto é, reconhecer, respeitar as diferenças e a individualidade de cada ser humano. Isto porque o Sr. Pluss era capaz de identificar e estar atento à necessidade de cada pessoa que dele se aproximava, fosse um mendigo, um médico, um operário, não importava quem. Por sua presença, transmitia-lhe amor, serenidade, compreensão.

O Sr. Pluss falava pouco, mas ensinava o valor da oração, do silêncio, da oferenda de si mesmo à divindade. A dor, a alegria, as ações mais corriqueiras do dia a dia eram para o Sr. Pluss o que o ser humano podia oferendar, fazendo de cada instante da vida o que ele chamava de oração operativa.

A premissa básica em que o Sr. Pluss se apoiava para orientar a sua própria vida, a sua relação com o universo, pode ser identificada como uma ascética da renúncia. Isto significa que a sua vida interior de renúncia não se reduzia apenas a um método, mas transformava-se em um caminho de amor, construído a partir da expansão da consciência de ser e de participar da existência humana e divina.

A presença de Carlos Pluss, segundo os seus amigos espirituais, trazia mudanças significativas na forma de viver e de ser das pessoas. A expansão do estado de consciência é uma consequuência da percepção de que a vida não se confina aos limites de um ponto de vista personalista, egoísta, determinado por pares de opostos, como por exemplo, a relação entre o bem e o mal, a alegria e a dor, a vida e a morte.

Sem negar nada, nem estar alheio a nada que compõe a existência, o Sr. Pluss transcende a ideia da separatividade. O divino está em tudo o que existe, está dentro e fora de qualquer ser vivo. Consciente de que a existência humana é transitória, respeitava o tempo, as leis da vida, a responsabilidade e os compromissos assumidos.

Ele venceu a ilusão da separatividade construída por valores centrados na auto-afirmação do ser a partir da exclusão, da competição, de relações interpessoais, definidas por regras de simpatia, antipatia, indiferença. Alcançou a transcendência desse estado de consciência que é protagonizado pelo eu, em oposição ao outro, o antagonista.

CARLOS PLÜSS

“Era um administrador consciente de sua parcela de vida terrena, na qual evidenciava a firmeza e a disciplina de um soldado ao lado da docilidade e da despreocupação de um menino. Não menosprezava nenhuma tarefa: “Limpar perfeitamente um piso é tão importante quanto construir uma casa. Parteiro da alma, sua presença, o testemunho de sua vida propiciam a mudança vibratória, a expansão da consciência. Ele ensina a silenciar o eu, a renunciar a ele e à medida em que o discípulo principia essa tentativa, começa a escutar as correspondências secretas do universo. (Paz, Noemi,p. 6)

Assim, livre de qualquer vaidade, desapegado de si mesmo e dos resultados de suas mais nobres ações, Carlos Plüss trabalhava incessantemente para transformar-se em um ser egoente, uma expressão da união dos valores humanos e divinos. O seu esforço era trabalhar por trabalhar para o bem de todos os seres vivos, oferendando as suas próprias dores para transmutá-las em radiante misericórdia, poderosa humildade, e amor desapegado.

A liberdade interior de Carlos Plüss pode ser evidenciada no relato a seguir:

“Engenheiro recém formado, procurava emprego, quando leu no jornal o anúncio de que uma importante empresa de eletricidade precisava de um torneiro. Não teve dúvida em apresentar-se e foi contratado. Obviamente, não disse que era engenheiro. Durante um bom tempo, trabalhou como torneiro, até que um dia, o chefe de sua seção faltou e não havia quem fizesse uns complicados desenhos. Carlos Plüss se ofereceu e realizou a tarefa com perfeição. Um dos seus chefes perguntou: “Quem é esse operário que fez estes desenhos tão bem? Carlos Plüss”, disseram-lhe.

Então, seu chefe, dirigindo-se a Carlos Plüss, disse: “Como o senhor sabe tanto?”. Carlos Plüss respondeu: “Porque sou engenheiro”.

Assim iniciou sua atividade de trabalho, com a liberdade que sempre o caracterizou. No ano de 1936, era gerente dessa empresa.” (Mastrangelo, F, Dom Santiago,Vida e Obra, p.50-51)
Carlos Plüss era um ser inquieto, sempre preocupado em estudar e discutir temas relacionados ao desenvolvimento do ser humano. Em 1936, conheceu o seu grande amigo espiritual, Sr. Santiago Bovisio, o ser que, segundo Carlos Plüss “mostra- nos a missão transcendente que trazia: praticamente despertar a consciência nos seres humanos, a condição inerente de ser interiormente livres, de exercitar o seu livre arbítrio permanentemente, sobre a base de uma participação real.” (Idem,p 44).

Carlos Plüss imediatamente se propõe trabalhar nesta tarefa e o Sr Santiago Bovisio lhe diz que, neste trabalho, só pode lhe oferecer a Renúncia.

3 de março de 1937 foi um dia inesquecível para Carlos Plüss, pois participou da primeira reunião oficial, a fundação de Cafh na Argentina.

Em 1957, no dia 23 de março, Carlos Plüss viveu outro momento muito especial, a fundação de Cafh no Brasil. Inspirada nas Ensinanças de seu Mestre, a vida do Sr. Plüss expressa os seguintes aspectos da renúncia:

1. o valor do silêncio, da oração e da oferenda.
2. a ascética da renúncia, um método, um caminho de amor até a expansão e a .participação.
3. a expansão do ponto de vista sobre a existência, a inclusão, isto é, a transcendência da separatividade.
4. a pureza da ação, livre da vaidade, do desejo de recompensa, reconhecimento.
5. o trabalhar conscientemente com o corpo, a mente 6. a transitoriedade de todas as coisas.
7. o silêncio, como forma de cessar as paixões que desgastam, dos pensamentos que saltam de um círculo a outro, de juízos e prejuízos, das questões da autocomiseração.

Carlos Emilio Pluss não é uma lembrança na mente e no coração… é sinônimo de vida, amor incondicional, oferenda que se faz presença, consciência e desperta a vocação de liberdade interior, transcendência… É reverência diante do Divino, existência consagrada.

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