Interdependência Consciente

INTERDEPENDÊNCIA CONSCIENTE

Expressão de unidade
Victor Bullaude

Existe alguma coisa que possamos fazer sem depender de alguém ou do todo?

Todos nós dependemos ou precisamos de coisas ou pessoas para podermos realizar aquilo a que nos propomos – mesmo que o conheçamos ou o queiramos, ou não.

A seguir, alguns fatos para os quais acreditamos não precisar depender de nada ou de ninguém para sua concretização:

• Digo ”sou independente” quando percebo que posso beber um copo de água sem a ajuda de alguém.

• Posso dormir.

• Posso ler.

• Posso pensar.

• Posso falar.

• Posso viajar.

• Posso trabalhar.

• Posso ganhar meu sustento.

• Posso desempenhar algum papel.

Vejamos o primeiro exemplo: “beber um copo de água”. Para que possamos levar a cabo esta operação tão simples, dependemos de quê? De que possamos dispor de água, obviamente. Isso, por sua vez, depende de que haja uma fonte de água. Para que a água chegue ao nosso domicílio, depende de que exista instalada uma rede de distribuição de água. Essa rede, para existir, depende, por sua vez, dos materiais com os quais foi construída – o que dependem dos que os fabricaram e dos que os instalaram – e, ainda, dos técnicos que a projetaram. Operários e técnicos capacitados e saudáveis dependem também de organizações que os capacitem e de sistemas de assistência à sua saúde. Esses sistemas, por sua vez, também fazem parte de uma rede, composta de inúmeros outros fatores que a integram.

Assim, podemos prosseguir indefinidamente, reconhecendo a REDE de RELAÇÕES ou conexões existentes, que tornam possível a qualquer um de nós beber um simples copo de água.

Tomemos cada um dos exemplos acima citados, e façamos o exercício de reconhecer o quanto somos dependentes de outros para executar qualquer ação a que nos propomos.

Se apurarmos os detalhes de nossa análise, poderemos perceber que cada “componente” da Grande Rede é um nó ou ponto que, por sua vez, depende de um número incalculável de outros tantos componentes que intervém para tornar possível sua existência e sua função.

Conscientizemo-nos do fato de que o que descrevemos é apenas uma pálida visão da realidade na qual estamos imersos e envolvidos. Façamos um esforço especial para imaginar esta Grande Rede, da qual fazemos parte, ou seja, de que participamos, saibamos ou não, queiramos ou não.

Temos de reconhecer que:

• Todos dependemos de todos.

• Nada existe e se sustenta neste mundo por si só.

• Todos nós necessitamos uns dos outros.

• O Espírito que anima a Grande Rede é a unidade que tudo inclui e sustenta.

• Poderíamos denominá-lo Espírito de Interdependência?

•Uma visão como essa, à medida que vai se aclarando, expande nosso atual estado de consciência.

• A partir dessa compreensão, já não podemos viver de qualquer maneira. Um sentir profundo desperta em nossa alma e percebemos que temos uma dívida de gratidão com todo o Universo; com cada ser humano; com cada expressão de vida. Nós nos damos conta de que toda uma vida não será suficiente para devolver tudo o que ininterruptamente recebemos Dela.

• Para manter viva essa Grande Rede de que fazemos parte, é necessário que não interrompamos o fluxo de DAR. É necessário atuar sobre ela com eficiência, generosamente.

• Nossa resposta há de ser pronta e plena de alegria.

• DAR significa dar-nos a nós mesmos. Cuidar da Grande Rede é o mesmo que cuidar-nos. Enriquecê-la é enriquecer-nos.

• Se conseguirmos visualizar esses exemplos, então poderemos, sem temor, cultivar o Espírito de Interdependência em nossas vidas, já que dependência como escravidão não cabe no contexto aqui descrito.

A interdependência a que nos referimos costuma chamar-se amor, solidariedade, serviço, compromisso, oferenda, entre outras denominações.

Cultivar o Espírito de Interdependência, nesse contexto, seria como reconhecer, pouco a pouco, o universo de relações no qual existimos: ampliar nosso estado de consciência. Este enfoque pode mudar o nosso comportamento cotidiano. Pode ajudar-nos de modo a tornar nosso mundo melhor.

Nossa presença, na sociedade da qual fazemos parte, recobraria o destaque que sempre lhe coube, mas que não compreendemos suficientemente. Certamente, poderíamos começar a “não esperar tanto ser compreendidos, mas compreender; não esperar tanto ser amados, mas amar porque é dando que se recebe…”*.
(*da oração de São Francisco de Assis) (*traduzido do espanhol “Interdependencia Consciente”)

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