Liderança e as relações

Antônio Sérgio Covas

Desde há muito tempo, considerei o termo “liderança” mais como designativo de uma condição presunçosa, ligada a privilégios, do que propriamente o fato de assumir responsabilidades coletivas.

Certamente essa opinião foi muito influenciada pela observação

do comportamento das pessoas que se intitulavam “líderes”, seja por autopatrocínio, seja por concessão de grupos de poder. Líderes políticos, líderes empresariais, líderes sindicais, líderes religiosos, líderes comunitários, todos, invariavelmente, acabavam por resvalar em direção a essa percepção depreciativa.

Mas o mundo vem mudando, e as mudanças bem sucedidas deixam o rastro de uma
liderança diferente, com traços de responsabilidade, mais solidária, mais consciente. O que está havendo, afinal?

A sociedade atual – e aqui não cabe debate quanto à responsabilidade na construção
desta, somente a constatação de que essa sociedade existe, e que nós estamos inexoravelmente inseridos nela – evidencia um grau de interdependência, entre tarefas e pessoas, que jamais existiu anteriormente. Qualquer projeto pessoal, por menor que seja, dificilmente está contido apenas em nosso âmbito de atuação. Dependemos quase sempre de terceiros, e vice-versa, e em escala crescente. Sem falar nos efeitos de uma economia global, na qual ações locais repercutem em todos os quadrantes do mundo. Realizar, hoje, significa integrar o trabalho de várias pessoas e, ao mesmo tempo, ter consciência do efeito que esta obra produzirá.

Não nos surpreende, portanto, o fato de sermos colocados vez por outra na condição de “líder”, para realização de uma pequena iniciativa. Uma incumbência que se repetirá com maior frequência, quando conseguirmos repercutir, junto ao grupo engajado, um sentimento de confiança. Inspirar confiança é apontado em pesquisas como o principal atributo de uma liderança bem sucedida. Inspirar confiança é também a consequência natural na atitude de todos aqueles que se empenham na elevação do seu estado de consciência.

Essa é a razão pela qual NÓS, membros de Cafh, devemos estar preparados para exercitar essas lideranças eventuais ou não, sempre como agentes de promoção da eficiência e do bem-estar coletivo. É importante conhecermos um pouco mais da arte de liderar, para que possamos cumprir a nossa vocação.

O livro “O Monge e o Executivo – Uma História da Essência da Liderança”, de James C. Hunter, vem, nos dois últimos anos, obtendo um sucesso editorial estrondoso, abordando precisamente o tema do nosso comentário. O personagem central do livro, o Irmão Simeão, conceitua: “Em palavras simples, liderar é conseguir que as coisas sejam feitas através das pessoas. Ao trabalhar com pessoas e conseguir que as coisas se façam através delas, sempre haverá duas dinâmicas em jogo – a tarefa e o relacionamento. É comum o líder perder o equilíbrio, se concentrando apenas em uma das dinâmicas em detrimento da outra”.

“A chave para liderança é executar as tarefas enquanto se constroem os relacionamentos.” Numa outra passagem, mais adiante, o Irmão Simeão conclui: “Os relacionamentos são importantes quando você lidera? Levei quase uma vida inteira para aprender esta grande verdade: TUDO na vida gira em torno dos relacionamentos – com Deus, conosco, com os outros. Isso é especialmente verdadeiro nos negócios, porque sem pessoas não há negócios. Famílias saudáveis, times saudáveis, igrejas saudáveis, negócios saudáveis e até vidas saudáveis falam de relacionamentos saudáveis. Os líderes verdadeiramente grandes têm essa capacidade de construir relacionamentos saudáveis”.

O líder é, antes de tudo, um servidor, um construtor de relacionamentos saudáveis!

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