Hildegard de Bingen – A alma é uma sinfonia

“A alma é uma sinfonia…
A alma vivifica o corpo e mantém o pensamento;
o corpo atrai a alma e manifesta o pensamento.

A alma dá vida ao corpo
como o sol faz penetrar a luz nas trevas,

por meio das duas forças principais que possui: a inteligência e a vontade.”

Com estas palavras, Hildergard de Bingen traça uma forma de ver, pensar e sentir o mundo, a humanidade, a natureza humana. Sua sensibilidade, desde a sua mais tenra infância, se revela a partir do momento em que pode se fazer um canal do divino, capaz de perceber e traduzir em obras as visões admiráveis com as quais é agraciada. Nascida em Bockelheim, Alemanha, em 1098, sua nobreza de alma torna-a uma das mais importantes místicas ou santas da Idade Média.

Filha de uma das famílias mais nobres da Alemanha, Hildergard foi educada em um ambiente de humildade, simplicidade, paz e pureza. De saúde frágil, aos 8 anos, a pedido de seu pai, Hildergard ficou sob os cuidados de sua tia Jutta, uma freira muito piedosa, que vivia no mosteiro de Disiobodenberg, onde a vida espiritual era bastante intensa.

Apesar de sua debilidade física, Hildergard sempre se preocupou em praticar uma ascética mística rigorosa, marcada por penitências e sacrifícios. Viveu até os oitenta e dois anos.

Profunda conhecedora da alma humana e das leis da natureza, desde muito nova foi agraciada pelo dom de poder ter visões divinas admiráveis. Sem compreender o que lhe acontecia, a menina Hildergard ficava assustada, sentia vergonha, chorava e mantinha silêncio sobre este dom, por não saber como explicar a origem deste conhecimento. Na verdade, a sua capacidade ou a sua intuição incomum impressionava tanto a ela quanto à sua família.

Imaginava ou já havia sentido em si mesma a força, o mistério, a grandeza das visões que se iniciaram desde os cinco anos de idade. Mais tarde confessou: “Não tive as visões em estado de sonolência, nem dormindo, nem em êxtase, nem por olhos corporais ou por meus ouvidos humanos exteriores; eu não as percebi em lugares escondidos, mas é estando acordada que eu as vejo… simplesmente, em espírito, eu as recebo em lugares abertos, segundo a vontade de Deus.”

Aos 14 anos, quando atingiu a maioridade, conforme as leis da época, Hildergard desejou tornar-se freira e assumiu esta vocação como uma necessidade de sua alma. Em 1136, ano da morte de Jutta, Santa Hildergard foi eleita abadessa do convento onde vivia.

Em sua obra, além da descrição das visões iluminativas, a santa revela seus profundos conhecimentos na área da Filosofia, Medicina, Alquimia e Ciências Naturais. Foi conhecida e amada por todos, desde os mais nobres até os mais deserdados. Vinham ao seu encontro todos os tipos de pessoas. Tanto o Papa, quanto os príncipes, as pessoas mais simples como os mendigos aproximavam-se de Hildergard para pedir conselhos, alcançar graças como a cura da alma e do corpo.

Para santa Hildergard, “A alma quando está no corpo, sente Deus porque ela vem de Deus, mas enquanto cumpre a sua tarefa nas criaturas, ela não vê a Deus. Logo que deixe a oficina do seu corpo e assim que estiver diante de Deus, ela conhecerá sua natureza e suas antigas dependências corporais. Aguarda pois, com avidez, esse último dia do mundo, porque perdeu as vestimentas que ama e que são o seu próprio corpo. Quando o recuperar, ela verá com os anjos a face gloriosa de Deus.”

Incompreendida em sua época, santa Hildergard escreveu várias obras por obediência a um mandato divino, recebido, através de uma visão que a instruía da seguinte maneira: “Porque és tímida e não acostumada a falar, não fales nem escrevas à maneira dos homens, senão por meio do dom que a Graça divina te concedeu. Proclamarás o que ouviste e viste dos milagres de Deus.”

Além da obra de caráter místico religioso, a santa se preocupou em escrever sobre o valor curativo das plantas e de cada elemento da natureza. Em sua obra “da Physica ou de Medicina composta” fez uma classificação sumária do temperamento das plantas e do ser humano, considerando as suas qualidades, segundo a força de vida e os propósitos de cada criatura viva. Mostra-se atenta ao equilíbrio ou à interrelação íntima que existe entre os estados de ânimo da alma humana e as doenças físicas, corporais. A cura da melancolia, por exemplo, seria relacionada à má eliminação da bile “negra”, responsável pelos maus humores, os distúrbios do metabolismo, causa da depressão. Para eliminar a bile negra, prescreve um sábio regime alimentar e o uso de um medicamento, um preparado em pó feito com pétalas de rosas e folhas de sálvia. No momento de raiva, a sálvia apaziguaria e a rosa alegraria a alma.

Recomenda, como parte do regime alimentar saudável, o uso de aveia, centeio, a espelta, que é um cereal incomum. A castanha já seria um fruto benéfico para toda fraqueza que há no ser humano. Comê-la com frequência seria bastante aconselhável. O funcho tornaria o ser humano jovial, assegurando-lhe uma bela cor ao rosto, um bom odor corporal e uma bela digestão. A maçã, sobretudo quando está envelhecida, com a casca enrugada, seria benéfica tanto para os doentes quanto para as pessoas saudáveis. A preocupação da santa com a alegria do coração humano é o ponto principal de sua obra relacionada aà medicina, orientando, assim, todas as suas indicações para manter a saúde do corpo e da alma.

A música era um elemento central em sua vida, expressão de sua piedade, seria a “voz do espírito”. Considera que o corpo deveria ser visto como a vestimenta da alma, que por sua vez seria o instrumento através do qual o divino seria louvado… A música seria uma forma de exaltar o divino… a alma é de natureza sinfônica. Os efeitos da música em cada ser humano seriam um reflexo da saudade de sua essência divina ou, em outras palavras, a saudade nascida da consciência que cada pessoa traz em si de sua união com o divino.

Compôs músicas admiráveis, enaltecendo a grandeza de Deus que fez do homem o tabernáculo de Sua sabedoria. E graças à sensibilidade de seus cinco sentidos, orientados pela fome de justiça e pelas mais doces virtudes, o ser humano tem a possibilidade de transcender as suas próprias limitações, renovando-se a cada dia pela graça de Deus para alcançar, em plena paz, a glória da vida que não muda, que não tem desgosto e perdura para sempre.

Hildegard de Bingen – Por Marilda Clareth, professora (Juiz de Fora, MG)Hildegard de Bingen – Por Marilda Clareth, professora (Juiz de Fora, MG)

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