A busca do significado

Cristina Wolf | Tradutora – Rio de Janeiro

A Logoterapia, ou terapia através do significado, criada pelo médico e psiquiatra austríaco Viktor Frankl, tem como objetivos o autoconhecimento e, principalmente, ensinar os pacientes a preencher o chamado “vazio existencial”, descobrindo o sentido individual da existência de cada um.

O dr. Joseph Fabry,

em seu livro “A Busca do Significado” (ECE Editora), publicado pela primeira vez em 1968, atualiza, amplia e desenvolve, na versão atual, o conhecimento sobre a Logoterapia, para o leitor comum.

A palavra logoterapia significa terapia do logos, ou terapia do significado, e sua aplicação oferece ferramentas que ajudam o indivíduo na busca de significado, mantendo, no entanto, um mínimo de dependência do psicoterapeuta.

Essa terapia existencial baseia-se em experiências pessoais, únicas e irrepetíveis, utilizadas pelo paciente na observação de si mesmo, através de uma perspectiva diferente, para que ele tome conhecimento tanto de suas limitações quanto de seus potenciais. Mas, diferentemente da maioria das terapias, a Logoterapia estimula o paciente a buscar uma dimensão espiritual da existência.

Fabry constata que obteve da Logoterapia o reconhecimento de que a principal razão da vida do homem é a busca de um sentido, e não a busca da felicidade, pois a vida nos impõe obrigações, e o prazer e a felicidade são bens que recebemos somente quando assumimos nossos compromissos. Sempre que o homem experimenta a perda de uma segurança estabelecida não lhe resta outra alternativa do que atirar-se novamente à busca de um novo sentido e uma nova ordem. A experiência da vida em um campo de concentração, vivida por Viktor Frankl, e sua posterior luta para sobreviver, tornam bastante clara esta constatação.

Viktor Frankl, médico e psiquiatra austríaco, foi um sobrevivente dos campos de concentração nazistas da 2a Guerra Mundial. Foi contemporâneo de Sigmund Freud e Alfred Adler, vindo a falecer em 1997. Apesar dos terríveis sofrimentos por que passou, foi capaz de manter a liberdade de espírito. A indelével experiência pessoal é marcante em sua obra terapêutica e em seus escritos.

A diferença entre Freud e Frankl reside no fato de que o primeiro preocupava-se em arrancar as máscaras vitorianas que encobriam o homem, a fim de que ele pudesse ver-se a si mesmo, dominado por seus impulsos e instintos. Já Frankl objetivava descobrir a verdadeira face que se oculta por trás dessas máscaras. Frankl, ao contrário de Freud, que considerava a religião uma neurose da humanidade, via a religião como “a busca do homem por um significado” – a manifestação do anseio por um sentido último.

Frankl assinala que, antes de Freud, a medicina desprezava a mente humana, assim como o faz, hoje em dia, em relação ao espírito. Os atos espirituais dos seres humanos são comandados por nós mesmos, tomando decisões, assumindo responsabilidades, aceitando compromissos. Possuímos o livre-arbítrio, agimos pela autotranscendência, pelo bem de alguém, ou por algo que está acima de nós mesmos. A dimensão humana é a dimensão da liberdade, embora sejamos prisioneiros da dimensão do corpo e conduzidos pela dimensão da mente. Porém, na dimensão do espírito, somos livres; não existimos apenas, podemos exercer influência sobre a nossa existência.

O pressuposto essencial da Logoterapia é que, além de nossas dimensões físicas e psicológicas, possuímos uma dimensão espiritual, e se desejarmos compreender o homem em sua totalidade devemos levar em consideração estas três dimensões.

Frankl não nega que as forças biológicas, sociais e psicológicas exerçam grande influência sobre nós, mas, segundo ele, o homem é determinado, porém jamais pandeterminado, pois possuímos uma área na qual podemos direcionar nossas ações, nossas experiências e nossas atitudes. Esta possibilidade de autodeterminação repousa em nosso domínio “noético”, termo este tirado da palavra grega noös, espírito.

De acordo com a Logoterapia, a doença pode originar-se em nosso noös, mas, ao contrário do corpo e da mente, o noös jamais adoece. O conceito da dimensão noética ajuda o homem a conhecer-se e a melhorar-se, e ajuda o terapeuta a conhecer e melhorar a saúde mental de seu paciente.
Cada momento nos submete a uma decisão, cada decisão origina conflitos e cada conflito gera tensões. A tensão é inerente à condição humana. O logoterapeuta tenta ajudar o paciente a tomar consciência tanto de seus conflitos espirituais reprimidos quanto os de consciência, e a aprender a lidar com uma dose saudável de tensão, indispensável para que se perceba o sentido existente por trás dos valores.

O pensamento de Frankl era que a motivação básica do comportamento do indivíduo é uma busca pelo sentido para sua vida, e que a finalidade da terapia psicológica deve ser ajudá-lo a encontrar este significado particular. O logoterapeuta e o paciente são aliados na busca comum por um caminho livre de frustrações e de vazio existencial.

Na Logoterapia, a vida jamais deixa de ter sentido para alguém, e a felicidade, a satisfação, a paz de espírito e a autorealização são meros produtos da busca pelo significado.

Frankl teorizou que o indivíduo pode encontrar um sentido para sua vida por três vias: (1) criando um trabalho ou realizando um feito notável, ou ao sentir-se responsável por terminar um trabalho que depende fundamentalmente de seus conhecimentos ou de sua ação; (2) experimentando um valor, algo novo, ou estabelecendo um novo relacionamento pessoal. Esse é também o caso de uma pessoa que está consciente da responsabilidade que tem em relação a alguém que a ama e espera por ela; e (3) pelo sofrimento. Adotando uma atitude em relação a um sofrimento inevitável, se tem consciência de que a vida ainda espera muito de sua contribuição para com os demais. Nesses três casos, a resposta do indivíduo, então, deixa de ser a perda de tempo em conversas e elucubrações mentais, e passa a ser a ação correta e a conduta moral objetiva.

Nos EUA disseram a Frankl que suas teorias representavam uma novidade se comparadas com a psicanálise. Já quando esteve viajando pela Ásia, Índia e Japão disseram precisamente o contrário, que o que ele dizia eram antigas verdades que podiam ser encontrada nos Vedas, no Zen, nos escritos de Lao-Tsé. Em ambos os casos, Frankl sentiu-se lisonjeado, pois, para ele, tudo contribuía para o avanço da psicoterapia.

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