A mulher de azul

Cláudio Moreira

Onde andará a mulher de azul?

Da última vez que a vi estava coberta da poeira de depois, limpava os óculos, num movimento mais instintivo de se reconhecer viva, do que de usar sua visão.

As torres gêmeas haviam desabado há minutos, já se sabia do ataque, mas era só o que se sabia, todos corriam desesperados, a mulher de azul, coberta de poeira, limpava os óculos quando o repórter da CNN lhe colocou o microfone à frente e perguntou o que estava acontecendo.

A mulher de azul, chorando e limpando seus óculos, respondeu: “Não sei… Eu só espero que o meu país saiba responder a esse ataque com amor.”

Foi uma cena rápida e que nunca mais consegui rever, apesar das milhares de vezes que os “tapes” foram ao ar, ao longo daqueles meses.

Onde andará a mulher de azul?

Como estará a mulher de azul?

Será que a poeira sobre o azul foi tão forte experiência que a terá feito mudar de opinião, que agora se orgulhe da poeira que seus compatriotas estão fazendo do outro lado do oceano?

Custo a acreditar nessa hipótese, por isso gostaria de encontrar a mulher de azul e entrevistá-la, conversar com ela, saber quem é e como está, saber qual foi a repercussão das suas palavras naquele primeiro momento e o que se passou desde então com ela.

Quero perguntar a ela no que pensava quando respondeu ao repórter, será que ela sabe o significado do seu gesto? Será que ela sabe que graças às suas palavras naquele momento crítico o mundo ficou a milímetros da paz?

Tudo poderia ter sido diferente se o presidente Bush a tivesse escutado, se a nação e o povo americano tivessem sido tocados por aquele brilho de lucidez e compaixão.

Quero encontrar essa mulher de azul e falar com ela…

E se ela for judia, será que dessa vez a sua gente não a ouviria e não teríamos a chance de parar, com o gesto de amor por ela sugerido, a escalada suicida dos palestinos no oriente médio?

O mundo necessita desesperadamente de um gesto significativo de amor; “Chega! Não vou revidar. As vítimas dessa última bomba no ataque suicida serão verdadeiramente honradas, serão símbolo de um “ato contrário”, da nossa renúncia pela paz, a vingança acabou!”

É por isso que precisamos encontrar a mulher de azul, pois é ela que tem que ter a sua vingança, ou melhor, é a sua proposta que tem que vingar.

É necessário que o mais cedo possível adotemos o outro sentido da “vingança”. Precisamos ter no mundo uma vingança generalizada, uma vingança de amor, como nos pede a mulher de azul.

Que o amor finalmente vingue no mundo!

Que todas as nossas respostas sejam de amor!

Mas o leitor deve estar pensando que estas linhas são mais uma das milhares de matérias escritas mundo afora sobre uma utopia inatingível: a do amor entre os homens. Dessas que se pode considerar melhor ou pior escrita, com que até concordemos, mas que definitivamente está fora do nosso alcance, que “não é comigo”.

Duplo engano. Aqui e agora, nós não pretendemos discorrer sobre nada, principalmente sobre o amor entre os homens.

O propósito mesmo desta nossa manifestação é inteiramente distinto e perfeitamente atingível.

Acredito que nós, homens e mulheres que buscamos expandir a nossa consciência, gostaríamos de rever a cena da “mulher de azul”, queremos resgatar essa cena e colocá-la no ar com toda sua espontaneidade e energia… mas queremos mais, queremos encontrar essa mulher.

Assim é que exorto a todos os leitores para que nos unamos com esse fim, qual seja, o de resgatar a cena “perdida” e de encontrar a mulher de azul.

Quem sabe o que ela terá a nos dizer?

Seria interessante se alguém que tenha um “site” disponível o oferecesse para que todos nós pudéssemos usufruir das contribuições recebidas.

Exorto também aos jornalistas para que se engajem nessa rede trazendo consigo o seu interesse jornalístico, pois me parece ser a “mulher de azul” um tema assaz interessante para o grande público.

Mas não quero esconder de ninguém, tenho muita esperança que a vinda a público da mulher de azul possa trazer mais uma esperança de paz, na medida em que consigamos fazer um movimento em rede mundial que consiga propagar aquele brado de paz e, talvez, quem sabe, pressionar, pacificamente é claro, com a força das massas e das redes ativas, os nossos governos e os governos dos demais países para que se reencontre o bom senso a fim de que a estupidez da violência e da guerra tenha um freio.

E por que não, se somos todos homens e mulheres de bem, cujas consciências nos impelem a participar de forma mais ativa nos destinos do nosso já tão combalido planeta?

(Essa matéria foi escrita no primeiro aniversário do “11 de setembro” e nunca publicada. Num retiro em Campos do Jordão em 2005 encontrei um outro membro de CAFH que também testemunhou a “mulher de azul”. Um grande alento, não estava sonhando… Mas, e agora, o que fazemos?)

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