Cuidemos de nosso meio ambiente interior

Todos os anos durante o Plenilúnio de Maio os membros de Cafh se reúnem em Assembleia, em algum lugar do planeta.

No encontro, o diretor espiritual mundial de Cafh faz duas alocuções aos participantes, uma na abertura e outra no encerramento.

No encontro de 2007, José Luis Kutcherauer,

diretor espiritual mundial de Cafh, abordou um tema no mínimo inusitado: a necessidade de cuidarmos de nossa biosfera interior.

No ano passado, no encerramento de uma Assembleia de Plenilúnio da qual participaram centenas de membros de Cafh de diversos países, o diretor espiritual mundial de Cafh* transmitiu uma interessante mensagem aos presentes, que gostaríamos de dividir com nossos leitores. Falou sobre a necessidade de – a par dos nossos esforços para cuidar do meio ambiente exterior – prestarmos atenção ao nosso meio ambiente interior. Ali onde também há poluição, desperdício de recursos não renováveis (tempo, por exemplo) e do qual precisamos cuidar para benefício próprio e, principalmente, dos demais.

Não vamos reproduzir a alocução inteira, por ser extensa. Ficaremos apenas nos pontos principais que giram em torno dessa ideia. E para facilitar o entendimento de algumas expressões próprias deste caminho introduzimos algumas notas de rodapé.

“Nos últimos anos tomamos consciência dos problemas que afetam o planeta e dos efeitos que nossas ações provocam na biosfera. Como consequência, ecologia e meio ambiente se converteram em palavras habituais. Poderíamos dizer que em apenas duas gerações se criou uma consciência global de que é nossa responsabilidade cuidar da Terra – a casa que compartilhamos. Cada vez mais surgem chamados de alerta sobre aquecimento global, camada de ozônio, poluição, convocando-nos a cuidar de recursos como o ar, a água, as matas, a terra e as espécies animais.

Sem dúvida, temos que estar atentos a todos estes elementos para amenizar os efeitos negativos que produzimos. Por maior e mais complexo que pareçam as dificuldades que enfrentamos, cresce dia a dia o interesse e o compromisso na busca de soluções viáveis, imediatas, simples e efetivas.

Porém, como membros de Cafh, compreendemos que temos muito mais para cuidar, já que trabalhar para minimizar o impacto que produzimos no meio ambiente não encerra nossa tarefa.

Voltemos o olhar também para o nosso ‘meio ambiente interior’. Para poder realizar a mudança que desejamos, comecemos por transformar nosso mundo interior, construindo um ambiente harmônico que nos converta em seres humanos integrais. É nesse meio interior onde começa a nossa tarefa.

Dizem que cada pessoa é um mundo. E assim é: cada um de nós é um mundo, com um modo de viver próprio e que deriva de nossa condição humana e do tipo de ambiente no qual habitamos. A condição humana conforma um marco dentro do qual nos desenvolvemos. O ambiente em que vivemos – tanto interior como exterior – é a variável sobre a qual podemos atuar para conformar a biosfera espiritual que queremos que nos contenha.

Ao tomar consciência de que somos portadores de um meio ambiente interior e que este incide sobre os demais, também descobrimos que temos que protegê-lo e cuidar do seu equilíbrio. Assim, compreender – entender e atuar em consequência – nos leva a comprometer-nos com essa biosfera interna, espiritual, vulnerável, sutil, porém fundamental para desenvolver-nos como seres humanos integrais.

Por sermos livres e termos a faculdade de escolher, podemos transformar um deserto em um vale fértil e um vale fértil em deserto, purificar o ar multiplicando bosques ou fazê-lo irrespirável desmatando-os, manter as águas claras e cristalinas ou transformá-las em um fedorento lodaçal.

A mesma coisa acontece em nosso meio ambiente interior.

Somos depositários de imensos tesouros que temos que cuidar, potencializar e repartir. Devemos perguntar-nos quais são os bens que queremos deixar como herança para a humanidade. Especialmente, devemos recordar que dentro de nós também existem recursos não-renováveis pelos quais temos que responder: o uso do tempo, as energias vitais, o potencial mental e afetivo, tudo está em nossas mãos, sob nosso cuidado, para utilizar e dispor.

Pensemos, por exemplo, no ecossistema constituído por nossos pensamentos. Protejamos esta fonte de vida que é a nossa mente. Ponhamos nossa inteligência a serviço do bem comum, já que entre todos constituímos o corpo da humanidade.

Pensemos ainda no ecossistema constituído por nossos sentimentos e aspirações. Protejamos nosso meio interior para que albergue sentimentos de amor, de compaixão, de compreensão e amizade.

O estudo da ecologia nos ensina a observar as relações sistêmicas entre os indivíduos e o meio ambiente e a perceber que, para manter o equilíbrio, é indispensável a interdependência, já que cada parte ocupa o lugar que lhe corresponde e realiza uma função determinada, contribuindo para o equilíbrio do todo maior.

Necessitamos dar espaço a esta atitude – de interdependência – para que conscientemente unidos cumpramos a nossa missão na Grande Obra (2).

Através de um processo de desenvolvimento da consciência, descobrimos a estreita interrelação entre todo o existente. Por que, então, na prática atuamos muitas vezes como se vivêssemos de forma autônoma? Pode ser que temamos o poder coercitivo de quem quer impor-se ou submeter-nos. Pode ser que temamos que o viver em função do todo anule a nossa individualidade.

Seja como for, compreendamos que não podemos deixar de pertencer ao todo, porque somos parte integrante dele. O individualismo segrega, porque é contrario à lei da vida que conduz para a integração, para a união. Em nossa ignorância, o que tentamos fazer é negar-nos esse “pertencer” ao todo.

Na interdependência não há imposição e ninguém deixa de ser o que é. Cada um é um individuo que não se repete, único. Quando se revela aos nossos olhos nossa realidade egoente(3), deixamos de lado temores e dúvidas, nossos esforços individuais se reforçam e, multiplicados, transformam-se em fonte de bem e adiantamento para a humanidade.

A plenitude e harmonia entre os seres humanos se dão como resultado de um processo de amadurecimento espiritual e se manifestam em discernimento, participação e ousadia para empreender a ação necessária.

Quando descobrimos os vínculos que nos unem aos nossos semelhantes, à natureza, ao meio ambiente e a todo o universo, não podemos deixar de viver com um sentido de reverência que impregna toda nossa vida. De maneira natural, aprendemos a respeitar a individualidade de outros, porque respeitamos nossa própria individualidade. Os recursos interiores com que contamos são um dom que recebemos para levar a cabo a finalidade última da vida: a união com a Divina Mãe (4). O uso sábio e prudente destes recursos gera harmonia e paz em nosso meio ambiente interior e, em consequência, no entorno. A aceitação da interdependência como uma atitude essencial para viver já não é uma imposição, senão o resultado de um processo de expansão da consciência.

 (1) Cafh – A palavra Cafh tem raízes antigas. Para os membros de Cafh simboliza o esforço para alcançar a união com Deus. Ao mesmo tempo representa a presença do divino em cada ser.

(2) A Grande Obra – Os Ensinamentos de Cafh chamam Grande Obra ao conjunto de obras materiais, intelectuais e espirituais que nós, seres humanos efetuamos para realizar nosso destino, de acordo com o Plano de Evolução Universal.

(3) Egoência – Ser egoente é ser consciente de si e de nossa relação com o todo, e discernir a forma de responder à responsabilidade que implica esta consciência.

(4) Divina Mãe – Os membros de Cafh reverenciam a Deus na imagem feminina da Divina Mãe. A Divina Mãe é, em Cafh, o principal ponto de atenção e veneração como expressão da obra, do amor e da onipotência de Deus. Os Ensinamentos de reconhecem na Divina Mãe um estado potencial – o que ainda não é, e outro ativo – o que está sendo.

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