Descerrando o véu negro

Domingas Covre Loss

A Meditação ajuda a nos vermos tal qual somos, a aceitar a realidade atual e a modificá-la, se assim o desejarmos.

De uma maneira geral, todos atuamos de acordo com hábitos ou padrões que fomos incorporando ao longo da vida. Eles são resultantes de nossa

formação familiar, social e religiosa, das experiências vividas e de características que são inerentes a cada pessoa. Muitas vezes, esses hábitos ou padrões geram sofrimento tanto para nós como para os que nos rodeiam, e custa-nos perceber a causa deste sofrimento. Estamos tão identificados com nossa forma de ser, com nossas certezas, que não abrimos espaço em nossa mente para investigar outra possibilidade.

Avaliamos os fatos segundo nossa identificação com as circunstâncias ou nossos padrões, e não necessariamente como eles realmente são. Ou melhor, eu os avalio de acordo com o meu ponto de vista. Poucas vezes me detenho e penso como o outro o percebe. É importante perguntar-se: a interpretação que faço é a realidade ou produto de meus condicionamentos?

Às vezes sentimos e atuamos como se tudo girasse em torno de nós. Queremos ser felizes, mas o outro é que tem que propiciar esta felicidade; queremos que algo mude, mas o outro é que deve mudar; e assim repetimos as mesmas experiências, que nos levam ao mesmo resultado, até que algo inesperado nos obriga a uma mudança. Mas, esta mudança não nos assegura que tenhamos solucionado nossa dificuldade, pois pode levar-nos a outro condicionamento.

Porém, não é necessário que seja sempre assim. Por termos a faculdade da razão, temos a possibilidade de, por escolha própria, identificar quais aspectos devemos mudar para deixar de repetir experiências que nos fazem sofrer e geram sofrimento. Se quisermos viver em harmonia, devemos assumir esse compromisso e fazer dele algo importante. E a meditação diária é uma poderosa ferramenta para alcançar essa compreensão e harmonia.

Como dizíamos na edição anterior (nº 3), “A meditação ajuda a nos vermos tal qual somos, a aceitar a realidade que se apresenta e a modificá-la, se assim o desejarmos”.

Assim, como primeiro tema de meditação, propomos uma tomada de “consciência de nós mesmos”, que por motivo da técnica usada e para simplificar chamaremos aqui de A DAMA DO VÉU NEGRO, tendo como apoio a ideia de que este véu nos impede de ver a realidade tal qual ela é.
Para meditar sobre esse tema, podemos escolher algum aspecto que nos limita, seja ele gerado por mim ou pelo outro; o simples fato de fazer esta escolha já evidencia uma predisposição para realizar um trabalho interior.

A título de exemplo: tenho dificuldade em minhas relações porque sou muito franco e sempre digo o que penso. Pergunto-me por que as pessoas não conseguem escutar a verdade, até que um dia surge a necessidade de buscar uma resposta. É quando tomo um tempo para refletir, para observar o que ocorre, como ocorre, quando ocorre e como poderia ser evitado. Se me dou conta dessa possibilidade, vou utilizar muito menos tempo para prevenir uma situação do que usaria para repará-la, o que, muitas vezes, não é possível.

Recordando que esse exercício consta de três passos*, depois de aquietar nossa mente, iniciamos a Invocação, onde descrevemos pausadamente e com detalhes o que percebemos ou como o percebemos. Essa descrição deve ser isenta de paixão e juízo de valores. Seria como se eu estivesse contando tranquilamente algo para outra pessoa, assumindo o papel de observador.

Um ponto de apoio importante para que se perceba que a leitura pode estar equivocada, é lembrar-se de quantas vezes nos pegamos ouvindo alguém relatar algo do qual participamos, ou temos conhecimento, com uma interpretação bastante diferente da que fazemos.

Após a Invocação, segue-se o tempo de Espera, onde nos mantemos em silêncio, sem alimentar nenhum pensamento. Em seguida, anunciamos o passo da Resposta. Neste passo, provavelmente teremos uma nova visão do que nos ocorre, uma visão mais ampla que nos fornecerá elementos para continuar trabalhando. Posso ter percebido, por exemplo, que nem sempre o que penso está correto, e trata-se apenas de meu ponto de vista, ou de que não seria o momento oportuno para expressá-lo, ou ainda, que a maneira como me expresso pode parecer uma crítica ou uma imposição.

Muitos outros aspectos podem ser descobertos quando nos detemos para fazer uma análise desapaixonada de uma situação. Posso me deparar com uma realidade totalmente diferente da que percebia e assim desenvolver formas de trabalhar sobre mim mesmo.

Conscientizo-me de que não necessito ser assim, de que posso libertar-me dessa e de outras limitações. Porém, para que isso ocorra, é necessário deixar vir à tona todos os matizes pelos quais se manifesta minha personalidade corrente.

Também é importante não rejeitar as possibilidades que surgem; afinal, somos seres humanos dotados de uma infinidade de possibilidades. Descobrir minhas limitações representa tirar os véus que cobrem minha percepção da realidade e, consequentemente, impedem a minha transformação. É importante que eu me aceite assim como sou, para, a partir daí, trabalhar no sentido de ser como gostaria.

O processo de desenvolvimento espiritual se dá por etapas, não de um momento para outro. Requer paciência, perseverança e compromisso. Cada vez que percebemos uma nova realidade, esta é incorporada à nossa consciência, expandindo-a. Um ponto de apoio, que ajuda a impulsionar o desejo de conhecer-nos mais profundamente e utilizar este conhecimento para melhorar a qualidade de nossas relações, é ter presente que depende de nós o mundo em que queremos viver. Se desejamos um mundo de paz e harmonia, este depende do esforço que cada um de nós esteja disposto a fazer.

É urgente que trabalhemos sobre nosso modo de sentir, de pensar e de atuar. É urgente que nos comprometamos com o AMOR. Tirar os véus, que obliteram nossa visão da realidade, exige de nós coragem e compromisso.

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