Comunidades de Cafh: quando a vida espiritual é a vida mesma

Comunidades de Cafh: quando a vida espiritual é a vida mesma

A vida nas metrópoles ou a agitada correria de nosso dia a dia parece incompatível com o recolhimento, com o silêncio e com a vida espiritual. Como lembrar-se do divino quando o congestionamento é monstruoso, as contas se avolumam e as relações parecem basear-se apenas em interesses?

É justamente neste contexto que se faz necessário um recolhimento, uma introspecção, uma volta ao nosso verdadeiro eu, para dele tirar forças e equilíbrio para enfrentar a vida.

Mas tudo isso não é tarefa fácil se consideramos que para cada pausa que damos em uma atividade, mais aumentamos a lista das pendências.

O mundo é cruel e deixar-se levar por ele, sem sentido, sem direção, é o que adoece as pessoas. Consideramos em nossa imensa ignorância que a vida é estritamente ligada ao mundo físico, ao nosso corpo, essa matéria que muitas vezes toma forma disformes para nos chamar a atenção.

Mas insistimos em só parar quando o coração tem seu primeiro falsete, quando o estresse atingiu níveis que só regridem com medicação, quando nossas artérias se entopem com a nossa displicência, quando o tempo que se foi não volta mais.

Então, como fazer vida espiritual em meio a tudo isto?

Como encontrar uma brecha em nossa agenda para incluir uma oração, uma respiração mais profunda, um olhar mais amoroso?

Segundo Santiago Bovisio, fundador de Cafh, “a vida espiritual não pode ser dita, nem explicada, nem objetivada: somente poderá ser captada e conhecida se for vivida, e somente poderá ser vivida por meio de uma comunhão do ser com ele mesmo.” Um dito popular já diz que viver é morrer um pouco a cada dia. Enfim, como viver de forma a dar sentido à vida?

A resposta não é fácil, nem tampouco simples. Mas se observarmos ao redor não são poucos os exemplos de pessoas equilibradas, senhoras de si, consequentes com os seus atos, responsáveis, amigas, disponíveis. Já sei, não conseguiu identificar muitas pessoas assim tão próximas? Fique feliz, significa que você ainda pode fazer muito por sua família, seus amigos, sua comunidade, seu trabalho, seu país.

Ser o exemplo é um primeiro passo para contagiar quem está à nossa volta, contaminar com o vírus do bem, sem grandes discursos ou argumentos. Afinal, não há pior inimigo do que nós mesmos e enfrentarmo-nos diariamente, com coragem, pode significar uma grande mudança em nossa vida, não para estarmos certos, mas para sermos felizes.

Buscando auxiliar o leitor em sua busca por momentos de harmonia e tranquilidade, enquanto o silêncio ainda não se faz constante em sua vida, esta edição dá exemplos de seres que conseguiram criar seus próprios momentos de contato com o divino, seja através da oração efetiva, seja através do trabalho consciente.

Escolher dedicar a vida ao desenvolvimento interior não é sinônimo de isolamento. Pelo contrário, é justamente no aprimoramento das relações, ouvindo os outros e corrigindo rotas em nossa personalidade que conseguiremos progredir em direção a uma plena vida espiritual.
A vida em comunidade não é sinônimo de isolamento.

Num primeiro momento, podemos achar que o único jeito de santificar o dia ou desenvolver uma vida espiritual plena seja a reclusão a alguma igreja, ordem esotérica, comunidade nômade, grupo alternativo. Enfim, algum tipo de fuga da vida comum, longe de trânsito, família, shopping, contas, escritório, carreira, estudos, longe de tudo que tira nossa concentração e nosso desejo de encontro com o divino.

Ledo engano. Não são poucas as confissões de santos ou grandes seres que se diziam atormentados pela vida solitária de convivência com seu próprio eu. Santo Agostinho, em suas famosas Confissões, foi prolixo em apontar as desventuras de conviver consigo próprio, com seus deslizes, com suas fraquezas, com seu ego.

Se eles, que tinham vocação, não conseguiam encontrar o silêncio interior, que diremos nós?

Em muitos grupos religiosos e espirituais ao redor do mundo, existem pessoas que elegem viver em comunidades.

Em Cafh existem Comunidades onde grupos de homens ou mulheres vivem e compartilham um ideal, esforçando-se para viver uma vida dedicada ao amor a Deus e à humanidade através da renúncia e do espírito de serviço. Os membros dessas Comunidades se mantêm com trabalhos que incluem a direção de escolas, fábricas, panificadoras, e outras atividades que contribuem para as necessidades do meio onde vivem. Através de uma vida de oração, estudo e trabalho, os membros se esforçam para viver juntos em harmonia, oferendando os frutos de suas experiências para o bem de todos.

Mas afinal o que são comunidades? Nossa sociedade convive com todos os tipos de reuniões de pessoas: as comunidades de base, as terapêuticas, as quilombolas, as agrícolas, as comunidades indígenas, as estudantis, as alternativas… Entretanto, quanto se fala sobre comunidades espirituais?

Em qualquer de suas vertentes, as comunidades são grupos de pessoas que buscam melhorar a qualidade de seu meio ambiente físico e a vida social, cultural e econômica, assumindo um papel ativo na solução de problemas e no bem-estar de todos e de cada um. Ora, se retirar-se do mundo para experimentar em si o verdadeiro sentido do amor e da participação é o que move as pessoas em direção aos grupos reclusos, é óbvio que precisam fazer prática deste amor, procurando conviver de forma harmônica, desinteressada, coerente e feliz.

Já na década de 90 o estudioso Stewart Pretto dizia que as comunidades são “aprendentes”, ou seja, são compostas de pessoas que têm compromisso de gerar conhecimento entre si e geri-lo para benefício dos que virão na própria comunidade ou que terão contato com ela.

Certo, mas onde está a vida espiritual se mantivermos a mesma postura do mundo exterior convivendo em relação com um grupo específico? Para os membros de uma Comunidade de Cafh, o segredo está no respeito e no compromisso de oferenda.

Rose de Almeida

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