Experimentando a desolação

“O desenvolvimento espiritual se dá por etapas. Requer paciência, perseverança e compromisso. Cada vez que percebemos uma nova realidade, esta é incorporada à nossa consciência, expandindo-a.”

Através da viagem interior realizada com o tema Descerrando o Véu Negro*, descobrimos uma nova

realidade. Como, na meditação discursiva, somos interlocutores de nós mesmos, nos dividimos em duas partes: uma parte que vive a situação e outra, que observa. A que observa já compreende que muitas das manifestações expressadas, ou muitas das formas como nos relacionamos com elas, são aspectos que, sem saber como, adotamos, passando a acreditar que somos isso.

Apesar de haver percebido que posso me liberar dos aspectos que limitam e de haver me comprometido a trabalhar para isto, percebo que, por muito tempo, prevalece a tendência de repetir o já conhecido. Muitas vezes, esta repetição dá a sensação de estarmos voltando ao passado,

de estarmos regredindo em nosso processo de desenvolvimento. Compreendemos que um abismo ainda nos separa do nosso ideal.

Na meditação discursiva, chamamos a este estado de Desolação. Se nos acomodamos, podemos transformá-lo em desânimo ou falta de confiança em nosso potencial de desenvolvimento; tentemos aceitá-lo e transformá-lo em possibilidade. Se encaramos assim e seguimos nosso trabalho em busca do autoconhecimento, compreenderemos que não é possível ignorar a nova realidade, que o que acreditávamos saber sobre nós mesmos deve ser revisado, e assim não fugiremos desse estado.

Mergulhado nele, reconheço o abismo que existe entre a ignorância e a consciência do meu atuar, e que, por mais profundo que seja este abismo, posso tomar como referência a plenitude dos momentos de consciência. Esta força é a que pode me levar a cortar o laço instintivo que me une à repetição sem fim das mesmas experiências.

Para meditar sobre o tema do abismo posso, por exemplo, na Invocação, perguntar-me porque repito experiências que imaginava já haver transcendido; desenvolvo a Invocação descrevendo como se manifesta esta repetição. Na Resposta conscientizo-me de que estou ainda no início da caminhada, que necessito continuar me observando atentamente e procurando mecanismos que me ajudem a tomar consciência.

Ao finalizar o exercício, é bom permanecer mais um tempo desfrutando o estado em que mergulhei durante o exercício.

A etapa mais difícil do trabalho de nos conhecermos é decidir iniciar a caminhada. Uma vez iniciada, sabemos que já não podemos voltar atrás. É assim que nos perguntamos muitas vezes: como não percebíamos tal coisa? Porém, perceber não significa transcender.

Continuo analisando o que me leva à repetição sem fim das experiências, porém já conhecendo todo meu potencial para me liberar. Este é um estímulo, saber que sou capaz; e, saber isto, me faz ver que posso chegar à outra margem do rio.

Reconhecer as dificuldades para me liberar e respeitar as etapas do processo de autoconhecimento me aproxima de mim mesmo e me faz tolerante e amoroso com as limitações dos outros.

Por mais escuro e profundo que seja o abismo, sempre vislumbramos a luz das alturas.

A fé no Divino, a esperança de liberdade e o amor que surge da experiência leva à certeza de que o caminho continua rumo ao cume, e que, por mais difícil que seja, se nos concentrarmos no rastro luminoso já vislumbrado, chegaremos lá.
*ver Revista Cafh edição no 4.

Domingas Covre Loss

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