O perdão

Paulo Nogueira

Com maior ou menor nível de consciência, ou até mesmo inconscientes, os sentimentos de culpa que carregamos desde épocas imemoriais, próprias ou atribuídas a terceiros, influem decisivamente em nossa vida e felicidade.

Trastes nocivos, sem razão de ser, turvam a capacidade de cada um de nós de desfrutar

plenamente da maravilha da Criação, já que nos impõem mágoas, angústia e autopunição, mais ou menos percebidas como tais.

Dos eventos passados são preciosas as experiências. Cada uma acrescenta um tijolinho na construção do caminho espiritual. No entanto, as culpas que deles possam resultar são nocivas à saúde emocional.

A prática do perdão torna-se ferramenta adequada e eficaz para nos despojar das indesejadas cargas e nos tornar destemidos, livres das circunstâncias e do passado. Porém, precisamos bem compreender suas características e aplicabilidade.

O perdão é um processo que se realiza no ser, segundo a própria vontade, em níveis físico, emocional, mental e, certamente, espiritual. Na maioria das vezes não se processa instantaneamente, como costumamos acreditar, mas por etapas, progressivamente, até que possamos perceber que nos livramos daquele peso. O perdão é ato unilateral e não depende de comunicar ao ente perdoado. O maior beneficiário do perdão é quem perdoa. É um modo e uma atitude de vida.

Existem diversas técnicas objetivas para a prática do perdão. Elas buscam o reconhecimento e a conscientização dos sentimentos de raiva, mágoa ou ressentimento, identificar tais emoções e em seguida empregar artifício que permita mobilizar as energias nocivas acumuladas para eliminá-las.

Como foi colocado acima, o perdão é um processo progressivo e evolutivo e por esta razão precisamos praticá-lo várias vezes.

A técnica a seguir é bem simples e eficaz, baseada no trabalho de Sondra Ray*. Está dividida em quatro módulos. Repete-se o mesmo caminho a cada dia, em períodos de até cinquenta minutos, durante uns três ou quatro dias para cada etapa, rememorando apenas os temas ainda não considerados resolvidos. O exercício transporta as pessoas a patamares inéditos de integração, alegria e paz.

Em cada seção, entramos em estado de meditação, sentados confortavelmente em lugar tranquilo em que não possamos ser incomodados, com a coluna vertebral ereta. Olhos semicerrados, respiramos algumas vezes, profundamente, buscando grande relaxamento corporal. Passamos a rememorar as culpas e mágoas, que se apresentam de acordo com o tema do dia, uma a uma. Não devemos nos entregar às emoções que elas contêm, mas perceber que o fato é passado e delas já assumimos todas as consequências. Reconhecemos que as mágoas não mudarão mais o curso da vida e que apenas restaram cargas que de nada servem e ainda atrapalham. Mentalmente, isolamos cada questão em nosso interior, como se fosse uma bola, e com a força da mente a transportamos pelo corpo, braço, mão, que, munida de uma caneta, a deposita no papel na forma de uma frase: eu perdoo inteiramente…

Estes pontinhos são completados apenas com uma expressão característica de cada uma das quatro etapas: 1- o meu pai, 2 – a minha mãe, 3 – a mim mesmo, 4 – a Deus. Ou seja, escrevemos diversas vezes a mesma frase (ainda que, nos casos 1 e 2, estejamos pensando em outra pessoa) com o sentimento e a atitude de colocar no papel aquela culpa ou mágoa ora considerada. Quando acharmos que esgotamos as questões a serem abordadas, respiramos profundamente algumas vezes, movimentamos os membros e espreguiçamos. Dirigimo-nos a um local aberto e queimamos o papel e, junto com ele, as angústias ali depositadas. Respiramos profundamente e nos sentimos livres e felizes. Quanto mais consciência e significado dermos ao ato, maior o efeito saneador da prática.

Na primeira etapa (3 a 4 dias) do exercício perdoamos o nosso pai e a todos os homens que passaram por nossa vida e nos deixaram mágoas.

Na segunda etapa a nossa mãe e todas as mulheres.

Na terceira etapa as mágoas que guardamos de nós mesmos. Pelas ações, atitudes e decisões ou indecisões que hoje consideramos equivocadas, mas que, na época, foram as que tivemos condições de tomar.

Na quarta etapa perdoamos a Deus. As pessoas podem se espantar com tal atrevimento. Porém, se pensarmos um pouco, a vida humana é dramática. Até inconscientemente culpamos a Deus pelos percalços por que passamos. Não obstante compreendamos as funções de causa e efeito em nossas vidas, o caráter educativo e as perspectivas de evolução com as experiências vividas, bem como a transcendência da vida. O perdão a Deus nos livra de enormes cargas, inclusive aquelas decorrentes do natural medo da morte. A liberação destas cargas nos aproxima, nos torna íntimos de Deus.

Cumprir com boa prática o exercício do perdão transforma e pode ensejar tranquilidade jamais experimentada. Concede plenitude no sentimento e sensação de pertença à Comunidade dos Seres, ao Universo e a Deus, essências da Mística do Coração, tão sabiamente ensinada por CAFH.
*Sobre Sondra Ray: www.sondraray.com

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