Bondade originária

Cristina Woolf de Oliveira

Remover gradualmente os condicionamentos que ocultam a nossa bondade inata é o que nos oferece Eknath Easwaran, através de um método simples de meditação, praticado por ele mesmo durante mais de 30 anos.

Escritor e professor de literatura inglesa na Índia, Easwaran decidiu ir para os

EUA com uma bolsa de estudos da Fundação Fullbright. Lá se estabeleceu, vindo a escrever vários livros sobre suas descobertas e realizações espirituais, e fundando um prestigiado centro de meditação. Seu método de meditação é baseado no amor, na compaixão e no destemor, sentimentos latentes em cada um de nós, mas que precisam ser descobertos. Esses sentimentos formam a essência da chamada centelha divina, ou Bondade Originária, que está oculta em nós, e que, segundo Eknath, energiza nossas vidas, tornando realidade nossos ideais espirituais. No misticismo indiano, esse centro divino é chamado de “atman”, si mesmo.

A verdade, diz o autor, é que caminhamos completamente distraídos e ignorantes do núcleo de bondade em nossos corações, ou, como dizem os místicos, do vestígio de nossa divindade original.

Muitos de nós sentem-se como se estivessem em uma encruzilhada. Somos hoje obrigados a nos defrontarmos com questões que antes pertenciam ao meio filosófico, sem que consigamos encontrar respostas que nos satisfaçam e confortem, tais como: “para que serve a vida?”, “por que estou aqui?”, “sou mais do que este corpo?”.

Easwaran, um indiano imerso em uma sociedade altamente consumista como a norte-americana, nos chama a atenção para o círculo vicioso que o progresso material nos conduz. O chamado “ciclo carnavalesco” de fazer coisas, comprá-las, vendê-las, colecioná-las, consertá-las, livrar-se delas, não é a meta da vida, diz Eknath. Somente a satisfação espiritual pode preencher o vácuo em nossos corações.

Meditação, diz Eknath, não é uma técnica de relaxamento. Ela pode até aliviar as tensões do dia, mas, de modo geral, meditação dá trabalho. Meditação é simples, mas está longe de ser fácil, ensina o mestre indiano.

Imaginemos um método que treinasse nossa mente de modo a fazer com que nossos pensamentos fossem para onde os mandássemos, e fizéssemos com que eles nos obedecessem enquanto lá estivessem… Este é o começo do treino, o início do caminho para onde a meditação pode nos conduzir. A vida espiritual é uma batalha que os místicos chamam de guerra interna.

A meditação é uma ferramenta que nos permite manter a mente funcionando em um rumo estável em todas as circunstâncias, protegendo-nos assim do impacto fisiológico de emoções negativas. Ao transformarmos estados negativos da mente em positivos, a meditação enche-nos de vitalidade e estende um escudo protetor contra o estresse da vida.

É interessante notar que algo há muito tempo descrito pelos místicos, atualmente é defendido até pela ciência: a imunidade emocional aos estados negativos da mente está ligada à imunidade física e, até mesmo, à resistência a doenças.

Somos apresentados neste livro à série de oito versos do Sermão da Montanha, as Bem-aventuranças, narradas pelo apóstolo Mateus. Eknath as chama de estratégias, que podem ser utilizadas para se enfrentar “a nossa batalha interna por um supremo propósito evolutivo”.

São elas a pureza, a humildade, a simplicidade, a paciência, o amor, a misericórdia, a pacificação e o desejo, descritas pelo autor com o auxílio de exemplos simples e ilustrativos de sua própria vida, como sua infância na Índia, como professor de literatura em uma universidade indiana, como palestrante sobre meditação nos EUA etc.

Além dessas “estratégias”, Eknath nos recomenda ler as Bem- Aventuranças com o pensamento voltado para a figura de Jesus entrando em nosso mundo de sonhos, e mostrando-nos como podemos despertar e passar do sonho para uma realidade mais elevada, o reino dos céus aqui na Terra.

O ponto de partida da religião é o treino de nossa mente, e o propósito da meditação é criar um centro dentro de nós mesmos para onde possamos nos retirar, e onde nada consiga nos abalar.

Nosso intelecto, uma característica de nossa mente, é tão útil para tomar decisões em níveis mais superficiais, mas simplesmente não consegue funcionar no nível mais profundo de nossos desejos, explica Eknath. Tudo o que pode fazer é racionalizar as ações que fomos forçados a tomar, arrastados por nossos desejos inconscientes e poderosos, muitas vezes muito mais fortes do que nós.

É estimulante saber que não existe limite até onde a mente humana pode ser treinada. Por exemplo, ao escolhermos o alimento que ingerimos, começamos a fazer escolhas também quanto à nossa mente. Nosso corpo funciona de acordo com o que comemos, portanto, está é a primeira razão por que devemos ser tão cuidadosos com o que colocamos para dentro dele. Nossa mente funciona da mesma forma: se colocarmos dentro raiva, egoísmo, ressentimento, nossa mente perderá seu equilíbrio e elasticidade, assim como nosso corpo sofrerá revezes com uma dieta contínua de má qualidade.

Ao pensarmos sempre nos outros, e não somente em nós mesmos, poupamos energia pessoal, nos revitalizamos. Quando estamos concentrados apenas em nós mesmos, agitamos nossa mente com excitação, com desejos, ansiedade, competição e desapontamento. Isso leva ao desperdício de energia.

Todos nós ansiamos por alcançar a imensa riqueza do mundo interior; todos nós queremos amar e ser amados, mas o mestre nos adverte de que isto só será possível quando conseguirmos remover todo o ciúme, cobiça e ressentimento de nossos corações, através da meditação, e encontrarmos o puro amor, quando então penetraremos no mundo interior.

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