Egoência ou egoência. E rápido!

Sérgio Covas

Trabalhar intensamente pelo nosso desenvolvimento espiritual é uma decisão que muitas vezes recai no rol daqueles votos que anunciamos no fim de um ano:

“Ah, no ano que vem, tudo vai mudar! Vou meditar mais assiduamente, vou me matricular num curso de violão, vou fazer uma dieta rigorosa etc…”. Mas o Ano Novo chega, a nossa determinação arrefece, os votos ficam relegados a uma segunda prioridade.

Na prática, não foi possível vencer o hábito, nossa força de vontade não foi suficiente para “encontrar tempo”, para as mudanças racionalmente desejadas. E como não fomos capazes de mover a alavanca sozinhos, ficamos a mercê de que “algo de fora” aconteça, ou venha em nosso auxílio, para que esse propósito inicial se instale.

Se refletirmos sobre essa desajeitada rotina que nos impomos, talvez identifiquemos, como um dos fatores que mais fortemente contribui para isto, a dificuldade de reconhecermos nossa verdadeira força, a capacidade que temos como indivíduos de dar a partida em grandes transformações… nós, somente nós. Se o propósito dessa transformação for meritório, se seu beneficio visar o conjunto, haveremos, em seguida, de ter o auxílio necessário. Mas a partida deve ser nossa.

Os ideais de justiça, igualdade, fraternidade e participação, onde deságua mais palpavelmente o ideal espiritual maior que nos move, já foram objeto de inúmeros sistemas políticos e econômicos, experimentados por diversas sociedades, nos séculos XIX e XX. E, apesar disso, a humanidade ainda não encerrou sua busca pelo formato ideal, e está longe de se alinhar quanto ao rumo a seguir.

Antes de prosseguir nesse tópico, gostaria de lhes contar uma pequena história ilustrativa das reflexões que pretendo compartilhar.

— Numa universidade, durante a aula de Economia, os estudantes debatiam acaloradamente com o professor. Os estudantes defendiam que o Socialismo era bom, funcionava bem e que era a melhor forma de governo, pois nele inexistiam as terríveis diferenças de classes sociais, nem havia as noções de pobreza e riqueza, uma vez que TODOS eram iguais:

“A produção, se gerasse riqueza, seria repartida equitativamente entre todos, para o benefício comum”, diziam os estudantes.

O professor, que escutava com atenção, resolveu então fazer uma experiência com a turma, e propôs um plano:

“Muito bem. De agora em diante faremos o seguinte: as notas obtidas por cada um de vocês, em suas respectivas provas, serão somadas e repartidas entre todos os alunos. Assim, cada um obterá o resultado do estudo e do esforço comum”.

Ainda que muitos dos estudantes não entendessem bem a proposta, aqueles que estavam mais atrasados em seus estudos, e que eram em maior número, aceitaram de imediato.

Ao terminar a correção de todas as provas do primeiro teste, viu-se que as notas somadas e divididas alcançavam a média de 7,8. Como é natural, os estudantes que não tinham se preparado bem para o teste ficaram felizes. Afinal, obter mais sem fazer grandes esforços… Excelente ideia! Enquanto os que haviam estudado bastante ficaram inconformados.

Quando realizaram o segundo teste, os estudantes que pouco haviam estudado no primeiro, estudaram menos ainda; os que haviam estudado muito, decidiram não se empenhar tanto, pois não iriam mesmo obter um grau 10,0.

Por que então dormir pouco, deixar de sair com a namorada, se este esforço não seria reconhecido?

A média do segundo teste que coube a cada um foi 6,5! Mas, quando terminaram o terceiro teste, foi a gota d’água: a média foi 4,0. TODOS ficaram ameaçados de reprovação, caso o rendimento não se elevasse no bimestre final.

Os estudantes começaram a brigar entre si, culpando uns aos outros pelo fracasso, até chegarem ao nível de ressentimento, com insultos e agressões. Afinal, ninguém mais estava disposto a estudar, para que os outros se beneficiassem. Com esse estado de ânimo, ocorreu o esperado. As notas não melhoraram no último bimestre e TODOS ficaram em recuperação na matéria de Economia.

O professor perguntou então se todos tinham consciência agora do significado prático do “Socialismo”, em que tudo é de todos, mas de ninguém em particular.

Retomando nossas considerações, os sistemas políticos e econômicos aperfeiçoados que filósofos excepcionais possam conceber, e governos possam patrocinar, não terão um resultado positivo se TODOS não o adotarem livre e conscientemente.

Não é possível, e a história demonstra que nunca foi, “forçar” essa transformação de fora para dentro, ou de cima para baixo. Isso demonstra que a revolução que o mundo precisa não poderá ser imposta à força, por governos ou quaisquer outros tipos de entidades. Ela terá de ocorrer de baixo para cima, de dentro dos indivíduos para fora, até abarcar toda a humanidade.

Na historinha relatada, avalio que uma grande parte das pessoas (eu, inclusive) tenha reagido criticamente à ideia do Socialismo em questão e, realmente, para o estado de consciência atual da maioria da sociedade, isso é compreensível. Mas acho prematuro jogar na lixeira esse conjunto de ideias, assim como de qualquer outro sistema político, que espelhem indiretamente os nossos ideais espirituais.

Imaginem a mesma história, em que o estado de consciência dos alunos já estivesse num ponto no qual a “Lei do Gerson” não mais existisse, em que cada um entendesse a sua responsabilidade individual de aperfeiçoamento e visse na oportunidade de estudar em conjunto não só uma forma de comparar conhecimentos, mas também de alavancá-los até a excelência! A noção de bem estar do grupo vindo em primeiro lugar!

Certamente TODOS seriam aprovados e o comentário final do professor se limitaria a uma admissão de que “tudo é de todos…”.

A diferença entre os dois finais dessa historinha é o estado de consciência denominado EGOÊNCIA; o alvo para onde estamos direcionando todo o nosso esforço de desenvolvimento, empreendido através de orações, atenção, participação e amor.

E é esse esforço individual a que se somará, para realizar as grandes transformações que os sistemas políticos ou econômicos não foram capazes de fazer, para o bem e o amor da humanidade.

Porém, temos de trabalhar, de acelerar o passo, de redobrar os esforços. O mundo está diante de imensos desafios, que necessitam de respostas conscientes de TODOS.

Não se trata apenas de velhas questões de hegemonia militar, de soberania de territórios, que sempre nos rondaram e que dependem primordialmente de ações de governo.

Temos agora questões mais sutis, que ameaçam o meio ambiente a ponto de não se garantir água e alimentação satisfatória para todos os habitantes da Terra. Somos atualmente 6,4 bilhões de seres humanos demandando do planeta recursos para uma existência digna.

Dadas as disparidades de renda entre os países, estima-se que 1/10 da população consuma mais da metade dos recursos.

Como os recursos estão bastante limitados pela desertificação crescente de áreas agricultáveis, o baixo estoque de terras para essa finalidade e pela poluição acelerada da água potável (fora da Antártida), tornando-a imprópria para o consumo humano, a simples tentativa de se estender aos restantes 9/10 da população condições aproximadas às dos mais ricos esbarra numa total impossibilidade.

O desenvolvimento científico tem proporcionado algumas respostas. A agricultura vem conseguindo aumentar a produtividade por área plantada através de novas técnicas, mas os fenômenos climáticos vêm apresentando características mais agudas e negativas, contrapondo-se aos avanços.

Independentemente da polêmica sobre o aquecimento global, a poluição produzida pelo homem, por conta de hábitos de consumo questionáveis, está afetando a capacidade atual de produção de alimentos e materiais.

O problema se agravará sensivelmente do ponto de vista demográfico, nos próximos 40 anos.

A população em 2050 está estimada em 9,2 bilhões, sendo este crescimento principalmente
devido aos países pobres (Índia, Paquistão, Nigéria, Bangladesh, Etiópia e Congo).

As respostas que o mundo necessita dar a essa questão requerem um grau de consciência diferente, e melhor, de cada um de nós… e já!

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