O desenvolvimento da egoência

Paulo Nogueira

Importante perspectiva de abordagem do conceito de CAFH da egoência do ser diz respeito à aceitação amorosa das pessoas, respeitando as peculiaridades de cada uma. Preconiza-se postura de compreensão e auxílio com relação às atitudes que venham a nos desagradar, naturalmente resguardando-nos de eventuais ações intromissoras ou agressivas que possam nos prejudicar.

Ao longo dos anos, desenvolvemos o hábito da crítica às atitudes ou mesmo à mentalidade das pessoas que estejam em conflito com nossas ideias, conceitos e condutas ou ainda, venham a prejudicar nossos interesses.

Existe mais do que uma crença, até mesmo estudos experimentais, que nos mostram os efeitos prejudiciais das emoções e palavras ocasionados pela postura crítica, seja em relação àqueles a quem são dirigidas, seja em relação ao próprio gerador de maledicências, murmúrios, insinuações etc. Tais hábitos de criticar foram tema de uma ensinança de Cafh no curso ministrado neste ano de 2009 com o título de “O Que Dirão”. Aí encontramos sábias conceituações que nos levam a perceber a iniquidade do hábito de criticar e que “a atitude de sacrifício (sacro ofício) em relação à crítica e à murmuração se expressa, por um lado, em não cair na prática habitual de julgar e censurar e, por outro lado, em prosseguir sem vacilações rumo aos objetivos maiores da vida, aceitando o julgamento alheio como uma realidade que não podemos mudar”.

Uma leitura apressada do texto pode nos conduzir ao equívoco de buscar, literalmente, fechar a boca, acreditando colocar bem em prática tão preciosos conhecimentos. No entanto, a “vozinha” interior, mesmo que sem palavras pode, insistente, continuar a ser ouvida. Sabemos por elementares princípios da Psicologia que a repressão das emoções nos causa danos, não só a nível das próprias emoções como também fisicamente.

O QUE FAZER ENTÃO?

Eu vinha buscando resposta para a questão até que, há algum tempo, participei de uma reunião em nosso caminho cujo tema foi o silêncio, em seus diversos aspectos, em especial o silêncio interior como condição de ampliação do estado de consciência. Foi abordada pelos presentes, com bastante propriedade, a capacidade de gerarmos bom nível de silêncio interior, seja para criar condições adequadas ao processo de meditação, seja para ouvir os demais. Após a reunião, veio-
me a ideia da possibilidade de, em lugar de tentar reprimir os murmúrios interiores, experimentar a ação sutil de, mental e emocionalmente, substituir as vozes e murmúrios interiores pelo silêncio. Não pensar, não racionalizar, não avaliar, simplesmente fazer interiormente o que fazia exteriormente, silenciar e apenas agir em face das situações objetivas.
A minha experiência com tal prática foi muito animadora, já que, ao silenciar, eu ganhava em paz interior. Um expressivo sentimento de tranquilidade instaurou-se e, uma vez livre dos murmúrios, percebi que os espaços se abriam para visão mais clara das conjunturas e dos caminhos alternativos para as questões objetivas. Até a imagem das pessoas, objetos das restrições, tornaram-se mais leves.

PRATICANDO O SILÊNCIO INTERIOR

Inicialmente pareceu-me que a prática seria muito simples. No entanto, o hábito da censura instalado por muitos anos é persistente e em situações que mobilizam um pouco mais, ou mesmo com o passar do tempo, ocorria o relaxamento da prática e a volta aos velhos hábitos. Eu compreendi que seriam necessários alguns artifícios para manter vivo o novo hábito e até mesmo vencer situações de maior solicitação.

Casualmente, estava lendo o livro: “A Armadilha da Autoestima”, da psicóloga e psicanalista junguiana Polly Young-Eisendrath. Ela aperfeiçoou alguns princípios práticos a serem desenvolvidos pelas pessoas que buscam equilíbrio para a vida emocional. São princípios comuns a diversas religiões, logicamente ordenados. Tais princípios percebi que seriam também adequados ao uso com a finalidade de alcançar o silêncio interior e, de especial valia, quando as comoções fossem de maior expressão.

A prática consiste em compreender e verificar a própria aceitação de cada conceito e periodicamente voltar a eles, em um processo de renovação e enriquecimento.

PRINCÍPIOS PRÁTICOS PARA OS QUE BUSCAM DESENVOLVER O EQUILÍBRIO NA VIDA EMOCIONAL

1 – GENEROSIDADE

“É a prática de pensar nos outros, tê-los em mente e doar-se a eles”. “Nos momentos de conflitos ou de sentimentos negativos, dar um passo atrás para refletir. Perguntar se o que está prestes a dizer é: verdadeiro? – gentil? – necessário?”.

Lembrar que também somos falhos e na peregrinação pela vida buscamos aperfeiçoamento. A generosidade supõe o perdão. Perdoar aqueles que nos aborrecem, perdoar a nós mesmos e até a Deus (veja a revista CAFH no 5). É inato o impulso básico de nos doarmos às pessoas e, à medida em que praticamos o silêncio, ele se manifesta.

2 – DISCIPLINA

“Construída a partir da generosidade, porque em nossos esforços para sermos generosos devemos nos tornar responsáveis e confiáveis”. É o engajamento ao método e aos objetivos traçados.

3 – PACIÊNCIA

Dar o tempo que for necessário para que os frutos do método apareçam.

4 – PERSEVERANÇA

“É o esforço sólido e assíduo”. “A perseverança é um tipo de músculo mental que desenvolvemos quando fazemos as coisas bem feitas e de maneiras apropriadas”.

5 – CONCENTRAÇÃO

“É a consciência atenta que usamos para fazer o que quer que esteja diante de nós, estando vigilantes e relaxados”.

6 – SABEDORIA

“Resiliência (resistência aos impactos das adversidades) ao enfrentar descontentamento, dor e dificuldades, aceitando-os como companhias comuns, parece formar as raízes da sabedoria”.

Obs. Os trechos entre aspas foram extraídos do livro “A Armadilha da Autoestima” da psicóloga e psicanalista junguiana Polly Young-Eisendrath. Observe que cada princípio enunciado fortalece o que vem a seguir.

CONCLUSÃO

Silenciar a crítica e o murmúrio interior é um extraordinário ganho em qualidade de vida.

O silêncio, no entanto, se faz em decorrência da superação dos mecanismos de imputação de culpas. Faz-se presente com o desenvolvimento, no mais íntimo do ser, do amor e do perdão.

O uso assim recente dos artifícios acima expostos tem me trazido animadores resultados na busca da paz interior e, àqueles que se propuserem a experimentá-los, ao seu tempo, muito apreciaria as observações para o meu e-mail.

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