O uso sábio dos recursos disponíveis

José Luis Kutscherauer

Dia mundial de alimentação. Fazer um uso sábio dos recursos disponíveis. Discurso do Sr. José Luis Kutscherauer, Diretor Espiritual Mundial de Cafh, em Cenada

– Heredia, Costa Rica, em cerimônia da FAO/ONU, no dia 16 de outubro de 2009.

“É uma honra para mim representar a “El Angel” neste evento e receber, em nome de seus sócios e colaboradores, a premiação que nos foi concedida. Diante de uma instituição com a importância da FAO – Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, nosso trabalho parece ínfimo, mas nossa firme convicção é: fazer de cada um de nós, em seu lugar na sociedade, o melhor esforço para plasmar em si mesmo e no seu entorno o que anseia para o mundo.

Chegamos ao país em 1977 e encontramos um povo maravilhoso que tinha a ousadia de construir um destino de paz, naqueles aziagos anos para a América Latina e para o mundo.

Encontramo-nos com um pequeno grupo de costarriquenses que nos receberam de braços abertos em Cinchona, então um minúsculo povoado composto de umas seis famílias.

Impressionados pela impactante beleza da paisagem, especialmente do seu bosque enevoado, ficamos encantados com a Costa Rica e a sua gente, com seus recursos naturais e com o que consideramos seu principal recurso: o espírito pacífico mas ousado de cada um de seus habitantes. Pois, ali, nos demos conta de que, deste pequeno rincão do mundo, poderia se tornar evidente uma nova possibilidade para a humanidade caminhar com passos certeiros em direção à construção da paz e de uma sociedade melhor para todos.

Nós, os sócios do grupo “El Angel”, somos pessoas de paz, de trabalho e amantes de uma vida despojada e comprometida com o nosso entorno. Praticamos o método de vida de Cafh, um caminho de desenvolvimento espiritual que se assenta em princípios simples e práticos: Deus é o princípio fundamental do Universo. Nós, seres humanos, temos direito à liberdade de pensar, sentir e decidir sobre nossa vida sem a interferência de outros. Esse direito à liberdade implica em responsabilidade no seu exercício.

O desenvolvimento da responsabilidade faz com que o exercício da liberdade dê frutos de paz e felicidade. A responsabilidade se desenvolve expandindo a própria consciência com uma compreensão cada vez mais universal do mundo e da vida.

Todos nós, seres humanos, contamos com o livre arbítrio que nos abre possibilidades inusitadas. Cremos que contamos com dois bens básicos que nos permitem gerar um processo positivo para o desenvolvimento da sociedade: por um lado, o estado de consciência, que nos proporciona o grau de sabedoria que guia nossas escolhas, juízos e ações. Por outro, os recursos, isto é, os bens materiais, mentais e espirituais de que todos dispomos para viver e nos desenvolver e que constituem o capital que possumos para levar a cabo o que o nosso estado de consciência nos dita a fazer, pensar ou sentir.

É aqui, no campo dos recursos, que manejamos, em Cafh, o conceito de Economia Providencial. Este conceito é o que nós, como sócios, procuramos aplicar nas ações que realizamos nas empresas do grupo “El Angel”.

A Economia Providencial significa, para nós, o uso sábio dos recursos disponíveis – tanto o caudal pessoal como o social – para o bem e adiantamento próprio e de todos os seres humanos.

Dizemos economia, porque se trata da produção, conservação e multiplicação de recursos necessários e úteis ao desenvolvimento de todo ser humano. Dizemos providencial, no sentido de que provê o que necessitamos, nós e os demais seres, para lograr o objetivo desejado: nesse caso, a plena realização das mais elevadas possibilidades da vida sobre a terra.

A Economia Providencial incursiona em três campos:

• O uso dos recursos disponíveis;
• A reserva ou poupança desses recursos;
• A multiplicação do caudal de recursos.

Este conceito, para ser posto em prática, pressupõe alguns requisitos básicos:

• O sentido de posse se atenua com o sentido de participação;
• O sentido de direito a usufruir de recursos se modera com o sentido de responsabilidade no uso dos bens sociais e pessoais;
• O uso e a exploração dos bens que pertencem à Terra hão de contemplar as necessidades sociais e de uso e conservação desses bens;
• Os bens pessoais são próprios, no marco de referência do bem comum.

Em nossa perspectiva, há múltiplos caminhos para aliviar a fome do mundo, quando aprendemos a enfocar o nosso fazer de maneira participativa e inclusiva.

Organizações como a FAO que proporciona recursos para que as pessoas e países ajudem a si mesmos; que luta por melhorar a nutrição, aumentar a produtividade agrícola, elevar o nível de vida da população rural e contribuir para o crescimento da economia mundial, é um desses importantes caminhos.

Porém, nem a FAO, nem nenhuma outra instituição pode fazer o que a vontade pessoal voltada para o bem comum pode.

Fazemos parte de um percentual minoritário da humanidade que teve a graça de ser abençoado com uma família que nos cuidasse e formasse, com alimento adequado para desenvolver todas as nossas faculdades, com educação, com um espaço vital para crescer em uma moradia digna, com liberdade de pensamento e de ação.

Se este grupo privilegiado de seres humanos, esteja onde estiver, abrir as mãos para devolver à sociedade algo do muito que recebeu dela, sem dúvida alguma, iremos dando forma ao sonho de uma sociedade mais justa e equitativa. Este sonho está ao alcance de nossas mãos e de nossa vontade.

Ao tomar consciência da relação que estabelecemos com nossas necessidades e com os bens, fruto de nosso trabalho, podemos aperfeiçoar nosso sentido de responsabilidade social. É, para nós, indispensável levar em conta que nossa felicidade é incompleta sem a felicidade de todos.

Em cada um de nós há uma fonte permanente de bens de toda classe. Este dom da vida permanece e se multiplica, quando evitamos dirigir nossa vontade somente para satisfazer nossos desejos pessoais, sem levar em consideração as necessidades dos demais. Pensamos que é responsabilidade de cada ser humano deixar esta marca de responsabilidade social como um bem para a humanidade.

Nossa proposta, como já mencionamos anteriormente, é viver em nós o que desejamos para todos os seres humanos. Com este espírito, nos animamos a pensar mais além da realidade que hoje vivemos neste nosso mundo sofredor.

Em um mundo onde o denominador comum é buscar uunicamente o benefício próprio, focamos nosso trabalho para que impacte positivamente o meio em que vivemos.
Em um mundo dividido onde se luta pela predominância das próprias ideias, escolhemos o caminho mais amplo de aceitar a diversidade na qual cabem todas as maneiras de sentir e de pensar.

Em um mundo onde predomina a atitude de pedir aos outros que mudem, decidimos realizar nosso trabalho em paz e harmonia com o entorno.

Em um mundo onde a violência é a forma mais comum de resolver conflitos e diferenças, preferimos o trabalho silencioso em nós mesmos, porque consideramos que esta é a maneira mais simples de nos orientarmos em direção à construção de uma realidade acorde aos nossos sonhos.

Com a graça divina e o esforço humano, o caminho para uma sociedade mais harmônica, mais pacífica e mais justa não é um sonho a mais, uma utopia, mas uma realidade que podemos construir. Muito obrigado.”

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