Reflexões sobre o devenir e o método

Em Cafh, uma das técnicas de Meditação que exercitamos é denominada Meditação Afetiva, cuja técnica envolve 7 temas e os seus respectivos efeitos. A seguir é descrita uma experiência com o tema O Estandarte, cujo efeito é a Eleição. Este texto foi escrito a várias mãos, num grupo de membros de Cafh que participam de reuniões juntos há muitos anos. No final do texto, constam seus nomes e a oração que fizeram.

Outro dia, em nosso grupo, ao final de uma meditação afetiva coletiva sobre o tema O Estandarte, efeito Eleição, demo-nos conta de que havíamos construído um conjunto de palavras que apresentavam um significado sinérgico e dinâmico sobre a trajetória de desenvolvimento de uma alma*. A meditação foi a seguinte: Meditação Afetiva | Tema: o Estandarte | Efeito: Eleição

INVOCAÇÃO

Mãe Divina, ajuda-me a erguer o teu estandarte. Dá-me a certeza da tua orientação, neste momento de recolhimento.

QUADRO IMAGINATIVO

Vejo-me, em minha caminhada diária, buscando certezas e segurança em minhas decisões. Vejo que desejo tomar as decisões certas, à luz da Divina Mãe.

SENSAÇÕES

Sinto confiança. Sinto que a Divina Mãe está dentro e fora de mim. Sinto fé no que virá, no devenir.

PROPÓSITOS

Proponho, aqui e agora, entregar as minhas decisões em suas mãos e aceitar o que vier.

CONSEQUÊNCIAS

Compreendo que não tenho o domínio de nada. Compreendo que só posso conhecer o presente. Compreendo que vivo na incerteza.

Pensamos que uma alma, um grupo de almas, uma sociedade e até mesmo a humanidade poderiam ter as suas trajetórias de desenvolvimento narradas por essas palavras. Em parte porque parece que a alma, no início de sua caminhada, busca uma certeza, busca uma sensação (ilusão) de uma segurança, assegurando-se de que as verdades objetivas estejam claras para que ela, guiada por essa luminosidade, possa dar passos certos. A conformidade se dá pela comparação de uma “verdade objetiva” com os seus atos. Estamos em uma fase em que os dogmas prevalecem.

Na medida em que a alma continua a sua caminhada em busca da realização de sua vocação, a essa altura ainda difusa, e que as conformidades são satisfeitas, ela adquire confiança.

De início, a confiança é tênue, apenas suspeitada, mas a sequência do caminhar vai, aos poucos, transformando aquela certeza em um estado consciente de confiança que, de repente, a remete para uma outra situação, a fé.

A alma que antes se achava com uma fé objetiva, tinha fé nisto ou naquilo, agora, na medida em que sua consciência se expande, vai percebendo que a fé que sente é já um estado da sua nova consciência. Não necessita mais de objetos, ela apenas tem fé. E assim a vida continua, a caminhada prossegue e a fé se expande, vai tomando conta da alma, transformando-a, gradativa e inexoravelmente, numa alma de entrega.

Os objetos, as certezas, as vontades, os desejos não fazem mais qualquer sentido: “Senhor, teu ‘nêgo’ tá’qui!”, dizia São Benedito (1) em sua oração matinal. A incerteza e a impermanência do devenir passam a ser o novo panorama da consciência. É um estado onde a “sabedoria da insegurança”, como nos indica Alan Watts (2), se estabelece na alma. A única certeza é a incerteza.

Certeza, Segurança, Fé, Entrega, Incerteza, caracterizam a dinâmica do caminho da alma em busca da sua vocação. Em uma visão pictórica, podemos fazer a imagem do bojo de uma taça onde, numa borda, na superfície, está a certeza, mais abaixo e adiante está a confiança. No fundo do bojo da taça, está a fé, acima e adiante está a entrega e na outra borda, voltando à superfície, está a incerteza.

Mas, aqui neste ponto da nossa viagem pictórica cabem algumas inquietações:

• Toda taça, para cumprir o seu papel, tem um conteúdo.

• Quem tem a sua taça cheia deve administrar o seu conteúdo, passando-o para quem necessita.

• O bojo de uma taça, por si só, não se sustenta com o líquido. • Toda taça para cumprir o seu papel tem que ter uma base.

Vamos completar a nossa imagem e colocar uma base, nesse bojo, para termos finalmente uma taça que possa ser enchida pelo precioso líquido da sabedoria. Uma taça que se sustenha e não bote a perder o tão valorizado conteúdo, com as sacudidas do dia a dia; e que possa ser manipulada ao sabor da vontade da consciência e da responsabilidade, sem os riscos de um equilíbrio instável.

A base da taça é o Método de Cafh que, com todos os seus instrumentos, a meditação, o exame retrospectivo, os retiros, as orações, a ascética, as reuniões periódicas, as ensinanças etc, oferece à alma que o pratica no dia a dia uma sólida base para o seu desenvolvimento espiritual.

O Método é a base que sustenta e estabiliza a dinâmica da evolução das almas em seu caminho, na impermanência do devenir.

(1) São Benedito: Santo da igreja católica, possivelmente nascido na Sicília em 1524 e falecido em Palermo em 1589. Participou do grupo de monges de São Francisco e era conhecido como “O Negro”ou “O Africano”.

(2) Alan Watts: Filósofo, escritor, nascido na Inglaterra em 1915 e falecido nos EUA em 1973, com mais de 25 livros escritos. www.alanwatts.com

N.E: *alma aqui deve ser compreendida como um ser, um ente humano.

Eleci Ferreira Sgarbi, Guicioli Oliveira Motta Buzar, Maria Lucia Vignoli Rodrigues de Moraes, Santina Souza da Silva, Lucia Maria Torres Raddi Lourenço, Terezinha de Luca Samponha, Claudio Moreira, Cyreneo de Ambrozeo, Savio Franco Santos Jr, Marco Antonio Casemiro, Saulo Pereira Ribeiro, Luiz Carlos Paes, Paulo Cesar de Almeida Ximenes e Mauro Porto de Nogueira Lima. Membros de Cafh do Rio de Janeiro.

Últimas matérias
NewsLetter

Assine nossa newsletter

Assine nosso boletim informativo para obter informações atualizadas, notícias e insights gratuitos.