Silêncio interior: acalmando o agitado lago da mente

“O mesmo silêncio que nos permite escutar os outros, nos permite escutar a nós mesmos. ”Calar e Escutar” – Do curso de Cafh: As 10 Palavras do Desenvolvimento Espiritual.

Uma noite dessas, tomando uma cerveja com um amigo num bar, e tentando ouvir o elegante diálogo entre um piano e um contrabaixo, magistralmente executado pelos dois músicos da casa, meu amigo exclamou: “o mundo é muito barulhento”.

Referia-se à disputa inglória travada entre os instrumentos e a algazarra na mesa ao lado, onde uma dúzia de amigos comemorava o feliz aniversário de um deles. Nada contra aniversários e comemorações barulhentas, mas tudo a favor de fazê-lo em locais apropriados. Ainda bem que, segundo esse mesmo amigo, músicos da noite não dependem de alguém que os escute, porque tocam para si mesmos e isso lhes basta.

Enquanto mudávamos para uma mesa que favorecia um pouco mais os nossos ouvidos, concordei com ele: sim, o mundo anda ensurdecedor, sobretudo para quem vive em metrópoles. O barulho do trânsito, das buzinas, das sirenes da ambulância, policia e bombeiros, dos bate-estacas, do alto falante do moço que vende pamonhas fresquinhas, do alarme do carro sendo roubado, do cachorro do vizinho, do bebê que chora sem parar, do pai que troca berros com a mãe e insultos com o filho, do caminhão que recolhe caçambas às 3 da manhã bem embaixo da sua janela.

Por isso, para manter a saúde do corpo e da mente, é aconselhável retirar-se periodicamente junto à natureza, buscando lugares ainda calmos onde o espírito pode se entreter com o canto suave e multicolorido dos pássaros e recordar o barulhinho bom da água correndo no riacho, do farfalhar das folhas nas árvores ou, simplesmente, os sons do nada. No entanto, há um outro barulho que passa despercebido e pode ser ainda mais daninho do que os ruídos medidos em decibéis. E que consome boa parte da energia que deveria estar alimentando a nossa saúde e bem-estar. É o barulho, muitas vezes ensurdecedor, do nosso “diálogo interno”. Esse que não cessa, que mantemos permanentemente ligado em forma de pensamentos e sentimentos desordenados, de pré-conceitos, de crítica e murmuração mental.

Sim, nosso interior pode ser bem mais barulhento do que o nosso entorno. Porque pensamentos vão e vêm sem pedir licença nem respeitar sua vez na fila. Sentimentos afloram sem que tenhamos muito controle sobre eles, determinando atitudes e ações das quais frequentemente nos arrependemos.

Pense: quantos de seus pensamentos e sentimentos são eleitos conscientemente? Quantas das imagens – e com elas as emoções – que desfilam pela sua cabeça o dia todo tiveram autorização para entrar em sua tela mental? Quantas pessoas você já viu falando sozinhas na rua, vítimas de um evidente transtorno interior? Quantos psicólogos e psiquiatras se ocupam cuidando de pacientes que são vítimas de si próprios?

O antídoto possível e eficaz para tudo isso é a prática do “silêncio interior”. Aquele estado que advém de hábitos simples, mas que nem sempre encontram espaço em nossa atribulada agenda diária: a contemplação, a meditação e a oração.

O silêncio interior, além de tudo, é uma das mais poderosas ferramentas de autoconhecimento. Porque ao fazer silêncio nos colocamos em contato conosco mesmos, com o que verdadeiramente somos. Ao ouvir o que pensamos e observar o que sentimos aprendemos a re-conhecer-nos, a avaliar a forma como respondemos aos estímulos que vêm de fora, e a compreender por quê o fazemos de uma maneira determinada e não de outra.

Mas, alcançar o silêncio interior exige algum treino. E começa com o silêncio exterior. Uma boa forma de começar é fazendo pequenos momentos de detenção durante o dia. Interrompa por alguns minutos o que você está fazendo para pensar por que o está fazendo, e por que dessa maneira e não de outra. Quando estiver atuando, procure afastar-se de si mesmo e ver-se de fora, como espectador. Avaliando sua relação com os demais e as respostas que está dando à vida. E, claro, separe um tempo, por menor que seja, no início da manhã e no final do dia, para recolher-se e pensar calmamente em como está vivendo sua vida, cuidando de si mesmo e dos seus afetos. E também para agradecer a Deus, ao Grande Arquiteto do Universo, à fonte da vida, ou que nome você Lhe queira dar, pelas bençãos recebidas e das quais a maior é o fato de você estar vivo e ter todas as possibilidades de crescer interiormente e desenvolver-se como ser humano.

Essas pequenas práticas podem evoluir para uma meditação diária, acompanhada pelo hábito de fazer leituras inspiradoras, ouvir boa música e ter mais momentos consigo mesmo. A meditação e a prática da oração irão, pouco a pouco, acalmando as águas agitadas da mente e lhe dando maior controle sobre ela e sobre os seus pensamentos e sentimentos. Monitore permanentemente o seu diálogo interno e invista na prática do silêncio. Em pouco tempo você vai sentir que o retorno em paz interior, harmonia, equilíbrio e saúde mental vale a pena…

José M. Cascão Costa, Publicitário, São Paulo, SP e é membro de Cafh desde 1974.

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