Obediência, dependência e interdependência

OBEDIÊNCIA

Nos dias de hoje, quando, na maioria das vezes, a busca de liberdade se confunde com um atitude anárquica, diante de todos e de tudo, falar de obediência parece, no mínimo, anacrônico.

Mas, para que nossa complexa sociedade funcione (e todos fazemos esforços para isso), estamos, consciente ou inconscientemente, permanentemente praticando a obediência. Obedecemos a nossos chefes no trabalho, aos horários, às exigências dos clientes, dos concorrentes, às prioridades das famílias etc. De fato, obedecemos, voluntariamente ou não, a todo tipo de leis que cercam as nossas vidas: as leis de trânsito, as leis estaduais e federais, as leis de funcionamento de nosso corpo, as leis do universo… E, quando transgredimos essas leis, sofremos as consequências.

Na prática da obediência está implícito o conceito de hierarquia ou de autoridade. São outras palavras que nos causam incômodo ao escutá-las por poderem estar associadas a práticas como autoritarismo, despotismo, escravidão etc. Porém, se bem que em muitos casos se possa cair nesses extremos perniciosos, tudo no universo está ligado por esse binômio indispensável ao funcionamento do todo: hierarquia – obediência. Pensemos em alguns exemplos, a partir de experiências vivenciadas e poderemos conferir esse ponto de vista.

DEPENDÊNCIA E INTERDEPENDÊNCIA

Toda relação se condiciona ou se determina por uma relativa dependência. Pode-se dizer que a relação e a dependência nunca estão isoladas. Parece que a dependência é fruto da relação e são, portanto, no mínimo, biunívocas. Por exemplo, vejamos a relação de uma criança com a sua própria mãe. Não é só a criança que depende da mãe. Também a mãe depende da criança, pois seus horários, seus compromissos, muitas vezes, são determinados em função das necessidades da criança.

Um outro exemplo: um aluno depende de seu professor para aprender, porém o professor também depende de seus alunos para determinar seus horários, seu trabalho etc.

Podemos dizer que, praticamente, não existe dependência, mas sim interdependência. Percebemos que, de um modo geral, a interdependência é uma rede de dependências que interligam os seres humanos e se estende até os animais, o meio ambiente etc.

O que é pernicioso, na interdependência, não é a dependência. O que é pernicioso é alguns dos elementos que possam condicionar a dependência. Vejamos alguns exemplos de elementos perniciosos:

• A dependência condicionada pelo temor se transforma em submissão;

• A dependência condicionada pelos interesses econômicos se transforma em exploração;

• A dependência condicionada por uma exagerada devoção se transforma em dogmatismo;

• A dependência condicionada por comodismos ou preguiça se transforma em parasitismo.

Mas ao contrário, se for condicionada pelo amor, pela fidelidade, a dependência se transforma em fonte de desenvolvimento.

RELAÇÃO ENTRE HIERARQUIA, DEPENDÊNCIA E INTERDEPENDÊNCIA

Tomemos uma situação ao acaso: São12h30min e os trâmites do dia me aprisionaram na cidade, longe de meu lar onde habitualmente almoço. A rede de sistemas que configuram meu ser e

o meu entorno farão com que eu :

1 – Priorize as minhas necessidades (por exemplo, a necessidade biológica de repor energias com um bom almoço).

2 – Possa escolher comer em um self-service. O restaurante, investido de autoridade, determinará um preço, que eu, como cliente,deverei aceitar. Deverei também aceitar que preciso entrar na fila para escolher o que me servirei.

3 – Deva obedecer, de bom grado ou que aparecerem nos banheiros, nas paredes, nas mesas etc.

4 – Espere, ao sair do restaurante, não ter a surpresa de encontrar um aviso de multa no pára-brisa do carro por ter desobedecido alguma lei que a autoridade do trânsito determinou. Como podemos ver, dentro de todos estes sistemas em que vivo em relação, conhecendo-os ou não, terei agido numa intrincada rede de interdependências.

Seja a obediência, a dependência ou interdependência, em função das necessidades humanas e dos sistemas em que estamos inseridos, não podemos deixar de praticá-las permanentemente no transcurso de nossa vida.

EM CAFH

Penso que a diferença se funda no grau de consciência em que nos encontramos e na vontade que nos acompanha, quando nos toca viver essas práticas.

Em Cafh, a nossa ascética mística nos leva, especificamente, a desenvolver o nosso estado de consciência.

O método, as ensinanças, tudo o que praticamos nos deve elevar a um estado de liberdade e participação acordes com a nossa ascética de Renúncia e a Mística do Coração. Em Cafh, mais especificamente na Comunidade, praticamos a Obediência.

A prática consciente da obediência permite ao ser humano liberar- se de todos os condicionamentos (conscientes ou inconscientes), para o bem ou para o mal, isto é, os que escravizam, seja para atender às necessidades reais (comer, dormir, pro- criar etc.) ou às necessidades criadas por vícios (gula, preguiça, drogas, dependência alcoólica etc.).

Quando praticamos, consciente e voluntariamente, a obediência a um regulamento e a uma hierarquia especificamente orientada para a nossa liberdade interior, estamos dando passos gigantescos na direção de nosso desenvolvimento.

Nós, seres humanos, vivemos em relação e implicitamente todos praticamos obediência, dependência e interindependência.

Quando praticadas conscientemente, segundo um método e uma orientação transcendente, se integram aos sistemas do qual fazemos parte, proporcionando-nos desenvolvimento e participação

com todos os seres humanos num nível ideal de amor e renúncia.

Membros da Comunidade de Cafh de Luziânia–GO

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