Calar e escutar

Já estamos habituados a frear nossas palavras e a orientar o pensamento no curso que escolhemos. No entanto, se prestarmos atenção, descobrimos que por trás desse tipo de silêncio continuamos ver, tendo sempre um mesmo discurso, formado por nossa maneira de ver as coisas, por nossos desejos e expectativas. Calar é descobrir esse discurso, expô-lo à luz e detê-lo.

Tudo o que existe – inclusive nós mesmos – é em relação. Isto implica uma interação total de tudo com tudo o que existe. Percebamos ou não, interagimos com o que nem vemos nem conhecemos, com o que nos parece distante e alheio, com nossa casa, a Terra, com tudo o que existe sobre ela e, obviamente, com todos os seres humanos.

Não podemos relacionarmos diretamente com o divino que não vemos nem conhecemos; só podemos fazê-lo indiretamente através do mundo e da vida que, essa sim, percebemos e na qual interagimos de forma deliberada e consciente.

A Mística do Coração nos conduz para a união com o divino desconhecido através da vida cotidiana. Não há maneira de unir-se ao divino se o separamos ou isolamos das únicas formas em que o divino se manifesta diante de nós. E o que temos mais próximo dessa manifestação é o ser humano – cada um deles, os que vemos e conhecemos e os que nem vemos nem conhecemos.

Chegamos ao coração da Divina Mãe através do coração de cada ser humano. Só fazendo silêncio – calando e escutando – podemos perceber cada ser humano como tal e, através dessa percepção, transcender rumo ao que ainda não conhecemos.

A vida nos dá continuamente sua ensinança; no entanto, para aceitá-la necessitamos deixar em suspenso o que pensamos sobre ela e sobre como somos. Isto implica necessariamente fazer silêncio: calar e escutar.

Uma vez dado o primeiro passo – calar – podemos escutar e transmutar nossa percepção de modo que nos permita uma relação direta e, eventualmente, uma compreensão do mundo, da vida, dos demais e de nós mesmos.

A sociedade, as pessoas, as coisas, a Terra, a vida em geral, expressam-se continuamente: dão-nos sinais do que está acontecendo e do que possivelmente vá acontecer. Sempre temos antecipações do que vai acontecer – enfermidades, crises pessoais e sociais, explosões de violência e também sinais para regozijar-nos e sustentar nossos empenhos. Se calamos e escutamos percebemos esses sinais sem distorções; como não os rejeitamos com nossas ideias feitas contamos com todo nosso potencial para responder a eles de maneira a traçar um futuro cada vez mais promissor.

Ao mesmo tempo, esses sinais nos mostram os efeitos de nossa presença na Terra e na sociedade, as consequências de nossa maneira de ser e de atuar, da maneira como perseguimos nossos objetivos e os resultados que vamos deixando com nossa passagem pela vida. As respostas que geramos nos demais e em nosso meio são o espelho que nos revela como somos e o que estamos fazendo.

Fazer silêncio – calar e escutar – é uma maneira de manter-nos conscientes do que estamos fazendo com nossa vida e com a dos demais, e nos indica para onde estamos indo.

O silêncio nos revela se estamos nos orientando para o objetivo escolhido e, dessa maneira, ensina-nos a corrigir continuamente nosso rumo. É uma base segura sobre a qual podemos construir nosso destino, e percorrer o caminho da Mística do Coração.

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