Saber querer e querer ousar

Esta etapa assinala um momento crucial do desenvolvimento, no qual nos sobrepomos a nossa tendência a nos estruturarmos no adquirido e ousamos abrir-nos rumo à conquista de novos âmbitos de experiência. Este ponto de inflexão divide a sequência em duas vertentes. A primeira, de Calar até Querer, expressa o mundo que já conhecemos e compreendemos. A segunda, de Ousar até Transmutar, expressa o desconhecido, o desafio de transmutar a experiência feita numa expansão de nosso estado de consciência.

A primeira vertente – o Calar, Escutar, Recordar, Compreender, Saber e Querer – é o âmbito dos valores sobre os quais apoiamos nossa cultura e no qual tiramos proveito da experiência humana gerada através da história. Saber Querer nos assiste no esforço de abrir caminho rumo a um mundo melhor que reflita esses valores, aplicando a vontade para consolidar o que já sabemos.

Necessitamos superar os limites do contexto em que nos encerramos; necessitamos desenvolver a atitude de Querer Ousar para que nosso desenvolvimento seja contínuo.

A segunda vertente começa, então, em Querer Ousar e nos impele a investigar e descobrir possibilidades que nos permitam manter nosso desenvolvimento.

No contexto espiritual, desenvolver-nos é ampliar nosso estado de consciência, e isso implica ajustar-nos à mudança, estar dispostos a passar da etapa de consolidar o que já somos à etapa de abrir novos campos de desenvolvimento: a Querer Ousar. Mesmo uma pequena expansão de nosso estado de consciência é, para nós, uma mudança fundamental que nos obriga a reavaliar e a compreender com uma nova perspectiva, aquilo que acreditávamos ter compreendido de forma definitiva.

O contexto do que não sabemos é tão imenso que nosso avanço no que conhecemos não parece diminuir sua magnitude. Por mais que nos adiantemos e aprendamos, em nossa condição atual nos mantemos frente à fronteira do desconhecido, o ímã que gera nosso desenvolvimento e nos impele a Ousar.

O Ousar nos permite chegar a Ousar Julgar.

Ousar Julgar é atrever-nos a encontrar novas relações entre ideias, experiências e acontecimentos que acreditávamos ter compreendido totalmente. É aceitar que os juízos são sempre relativos a um estado de consciência, e que a forma de ver a realidade, o que nos acontece e o que temos que fazer, deve-se atualizar ao compasso do tempo.

Ousar Julgar nos dá a visão necessária para não cair na mudança pela própria mudança, ou pelo fato de variar, ou para responder a motivações egoístas, mas para efetuar as mudanças que respondam a nossa necessidade de desenvolvimento.

Quando aprendemos a Julgar sem aferrar-nos a um passado já consumado, aprendemos a Julgar o que se deve Esquecer: Esquecer os juízos feitos para ter liberdade suficiente para discernir, compreender e responder às novas possibilidades e às necessidades próprias de cada momento de nosso desenvolvimento. E também Esquecer o anedótico e as vivências carregadas com emoção exacerbada para poder recolher o fruto do vivido: Esquecer agravos, que nasceram de juízos que respondiam a contextos muito limita- dos; Esquecer sofrimentos por perdas dolorosas, mas que são uma constante na vida; Esquecer rancores pelo que interpretávamos que a vida não nos deu ou nos tirou; Esquecer triunfos que resultaram de privilégios não merecidos; Esquecer os esquemas mentais que limitam nosso juízo acerca de quais são nossas possibilidades e o que temos que fazer para realizá-las.

Ousar Julgar que o que já não tem vigência deve-se Esquecer é reconhecer o devenir (vir a ser) no eterno presente.

A atitude de renúncia nos dá liberdade para que o conteúdo do Esquecer alimente o Transmutar. Neste contexto, a atitude de renúncia é aquela que nos permite validar o aprendido, dimensioná-lo, fazê-lo experiência assimilada e compreensão mais ampla e profunda de nós mesmos e de nosso lugar no mundo, e desprender-nos de nossa história para poder dar o passo seguinte.

A atitude de renúncia nos leva a Ousar viver com liberdade interior; isto é:

• Ousar nascer para um mundo novo com cada passo que damos no caminho de nosso desenvolvimento.

• Ousar transmutar em obra o que conquistamos espiritualmente.

• Ousar não nos apegar nem às conquistas espirituais nem às obras que elas geram.

• Ousar amar com um amor tão profundo que possamos transmutar a dor e o gozo da experiência em alimento espiritual para nós e para todas as almas.

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