Saber querer

Novos interesses e situações atraem nossa atenção; o jogo da mente e do coração segue seu curso e muitas vezes apaga os rastros daquilo que pensávamos haver compreendido.

Nossas compreensões são transitórias, não só porque continuamente novos conhecimentos nos obrigam a rever o que acreditávamos compreender, o que é positivo, mas também porque são afetadas por nossos estados de ânimo e deslocadas por impulsos, paixões e desejos que dão rédeas largas ao afã de nos gratificarmos, sem que reparemos muito nem no que compreendemos nem nas consequências dessa maneira de proceder.

Se não nos damos conta dessas limitações da compreensão, podemos chegar a pensar que conquistamos o que compreendemos; mas não é assim, uma vez que para que haja realização é necessário implementar em nossa vida o que compreendemos.

Se ao compreender abraçamos nossa compreensão e, por amor à liberdade, assumimos o compromisso que significa conhecer mais, promovemos nosso desenvolvimento.

Esta forma de responder à compreensão nos faz submeter nossa forma de atuar ao que compreendemos e a nosso objetivo vocacional; desta maneira, expressamo-nos de acordo com uma conduta prudente.

A conduta é prudente quando é discernida, coerente e consequente com nossa compreensão, com a vocação que nos guia e com os valores que esta implica.

A conduta prudente se nutre da reflexão e do autocontrole. A reflexão nos ensina as mudanças que temos que fazer em nossa conduta para que corresponda ao que vamos compreendendo. O autocontrole nos permite dominar nossos pensamentos e nossos impulsos para poder atuar de acordo com o que discernimos.

Ao sistematizar as respostas que damos a nossas compreensões e fazer da conduta prudente um hábito, transformamos a compreensão em saber. Somente então podemos dizer que sabemos. É por isso que, no contexto do desenvolvimento espiritual, compreender não é o mesmo que saber.

A ação de compreender é temporária. O saber, em troca, é um aspecto de nosso estado de consciência; nossas ações consequentes se fazem hábito, e esses hábitos se transformam em nossa maneira de ser: a forma como expressamos operativamente nosso estado de consciência. Já não necessitamos fazer um esforço para proceder como nossa compreensão nos dita.

Nossa realidade atual corresponde ao que compreendemos ontem. Através de nossa conduta, transformamos esta compreensão em nosso saber de hoje. Nosso esforço de hoje, aplicado numa conduta consequente, leva-nos a transformar em saber o que compreendemos agora. Cada nova compreensão abre um campo potencial de realização e nos mostra um horizonte que se vai deslocando à medida que, com nossa conduta consequente, percorremos o caminho que nos leva até ele. Esse novo campo potencial representa, em cada momento, nossa possibilidade real de expandir nosso saber. Compreender isto e fazer o esforço de responder de forma positiva e sistemática a esse desafio é abrir as comportas da força de nossa alma e concretizar essa força em querer.

Há várias formas de querer, mas só uma expressa a força e a sabedoria da alma.

Conhecemos o querer que nasce na consciência de que, em cada instante, nossa capacidade de compreender as experiências nos abre um novo campo de possibilidades que necessitamos atualizar para saber e assim poder realizar nosso ideal. Há uma diferença substancial entre este querer e os quereres.

Os quereres nos arrastam com a força do instinto e da paixão, e nos levam a uma vida de confusão e de dor. Em troca, o querer que responde a nossa consciência é uma força que geramos com nossa compreensão e com a aplicação de nossa vontade para realizar de forma efetiva o potencial que essa compreensão nos revela. Esta é a força de nossa alma e nossa fonte de sabedoria.

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