A necessidade de mudança dos estados de consciência e participação

Cada circunstância da vida contém uma ensinança. Para descobri-la, compreendê-la e transmutá-la, é necessário relembrar a sequência de nosso desenvolvimento, sintetizada nas {modal url=”https://www.cafh.org/templates/atomic/images/Publicaciones/PDF-ensenanzas-cursos/portugues/MENSAGENS%20IV.pdf”}dez palavras{/modal}.

Deter nosso discurso interior (calar). Abrir-nos para receber a ensinança, sem nos defender nem argumentar (escutar). Recordar o que temos aprendido e meditar sobre a experiência para compreender o vivido (recordar). Manter a lembrança dessa compreensão (compreender) para que nos oriente dali em diante, de maneira a chegar a saber o que aprendemos. Determinar-nos a agir de acordo com esse saber (querer). Dar-nos conta de que o que fizemos é um passo em nosso caminho de desenvolvimento e ousar dar o próximo, precavendo-nos da sensação de segurança e de estarmos certos, que o que já conquistamos possa nos dar (ousar). Tomar consciência de que só então poderemos avaliar (julgar) com equanimidade. Vislumbrar novos horizontes, livrar-nos das histórias (esquecer) e consolidar o vivido numa ação consequente (transmutar).

Em cada situação da vida podemos transmutar nossas experiências em consciência, de acordo com a sequência das dez palavras do desenvolvimento espiritual. De fato, nós assim estamos fazendo, cada um com seu ritmo. Esta é a forma como estamos evoluindo. O alcance deste desenvolvimento depende do enfoque através do qual o vivenciamos.

Do ponto de vista espiritual dois enfoques podem ser utilizados: o personalista e o participativo.

O enfoque personalista

Em termos gerais, podemos dizer que temos um enfoque personalista quando nosso interesse particular prima sobre o interesse comum. Este enfoque nos ajuda a alcançar grandes progressos. Nosso afã por nos impor, por triunfar, dá-nos forças para conseguir o que nos propomos. A competição para nos destacarmos dos demais nos impulsiona muitas vezes a procurar mais do que poderíamos necessitar, tanto em qualificações como em bens. Não nos preocupa tanto os que os demais possam sentir ou necessitar, senão cumprir com os objetivos que nos satisfaçam.

Também dentro desta etapa alcançamos adiantamento espiritual. O esforço e a tenacidade dão seus frutos: aprendemos a discernir, a comunicar-nos, a desenvolver princípios sobre os quais possamos avaliar e decidir. Não obstante, enquanto nosso enfoque for personalista, não podemos superar o egoísmo. Em nosso pensamento, em nosso sentir e em nossa atuação, estamos em primeiro lugar. Mesmo em nossas obras mais altruístas há uma dose de atitude de condescendência e de paternalismo.

O enfoque participativo

O enfoque participativo se baseia na renúncia. Aprendemos a deixar de ocupar o primeiro plano em nossa visão da realidade e, pouco a pouco, vai se revelando para nós o contexto maior no qual vivemos.

Ainda que por necessidade tenhamos que nos concentrar temporariamente em contextos mais limitados, o grande contexto da vida se mantém como referência em nossas decisões, em nossa escolha de objetivos, em tudo o que fazemos.

Por esta razão, em nossa situação atual, transmutar implica, para nós, “centrar nosso trabalho espiritual em identificar o enfoque personalista com que vivemos e substituí-lo por uma consciência de participação universal”.

Dentro do enfoque personalista vamos expandindo nossa consciência através do progresso gradual no que se refere à compreensão de nós mesmos e do mundo em que vivemos. Porém a passagem do enfoque personalista ao participativo significa uma expansão tão significativa da consciência que poderíamos considerá-la como uma transmutação de um estado de consciência para outro: a noção que temos de nós mesmos e em consequência, o caráter de nossa relação com os demais e com o que nos rodeia experimenta um crescimento e modificação significativos, não apenas qualitativos.

Dentro do enfoque personalista, ainda que façamos esforços para criar empatia e colaborar no meio que habitamos, sentimo-nos o centro de tudo que acontece e tendemos a usar nosso arbítrio de acordo com este sentimento.

Para passar do enfoque personalista ao participativo não nos basta aprender e esforçar-nos mais. Por mais que adiantemos em nosso conhecimento, aumentemos nosso autocontrole e sigamos métodos, nossos esforços não nos levam além do alvo para o qual aponta nossa intenção e nossa atitude.

A intenção resume o que queremos em nossa vida e orienta-nos em direção a esse fim. A atitude determina a qualidade da relação que estabelecemos tanto com a pessoa que está ao nosso lado como com o ideal que perseguimos. Da qualidade da relação depende o resultado da ação animada por nossa intenção.

A intenção e a atitude hão de corresponder-se entre si para que nosso atuar impulsione nosso adiantamento e o dos demais. Por melhor que seja nossa intenção na relação com uma pessoa, se nossa atitude com ela fosse, por exemplo, paternalista, crítica ou agressiva, produziria reação e ressentimento. Se, em troca, nossa atitude fosse amável e condescendente, mas nossa intenção fosse interesseira, nossa relação com a outra pessoa implicaria manipulação.

Não obstante, a coerência entre intenção e atitude não indicaria necessariamente que nosso enfoque seja participativo. Para produzir um adiantamento significativo em nosso desenvolvimento temos que desenvolver uma intenção e uma atitude que correspondam entre si e sejam coerentes com o que já sabemos sobre nossa condição humana. Que somos inseparáveis da realidade à qual pertencemos, e que a humanidade condiciona nossa existência.

Transmutar o significado de participação

A transmutação do processo de desenvolvimento da participação implica que a resposta intelectual-emocional se integre com uma ação consequente.

Na participação podemos distinguir vários aspectos; por exemplo:

• Empatia

• Compaixão

• Solidariedade

• Integração

Empatia

A empatia é a capacidade de experimentar os sentimentos, pensamentos e experiências de um sujeito em uma realidade alheia à própria.

Podemos dizer então, que a empatia nos refere a uma realidade que não é nossa e ao nos referir a ela, a ela nos vinculamos. Poderíamos interpretar a empatia como sendo a primeira ponte que cruzamos quando queremos participar com outrem.

Distinguimos na empatia dois aspectos: um emocional e outro intelectual.

Do ponto de vista emocional, a empatia é a capacidade de experimentar os sentimentos que o outro esteja sentindo ou que tenha experimentado no passado. Sofremos quando vemos uma pessoa sofrer ou recordamos o que sofreu. Nós nos alegramos com alegria do outro ou quando recordamos sua alegria.

Do ponto de vista intelectual, a empatia é a capacidade de perceber e experimentar os pensamentos e situações de outro sem que esses pensamentos ou situações nos tenham sido comunicados de forma objetiva e explicita.

Empatia intelectual é a percepção que a mãe tem do que o filho sente ou necessita, e a capacidade que os filhos têm de perceber as alegrias e preocupações de seus pais. Esta capacidade é fundamental para dar-nos conta do que ocorre no ambiente em que estamos ou que ingressamos e das reações que produzimos nos demais sem que necessitemos que nos expliquem.

A empatia nos permite colocar-nos no lugar do outro e experimentar o que lhe acontece. Não se faz necessário que esse “outro” tenha uma realidade física, é suficiente que imaginemos uma circunstância. Essa capacidade permite a um ator representar um papel, a um músico interpretar uma partitura e a um espectador perceber o que lhe é transmitido além das palavras e das melodias.

A empatia é indispensável para podermos adaptar-nos a situações diversas em um meio que se transforma constantemente, e para poder atuar com proveito nas diversas circunstâncias.

A empatia é importante no desenvolvimento do sentido moral. O poder sentir e perceber o que os outros sentem, pensam e necessitam, permite-nos discernir valores que possam sustentar relações de proveito e adiantamento social.

Compaixão

A compaixão nasce da empatia; é a consciência que temos do sofrimento dos outros, acompanhada pelo desejo de aliviar sua dor. Por um lado, a compaixão mantém a distância entre nós e aqueles dos quais nos compadecemos. Por outro, induz-nos a atuar.

Em síntese, a compaixão desperta em nós a consciência de que devemos fazer alguma coisa para diminuir a dor alheia. É o primeiro motor que faz do nosso amor uma força ativa. Ao mesmo tempo, a compaixão é um sentimento de pena que nos enternece: quebra nossa indiferença e move-nos a ser amáveis, a dar afeto, a chorar com o outro. A compaixão nos leva à solidariedade.

Solidariedade

A solidariedade é uma adesão explícita circunstancial à situação, à causa ou ao projeto de alguém. É explicita porque se expressa em fatos: quando nos compadecemos de alguém que sofre fome, ou frio ou que está doente, damos-lhe comida, roupa ou remédios.

É circunstancial porque se relaciona com uma situação conjuntural: é uma ajuda específica. Na solidariedade podemos distinguir o aspecto emocional e o intelectual.

O aspecto emocional da solidariedade se mostra no afeto que acompanha um auxílio. Também se mostra no sentimento de injustiça que faz com que essa ajuda seja necessária; em nosso desgosto porque a sociedade ou o destino não seja mais equitativo.

O aspecto intelectual aparece quando aderimos a uma causa porque a interpretamos como justa ou a um projeto porque pensamos ser viável.

Mas sempre a solidariedade é uma adesão à circunstância, à causa ou ao projeto que envolve outros. Baseia-se em interesses, objetivos e padrões comuns a muitas pessoas.

Integração

Podemos sentir empatia, ser compassivos, solidários. Não obstante, isto não é suficiente para participar no sentido que nossa ensinança dá ao conceito de participação.

A participação exige de nós que nos unamos interiormente aos demais a ponto de tomar plena consciência de que somos-em-grupo.

O resultado desta tomada de consciência se reflete na vida do grupo e na nossa dentro do grupo:

• Nossa ação no grupo é eficiente, dá os resultados esperados.

• Nossa ação é eficaz. Medimos nossa eficiência na medida em que nossa atitude e nossas ações apontam para tornar o grupo coeso, a mantê-lo saudável e a atingir os objetivos propostos.

• Nosso trabalho no grupo promove a harmonia:

– Em lugar de pedir, damos.

– Em lugar de criticar, trabalhamos sobre nós mesmos.

– Em lugar de enfocar mesquinharias que possam nos separar, procuramos o amor e os objetivos que nos unem.

– Em lugar de prevalecer, procuramos o consenso.

– Em lugar de sobressair, procuramos transmitir o que sabemos.

A participação, do ponto de vista interior, é ser um com todos os seres humanos. A participação, do ponto de vista prático, é formar grupos nos quais as relações são motivo de reflexão e trabalho concreto, que levam os indivíduos que os compõem a integrar equipes capazes de criar relações harmônicas entre seus membros e a criar significados compartilhados e trabalho em comum com outras equipes. É como criar redes de relações harmônicas cada vez mais abrangentes.

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