A sociedade futura

“Vivemos um processo de ruptura de formas e descoberta de significados. Estão se rompendo os marcos que pretendem aprisionar a vida em uma forma.

Não basta conhecer a Terra como matéria, mas é necessário descobri-la como organismo vivo, tomar contato com as forças telúricas do planeta e incorporá-las ao nosso organismo humano, a fim de criar um novo modelo socioecológico.

O desafio que a nova era nos impõe não é construir cidades espaciais (ainda que se possa e deva fazê-lo), mas “elevar a matéria humana”. E isto não é uma obra de técnica, mas uma obra de arte.

Além da sociedade organizada que conhecemos atualmente – em seu interior – está se configurando um corpo arquetípico, uma comunidade espiritual invisível (aos nossos olhos), que será a matriz das instituições sociais do futuro e uma nova medida para os homens que virão.

A sociedade humana avança rumo a uma nova ordem mundial, mas o modelo planetário do futuro não virá dos centros de poder político e, sim, da convergência de correntes sociotelúricas, tecnológicas e místicas”.

Traduzido do livro “Antropologia de Síntese”, de Ramón Pascual Muñoz Soler, Ed. Depalma, Buenos Aires, Argentina, 1980 – cap. VIII – Síntese

Estou convencido de que não podemos solucionar nossos problemas básicos a menos que construamos uma ciência da economia que nos capacite a conduzir nossa “nave espacial Terra” para fins humanos; uma humano-economia ou “humanomics”.

Eungen Loebl, Humanomics – Apud Muñoz, 1980. Cap IV – pág 291.

A economia do homem total

Que é economia humana? Mais do que uma ciência do homem, é uma função de vida. É economia biológica, social e espiritual, ao mesmo tempo. É metabolismo humano, aqui entendido como o conjunto de transformações materiais, energéticas e espirituais que servem de base ao funcionamento do ser humano. Metabolismo humano é trabalho humano, e o trabalho é a função básica da economia humana.

A vida trabalha em diferentes níveis.

Em nível biológico, trabalho é metabolismo físico-químico. Progredimos muito, tanto no conhecimento das transformações dos elementos químicos e das transferências de energia que se produzem no interior do organismo, quanto no conhecimento das enzimas que comandam esse metabolismo por meio de mensagens codificadas e das terríveis consequências produzidas por falhas na comunicação bioquímica.

Em nível psicológico, trabalho é dinâmica do psiquismo, jogo de forças do inconsciente, poder criador e destruidor dos arquétipos coletivos, elaboração do pensamento e transformações da consciência. Alguma coisa aprendemos sobre o poder da “psyché” sobre o organismo físico, e começamos a descobrir as relações existentes entre a patologia mental e os transtornos do metabolismo químico do cérebro.

Em nível social, trabalho é o funcionamento orgânico da sociedade e o intercâmbio de forças psicológicas, físicas, morais e políticas que configuram as relações de produção e consumo dos bens materiais e culturais. Aqui também começamos a descobrir os “erros” do metabolismo social e a patologia econômica.

Em nível espiritual, trabalho é um aspecto da economia humana ainda pouco explorado; é o intercâmbio entre o espírito e a matéria no homem (tal como ocorre no metabolismo biológico, quando por falhas ou ausências enzimáticas não se chega ao final das transformações bioquímicas e se acumulam substâncias prejudiciais à vida: as enfermidades provenientes do metabolismo).

O metabolismo espiritual ganha o significado de primeiro e último elo enzimático do metabolismo humano, pois implica no começo e no fim das transformações da vida humana.

A inclusão deste nível no estudo da economia humana – economia humana do futuro – permitirá que se descubram as leis que regem o princípio e o fim das ações humanas e, assim, resgatar a ciência econômica do “poço sem saída” onde se encontra em nossos dias, limitada ao manejo das leis de produção e consumo de bens materiais.

Qualquer interpretação parcial da economia, qualquer reducionismo a algum de seus níveis particulares anteriormente mencionados (seja um biologismo, um psicologismo, um socialismo ou um espiritualismo) está fadada ao fracasso, pois a economia, para denominar-se humana, tem que ser total: um metabolismo da matéria e do espírito, da energia e da consciência, do significado e da forma. Este tipo de economia humana da totalidade é o fundamento da ecologia planetária do futuro.

A economia humana do futuro ainda nos é desconhecida.

A chave para compreendê-la é, precisamente, descobrir a lei que rege o campo unificado do metabolismo humano; em outras palavras a lei do trabalho humano que o orienta não só em direção ao seu produto material senão que a um significado para o homem.

Se a força de trabalho não tem um significado para o ser humano, essa mesma força volta-se contra ele.

Ramon P. Muñoz Soller – obra citada – tradução do Cap. IV.1

(O trabalho como função básica da economia humana.)

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