A transformação da sociedade passa pela economia providencial

Chamamos Economia Providencial à sabia administração dos recursos necessários para o desenvolvimento humano e a evolução da vida sobre a Terra.

Dizemos “economia” porque se trata da produção, conservação e multiplicação dos recursos necessários e úteis ao desenvolvimento.

Dizemos “providencial”, no sentido de que provê o que requeremos nós e os demais seres para alcançar o fim desejado; neste caso, a plena realização das mais altas possibilidades, numa vida coerente.

Mas, afinal, o que vem a ser Economia Providencial?

Recentemente, Roberto Mangabeira Unger, um pensador social, político e jurídico, escreveu sobre algumas mudanças ocorridas na sociedade. Até aí nenhuma novidade para um cientista político. Entretanto, chamou-me a atenção o fato dele mencionar, sob diferentes pontos de vista e até literalmente, a economia providencial.

O conceito de economia providencial já é bem conhecido dos membros de {modal url=”index.php/sobre-cafh/o-que-e-cafh”}Cafh{/modal}, entretanto, transpor o assunto para esferas mais amplas nos aponta a direção de que desenvolvimento espiritual deve, realmente, abarcar toda a sociedade, visando não só eliminar do mundo as misérias e calamidades que o afligem, mas também estabelecer uma relação íntima entre os bens materiais e os ganhos que estes nos conferem de forma a serem divididos proporcionalmente.

Dos ensinamentos cristãos aos discursos inflamados de pastores de todas as religiões, o que se pede é uma provisão suficiente para permitir uma vida mais digna, saudável e compartilhada entre todos. O que implica o compromisso de quem tem mais, repartir mais.

Chama-me muito a atenção que em casos de calamidades públicas, grandes catástrofes e acidentes naturais como enchentes ou o Tsunami, a vontade de compartilhar e ajudar o próximo seja inerente a quem tem menos.

Aquela família ou o indivíduo que sabe quanto custa um prato de comida, ou quais são as dificuldades de viver com um salário minguado é quem coloca primeiro a mão no bolso, entendendo ser a solidariedade o caminho para a felicidade. Um ditado popular, destes de adesivo de carro, diz que é necessário dar de si e não do seu. Ora, não é possível restringir a solidariedade apenas ao carinho, à atenção ou à ajuda que se dá como ouvinte ou orientador. É preciso compartilhar bens materiais, matar a fome com comida, saciar a sede com água, vestir com roupas quem tem frio e assim por diante.

Foi-se o tempo de São Francisco. Apesar do ideal de pobreza franciscana ser sublime, ele não pode ser realizado por todos.

Devemos entender que a redenção da alma, talvez, esteja em ser menos rica e mais solidária. Trocar o desejo irrefreável de posse, tão instigado pelo mundo consumista de hoje, pela senda da realização, consciente de que se todos forem felizes, também seremos. A respeito desse assunto, Santiago Bovísio, fundador de Cafh já dizia: “acumular bens terrenos é tirar de outros o que lhes pertence naturalmente. A mãe terra dá o alimento necessário para todos os seus filhos, e não mais. O armazenamento continuado e desmedido por especulação, e não por justa distribuição, está tirando de alguém o necessário e carregando o possuidor com o mal estar de muitos.”

E continua: “a Economia Providencial ensina que há no ser humano uma fonte permanente de possibilidades de bens de toda a espécie e, entre estas, de bens materiais. Esta fonte anímica é continuamente tamponada pela sobrecarga de ideias de necessidades não reais. Liberar-se da preocupação egoísta consigo mesmo é deixar que a água das possibilidades brote amplamente.”

Praticar Economia Providencial não é dar tudo, fazer-se mendigo profissional, desprezar todas as comodidades e os bens que são inerentes à vida do homem, senão que é ocupar o próprio lugar no mundo e não dois lugares.

Parafraseando o conceito espiritual, o pensador social e político tem razão em afirmar que a transformação da sociedade passa pela economia providencial.

Rose de Almeida, jornalista,
São Paulo

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