Como praticar a economia providencial

Têm surgido no mundo inúmeras formas de organizar os serviços e os meios de produção. Muitos têm tentado encontrar alternativas para a economia capitalista por considerá-la predatória, exploradora e desumana em muitos dos seus aspectos.

Estas novas formas, na maioria das vezes são regidas por princípios de solidariedade, sustentabilidade, inclusão e emancipação social, na tentativa de ultrapassar algumas limitações inerentes às relações de produção capitalistas contemporâneas.

A uma dessas formas chamamos Economia Providencial – a participação equânime dos bens do mundo, baseada no pressuposto de que a satisfação de necessidades de um só indivíduo é incompleta, sem a satisfação das necessidades de todos os demais. Isto estimula a administração dos recursos econômicos e humanos com maior justiça e equidade.

Esta compreensão implica em novos valores que, certamente, rompem com os modelos dominantes, e dá consciência a novas alternativas que se opõem às práticas excludentes, além da própria economia providencial, tais como a economia da dádiva e a economia solidária.

Em termos simples, praticar a Economia Providencial é usar os recursos dos quais dispomos – pessoal e socialmente – da melhor forma, para o bem comum.

Falamos de recursos em todas as suas expressões: materiais e espirituais, de civilização e cultura, humanos e naturais.

A reserva de energia humana, por exemplo, é um elemento essencial desta prática.

E consideramos ainda:

  • O uso dos recursos, em termos de sua finalidade e eficiência, bem como da relação “custo-benefício”, a que existe entre os objetivos pretendidos e efetivamente alcançados e os recursos empregados para tal.

  • A multiplicação dos recursos, em temos de sua sustentabilidade, observando-se as melhores práticas que permitam renová-los, evitando o esgotamento das fontes naturais e o desequilíbrio do meio-ambiente.

  • A criação de reservas, nas formas de poupança e de atitudes de não-desperdício.

  • O correto manejo dos recursos naturais – tão em voga nos programas focados na ecologia.

Economia da dádiva e economia solidária

Economia da dádiva é a que é realizada sem espera, garantia ou certeza de retribuição, tendo por finalidade a criação, manutenção ou regeneração do laço social.

A economia solidária seria a que estimula a solidariedade entre os membros de uma empresa, mediante a prática da autogestão baseada em princípios de solidariedade para com a população trabalhadora em geral, com ênfase na ajuda aos mais desfavorecidos.

A Economia Providencial tem de ser praticada socialmente

Para desenvolver-se o ser humano necessita contar tanto com o pão material como com o espiritual. Por isso, para poder dar-lhe o ensinamento espiritual, deve-se contemplar também a sua situação econômica.

Assim como todo ser humano necessita de um certo caudal de ar para respirar, também necessita de meios para desenvolver-se, sempre segundo a sua necessidade específica, visto que, embora todos sejam similares, nenhum indivíduo é igual a outro.

O ser humano necessita, segundo sua atividade e capacidade, um lugar onde morar (casa própria) suas ferramentas de trabalho, seus animais domésticos, seus livros de estudo, seus alimentos vitais.

O técnico necessita um laboratório, o administrador, seu negócio; o sacerdote, sua igreja; o alfaiate, sua máquina de costura; o navegante, seu barco. Para isto, é necessário que cada um contribua para um fundo social comum, o grande “Armazém Inca”.

O sentido de posse egoísta impele o ser humano a apossar-se dos bens materiais como meios para definir seu valor pessoal.

Não obstante, a posse real não é material, e sim, anímica. O que dá verdadeiro poder ao ser humano é o caudal de experiência, a capacidade técnica e operativa, a realização pelo próprio valor e, sobretudo, a segurança íntima de ter direito de participar dos bens da vida.

A Economia Providencial tem de ser praticada com a família

As obrigações de uma pessoa com aqueles que dependem dela hão de ser cumpridas espontaneamente. O lema dos pais, filhos, irmão e familiares, será dar sempre o máximo de si.

É comum que se dê maior importância a acumular bens materiais para deixá-los como herança, do que prover os familiares do que necessitam no momento. Todavia, as heranças desmedidas ou inoportunas têm sido um dos grandes males da humanidade.

Tudo o que se dá aos familiares para satisfazer as necessidades de seu desenvolvimento é construtivo e dá felicidade; porém, o que não corresponda a necessidades reais, pode vir a constituir um grande mal, as chamadas “heranças malditas” que rompem relações afetivas e provocam sofrimentos irreparáveis.

A Economia Providencial tem de ser praticada como disciplina, pela poupança.

A poupança que se pratica como previsão é base de tranquilidade. Deve-se prover para necessidades que possam surgir no futuro: enfermidade, velhice, falta de emprego. Para que cada um não se transforme em uma carga social, é necessário praticar alguma poupança (no caso de bens) ou reserva de energia, quando se e jovem e se tem saúde, disposição, energia e capacidade de trabalho.

Não se deve confundir, no entanto, poupança com especulação financeira, visto que esta última rouba à sociedade os bens necessários para o esforço produtivo.

A Economia Providencial tem de ser praticada como oferenda

A produção de um ser humano pode ser superior às suas necessidades reais, ou seja, gerar um excedente. Por isso, o indivíduo consciente de ser parte de um todo pode oferendar aos demais esse excedente, fruto de sua produtividade e não-dissipação de recursos.

Na realidade, toda oferenda material implica uma imperfeição, visto que em um mundo “bom”, menos imperfeito, ninguém deveria necessitar nada dos demais.

Esta oferenda que fazemos como resultado de uma atitude de participação consciente é um esforço ainda necessário em nossos dias de tanta desigualdade.

O que se dá não é uma dádiva. Provém de um sentido de compromisso, de um sentimento profundo de que temos uma obrigação moral de dar uma parte do que temos condições de produzir àqueles que não têm o necessário, espiritual ou materialmente.

Não o consideramos como um presente, mas como uma resposta a uma responsabilidade, a um dever humano e um mandato divino.

E, como membros de um grupo com laços espirituais, fazemos com que parte do produto do nosso esforço material e espiritual contribua, sistemática e ordenadamente, para a expansão da Obra de Cafh.

A ideia de não-posse se torna efetiva através da oferenda sistemática de bens e da segurança que cada um tem em saber que a fonte de toda riqueza está em si mesmo.

A Economia Providencial tem de ser praticada como um aspecto do desenvolvimento

Não se pode satisfazer às necessidades espirituais do ser humano se não se solucionam suas dificuldades econômicas. O problema econômico, por sua vez, só pode ser solucionado se for incorporado ao processo de desenvolvimento espiritual do ser. O pão material e o pão espiritual são duas faces de uma só necessidade. É tão importante comer como saber, e viver o que se sabe, se crê e se sente.

Isto já foi cantado em prosa e verso! Tanto a necessidade espiritual como a material se satisfazem com o trabalho efetivo e desinteressado, com a participação interior e exterior de toda a humanidade.

Podemos resolver a aparente dicotomia interior-exterior; espiritual-material, e os problemas concretos da vida, fazendo efetivo em nossas relações diárias o sentido da não-posse, de uma oferenda efetiva de energia, em tempo e trabalho, à humanidade, e de desenvolvimento de nosso potencial humano.

De modo simples, cada indivíduo pode, dentro de suas limitações, fazer um esforço para não se tornar uma carga para a sociedade, mas sim, um fator que alimente e estimule o próprio desenvolvimento e o dos que estão ao seu redor.

Para os membros de {modal url=”index.php/sobre-cafh/o-que-e-cafh”}Cafh{/modal} a oferenda de bens materiais e espirituais implica toda a sorte de esforços e contribuições materiais e anímicas, que possam contribuir para o desenvolvimento integral da humanidade, da qual somos parte inseparável.

N.E.: Texto extraído dos cursos de Cafh

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