Escutar

por Robert Perry          

Fazer silêncio e ouvir é uma das primeiras e mais importantes práticas recomendadas a qualquer um que anseie pelo desenvolvimento espiritual. Fazer silêncio e ouvir é também uma forma de permitir que a Divina Presença se manifeste na alma“.

Sente-se em silêncio e mantenha seu corpo imóvel. Concentre-se em sua audição.

Amplie seu campo auditivo o mais que puder. Se estiver dentro de um ambiente, ouça o barulho de crianças brincando lá fora, carros passando, sirenes tocando e a chuva caindo. Tente ouvir um avião passando e outros ruídos distantes.

Agora, reduza seu campo auditivo. Se estiver entre quatro paredes,  preste atenção apenas aos ruídos dentro deste ambiente. Preste atenção aos sons conhecidos e aos que lhe parecem estranhos por não os estar vendo. Qual a sua reação aos sons familiares?

Em seguida, reduza ainda mais seu campo auditivo para cerca de 70 – 90 cm. Preste atenção à sua respiração, ao ritmo das batidas do seu coração, aos músculos que se contraem e ao comichão que pede para ser coçado.

Finalmente, preste atenção àqueles pensamentos que passam lentamente pela sua mente.

Observe a sucessão de pensamentos como se você estivesse assistindo a um filme mudo; observe seus movimentos internos – as ideias desarticuladas preenchendo um espaço silencioso em sua mente.

Quando se ouve o que alguém fala percebe-se que existem diversos sons além da voz que ouvimos, como sirenes, o aquecedor que estala ou as mensagens insistentes que surgem como a cãibra no pé ou lembrar-se de telefonar para o dentista no dia seguinte… e durante todo o tempo a pessoa continua falando.

Será que é possível ouvir o que diz o outro, desligando os pensamentos por tempo suficiente para compartilhar com ele tudo o que ele tem a lhe dizer? É possível.

Algo acontece quando duas almas se encontram, frente a frente. Diferenças, brigas por poder e desigualdades desaparecem, surgindo a compreensão de que somos iguais – duas almas que procuram entendimento. Os ruídos também parecem diminuir. O barulho exterior se torna parte do ritmo da vida – uma coisa só.

Você e o outro conseguem ouvir os próprios sons interiores. Você, como receptor, deve silenciar o monólogo que persiste em sua mente e oferendar as palavras; você é o instrumento por intermédio do qual essas palavras são oferendadas, porque você tem a vantagem de poder observar com empatia e objetividade.

Quando suas palavras e movimentos interiores diminuem, sua mente funciona como a lente de uma máquina fotográfica que se fecha num zoom e depois volta se abrir, ampliando o ângulo de visão.

Quando se está totalmente presente com o outro, é possível ler sua linguagem corporal. Você se torna um espelho que reflete a resposta, sem julgar nem precisar persuadi-lo a tomar uma atitude que só a você parece ser verdadeira ou apropriada.

Você oferece o que vê, palavras do coração que podem criar raízes ou desaparecer, mas você tem consciência de ter oferecido tudo que podia naquele momento.

O mais difícil é ouvir seu próprio coração. A orientação superior sempre existirá, depende apenas de você querer ouvir.

Tente fazer o exercício: lembre-se de quando era criança e precisava contar a alguém o que lhe tinha acontecido, ou quando queria fazer uma pergunta que lhe parecia muito importante. Lembra-se da atenção que lhe deram? A pessoa esqueceu do resto do mundo enquanto você falava e depois, pausada e respeitosamente, lhe respondeu? Talvez isso lhe sirva de exemplo.

Você é capaz de encontrar essa pessoa dentro de você e ouvir sua própria alma falar? Talvez seja a criança que existe em você tentando compreender o passado ou uma parte do seu ser que está emergindo. Não importa as circunstâncias, você consegue ouvir como mesmo respeito e carinho que aquela pessoa do passado?

Sente-se mais uma vez em silêncio. Encontre uma posição confortável e ouça as mensagens que seu corpo lhe envia. Sente que alguma parte do corpo está tensa? Qual? Como aliviar a tensão da carga inconsciente que você carrega?

Consegue ficar sentado em silêncio? Preste atenção ao fluxo de vida que atravessa seu corpo. Aos seus sentimentos. Qual a emoção predominante? Em que parte do corpo ele fica registrada? Qual a sua necessidade emocional? Existe uma criança que chora por sofrimentos do passado? Existe um adulto forte, confiante, feliz e conectado com a vida? Preste bastante atenção. Deixe os sentimentos fluírem.

Finalmente, preste atenção à orientação divina. Sua vida está fluindo com relativa facilidade? Por que será que alguém ou alguma oportunidade surgiu repentinamente em sua vida? Por que será que alguns dos seus desejos parecem impossíveis? Por que um objeto, uma música, uma cor, uma frase ou um lugar têm um efeito profundo ou cativante em sua alma?

Esses são alguns dos meios sutis e místicos pelos quais o Divino fala com você.

Quando se medita, a mente se aquieta pra que o Divino possa se manifestar no santuário silencioso da alma. Quando uma alma ouve, ela não ouve apenas com os ouvidos, mas também com os olhos, com os sentimentos, com o corpo e com a alma. Ouvir é um processo que envolve todo o ser.

Quanto mais sintonia se adquire para ouvir a própria alma e a orientação recebida, melhor se ouve o outro.

Preste atenção às respostas que você dá e deixe que as informações penetrem suavemente em seu ser, assim como quando você ouvia o que se passava fora de você, e você procurava o silêncio em seu interior.

Ouça. Existe algo mais do que uma sucessão de palavras sendo emitidas: é a Presença Divina sussurando em sua alma.

Fonte: Seeds of Unfolding  vol. XII, number 3

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