Os mais esclarecidos e sensíveis pensadores de nossa época estão sinceramente preocupados com o flagelo que fustiga a nossa sociedade moderna, em seu conjunto, acentuando dolorosamente o desequilíbrio entre pobres e ricos.
Uns possuem demais, outros muito pouco. E não existe lei humana, partido político ou organização que consiga reverter ou solucionar este estado de coisas.
Estaríamos então desesperançados? Estaríamos, se não vislumbrássemos outra possibilidade, isto é, uma coordenada que passa por todos nós, membros da sociedade, preocupados com as nossas necessidades.
Se estivermos verdadeiramente interessados em solucionar o problema do consumismo, deveremos estudá-lo em nós mesmos, por sermos seus agentes reais e concretos.
Apenas iniciada a indagação, a primeira coisa que descobrimos é um fato muito interessante: damo-nos conta de que quando desejamos algo, após adquiri-lo, a satisfação que nos proporciona não é a que esperávamos – é bem menor.
Este é um fato que a princípio nos parece estranho, por ser inusitado, mas logo descobrimos que aí está a raiz do consumismo. Pois é a escassa satisfação da primeira compra que nos induz à segunda, à terceira, à quarta e a muitas outras, sempre com o mesmo resultado.
E como a ansiada felicidade que esperávamos das contínuas aquisições não chega, pensamos que talvez isso se deva ao fato de que o objeto em questão não era exatamente o do nosso agrado.
É quando surge a propaganda, a voz da sereia, que, conhecedora do que se passa conosco, porque estudou psicologia, oferece-nos inúmeras opções: outro modelo, outra cor, uma tecnologia mais sofisticada e assim por diante. É difícil fugir de seus caleidoscópios que, como véus sutis, envolvem nossos sentidos.
Se a escutamos estamos perdidos, fazemo-nos consumidores. Porém consumidores sempre insatisfeitos.
Será essa mesma insatisfação a nossa salvadora – salvadora do erro, da ilusão – pois o que busca a verdade busca também a felicidade; e ao perceber que o caminho do consumismo não leva aonde deseja ir, detém-se. Espera. Pára o mundo. E, ao fazê-lo, outro espaço abre-se para ele: alcança outra dimensão. Sintoniza-se com outra lei, interna e oculta que lhe revela a sua natureza essencial: é a Lei da Simplicidade. Nela descobre que o que realmente necessita é muito pouco, e cada vez menos; e é apenas isso o que quer. O restante é supérfluo, incomoda.
Somente é feliz, sem sombras de insatisfações, em seu mundo de simplicidade.
Acaba, portanto, vencendo o consumidor que era, por decisão própria, sem imposição nem violência. Reconhece agora, vivencialmente, as palavras de São João da Cruz, que nada mais expressam senão a Lei do seu Próprio Ser:
“Quando te deténs em algo
Deixas de mergulhar no todo
Porque para chegar totalmente ao todo
Deves deixar tudo, totalmente
E quando chegares a ter tudo
Deves tê-lo sem nada querer
Porque se quiseres ter algo em tudo
Não terás, puro em Deus, teu tesouro”
*Gita Lazerte, ECE Editora, 1992, págs. 51 a 53