Com os avanços tecnológicos, as relações de trabalho invadiram a nossa casa.

Com os avanços tecnológicos, as relações de trabalho invadiram a nossa casa.

Ana Cristina Flor, diretora espiritual de Cafh, explica como podemos estabelecer novos hábitos e rotinas mais produtivas e saudáveis.

RC – Gostaríamos de saber como podemos lidar com a transformação tecnológica no espaço de trabalho, mantendo , de algum modo, o equilíbrio ou os valores essenciais  nas relações interpessoais?

ACF – Também no âmbito laboral, a tecnologia produz  transformações positivas e negativas ao mesmo tempo.

O fato de poder trabalhar em casa em muitos tipos de trabalho oferece vantagens como economizar o deslocamento, economizar  o transporte a energia gasta nisso e  poder estar presente em casa são aspectos positivos.

Mas, uma desvantagem a se considerar é a irrupção do externo em nosso ambiente. O trabalho trazido para o ambiente familiar, privado, se torna invasivo, se não conseguimos equilibrar o tempo através da nossa disciplina pessoal. Equilíbrio é a chave, não há como deixar de repetir isso, ter uma disciplina pessoal que permita  equilibrar o tempo para delimitar o que é tempo de trabalho e  um tempo para descansar, estar em família.

Digo, porque escutei muita gente que estava trabalhando em seus lares mas trabalhava muito mais do que antes porque não havia nenhum limite explícito. Esse é um desafio que vamos ter que enfrentar , há que  se desenvolver  novas formas de trabalho, outras rotinas, se isso se prolongar por muito tempo. Não é a mesma coisa que sair de casa para ir trabalhar em um ambiente distinto e não ir a parte alguma e seguir em nossa casa trabalhando.

A questão da falta de limites no tema do home office vai exigir novas rotinas, novos hábitos, implicando em uma reacomodação de nossos tempos, horários e de nosso próprio espaço físico, dos recursos da casa, quando a compartilhamos com outras pessoas, das nossas facilidades. A pandemia nos está convidando a isso, mas é uma desvantagem para as pessoas que não tiveram oportunidade de se desenvolver, fazer a transição digital (especialmente os de mais idade), uma vez que a velocidade da evolução da tecnologia é maior do que a nossa capacidade em acompanhá-la e aprender. Mais do que nunca, estamos desafiados a incorporar algo novo de forma permanente, e que nunca foi tão necessário como agora. Não podemos mais ficar na zona de conforto do conhecido. Isso também é uma mudança em nossa mentalidade porque imaginávamos que estudávamos na escola, íamos à universidade por ex. e se acabava o tempo de  estudo.(risos)

Agora, o tempo do estudo não vai passar nunca.Tem que entrar na  equação de nossa vida, sempre teremos que aprender algo: às vezes algo que nos agrada, outras, algo de que necessitamos.Uma reacomodação que temos de fazer atualmente.

 

RC – Teriam os computadores e a tecnologia o potencial de nos libertar da “tirania do dinheiro”, do material, e liberar a humanidade para uma vida espiritual, produtiva e muito mais feliz? 

ACF – Não sei se vejo uma correspondência direta entre a informática e a liberdade. Claro, em geral, houve uma automatização de tarefas anteriormente manuais (preparação dos alimentos, limpeza doméstica etc…) que demandam menos tempo e energia. Isso representa uma oportunidade que deveria libertar-nos, mas parece que temos menos tempo hoje (risos).  

Parece que paradoxalmente (escuto e me passa também… risos) cada vez  temos menos tempo: simplificam-se umas, mas aparecem outras.

Creio que a vontade de se dedicar à vida espiritual é de autodeterminação. Se alguém  espera as  condições ideais, talvez nunca ocorra. Nós somos os que ordenamos as prioridades de nossa vida ;como esse  exemplo de colocar pedras em um recipiente: primeiro, as pedras grandes no fundo ,depois as médias  e por fim, as pequenas.

Em  nosso caso, em Cafh, para  os que escolhemos esse caminho, tratamos de colocar essa prioridade. O espiritual , vale a pena aclarar, não é algo separado do resto.

É uma atitude frente à vida.

Não necessito tempo especial para fazer vida espiritual, o que necessito é uma atitude distinta. Qualquer que seja a tarefa, eu a faço de uma forma espiritualizada,desde preparar  o alimento até meu trabalho, qualquer que seja esse, até minhas relações de família… 

Claro que para espiritualizar a vida, em Cafh, temos um método, temos ferramentas que nos  permitem gerar habilidades e  critérios para poder espiritualizar nossa vida.

Quer dizer, necessitamos de um espaço para tomar contato com nós mesmos, com o que nos sucede, com as decisões importantes de nossa vida: chamamos esse espaço de  meditação,  ou de detenção , ou oração. Temos um espaço de estudo, como já mencionamos no tema do aprendizado permanente ,com que também alimentamos nossa mente com ideias espirituais,  com bons  livros, e, claro, espaços de relação e de trabalho, tudo que qualquer ser humano tem que fazer.  Por isso, volto a insistir, não há um tempo específico para a vida espiritual; há que se reordenar a vida, por certo, criando um equilíbrio dinâmico, que possa se adaptar ao que vá surgindo, que tenha esse enfoque na espiritualidade, ou seja, no trabalho sobre a consciência. Essa é a tônica em Cafh. Repito, então, que a tecnologia pode ser um fator de ajuda, mas o determinante é a nossa atitude, nossa escolha, para onde dirigimos a nossa vida e nossos esforços.

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