A forma como nos relacionamos e trabalhamos como seres humanos é a chave para superar a polarização que hoje vive a humanidade.

A forma como nos relacionamos e trabalhamos como seres humanos é a chave para superar a polarização que hoje vive a humanidade.

RC- Como lhe parece que podemos lidar com a transformação tecnológica no espaço de trabalho, mantendo, de alguma forma, o equilíbrio ou os valores essenciais nas relações interpessoais?

ACF- Também no âmbito laboral, a tecnologia produz transformações que são positivas e negativas ao mesmo tempo.

Viu-se que o fato de que as pessoas possam trabalhar em seus lares, nos quais foi possível em um grande número de trabalho, não todos por certo, oferece vantagens, como por exemplo, a escolha de não ter que se deslocar, não perder tempo no transporte, na mobilização, ter um pouco mais flexibilidade de horários, fato de ter mais presença no lar, enfim, alguns benefícios. 

Por outro lado, também, há desvantagens nisto, porque de alguma forma o trabalho invade a casa, quer dizer, é como algo que estava fora e vem para dentro e, muitas vezes, também se mostra invasivo se não conseguimos esse equilíbrio-estou usando a  palavra equlíbrio porque é a chave- se não conseguimos equilibrar o tempo através de nossa rotina, de nossa disciplina pessoal para delimitá-lo. Delimitar qual  é o tempo  de trabalho e  um tempo para descansar ou para estar em família, quer dizer…

Digo, porque escutei muitas pessoas que, de repente, estavam trabalhando em sua casa muito mais porque não havia nenhum limite explícito nisso. Esse é um desafio como adequamos, como temos que encontrar novas formas de trabalho, se isto se prolonga, se isto se mantem, então teremos que criar outros hábitos, outra rotina diferente, se isso se prolonga por muito tempo. Não é a mesma coisa que sair de casa para ir trabalhar em um ambiente completamente diferente e não ir a parte alguma e seguir em nossa casa trabalhando. Então, isso implica em uma reacomodação de nosso tempo, de nossos horários, até de nosso próprio espaço porque, no lugar, às vezes, eu convivo com outras pessoas e tenho que pausar o uso do espaço, e dos recursos da casa. Creio que isso é algo que a pandemia nos está obrigando. 

Por outro lado, algo que é uma desvantagem é quando as pessoas tiveram pouco desenvolvimento no aspecto tecnológico, isso lhes custa muito e quanto maior a idade, mais difícil, obviamente, fazer essa transição quer dizer, ficam  ressabiados uma vez que a tecnologia evolui muito mais rápido, que, às vezes, nossa capacidade de aprender tudo isso para poder estar em sintonia e usá-lo. Eu creio que isso também nos leva a desenvolver algo que nunca foi tão necessário como agora que é a capacidade de aprender permanentemente, quer dizer, já não podemos ficar na zona de conforto do conhecido. É como se sempre estivéssemos desafiados a aprender mais, aprender algo novo, incorporar algo novo, isso de forma permanente. Isso também é uma mudança em nossa mentalidade. Qualquer um de nós pensava que estudava, ia para a universidade e, depois, já trabalhava. E já havia passado o tempo de estudar. (sabia tudo) Agora o tempo de estudar não passa nunca, ou seja, é algo que também tem que entrar na equação de nossa vida. Que há um tempo em que sempre estaremos aprendendo algo. Às vezes algo que nos agrada, às vezes algo de que realmente necessitamos. E, bom , isso também me parece uma real acomodação que teremos que fazer nesses momentos.

RC- A senhora acredita que os computadores e a tecnologia tenderiam, potencialmente, a nos libertar da tirania do “dinheiro”, do material, e liberar a humanidade para uma vida espiritual, produtiva e mais feliz?

ACF- Não sei se vejo uma correspondência direta entre o computador e um grau maior de liberdade. Creio que, em geral, houve muitas tarefas que fazíamos de maneira muito mais manual foi possível automatizá-las: desde os alimentos que comemos, até a limpeza do lugar. Muitas tarefas que podem ser feitas graças aos avanços científicos. De maneira que demandam muito menos tempo e energia. Creio que isso, sim, representa uma oportunidade de dispor do tempo para outras coisas. 

Mas, paradoxalmente, se escuta ( eu escuto e me passa também … risos) que cada vez temos menos tempo: porque assim como se simplificam certas tarefas, também aparecem outras tarefas em nossa vida.

Eu creio que a vontade de dedicar-nos à vida espiritual é uma autodeterminação. Ou seja, não vai haver nunca se se esperam as  condições ideais, possivelmente, nunca vai acontecer. Somos quem ordenamos as prioridades da nossa vida, como esse exemplo  que tenho visto muitas vezes,  de primeiro colocar as pedras grandes, depois as médias e, depois, as pequenas.

Em  nosso caso, pelo menos para os que escolhemos esse caminho de Cafh, quem está seguindo um caminho espiritual, tratamos de colocar essa prioridade. O espiritual, vale a pena aclarar, não é algo separado do resto. Em realidade, o espiritual, podemos dizer que é uma atitude frente à vida. Eu não necessito de um tempo especial para ser espiritual ou para ter uma vida espiritual. O que necessito é viver espiritualmente tudo que faço, desde fazer uma comida, até meu trabalho qualquer que seja o trabalho que eu faça, até minhas relações de família.

Claro que para conseguir isso, para espiritualizar a vida, em Cafh, temos um método,  (como você mencionou)temos ferramentas que nos permitem gerar as habilidades e os critérios para poder espiritualizar, quer dizer, necessitamos de um espaço de meditação, de detenção, onde possamos tomar contato com nós mesmos, com o que nos sucede, com as decisões importantes de nossa vida. Chamamos esse espaço de meditação,  ou espaço de detenção, ou oração. Temos espaços de estudo, falando justamente que estamos em permanente aprendizagem, temos espaço de estudo onde também alimentamos nossa mente com as ideias espirituais ou com bons livros. Temos espaços de relação e, claro, trabalhamos e fazemos tudo que um ser humano tem que fazer.  

Por isso, volto a insistir, creio que não há um tempo específico para a vida espiritual,  há que se reordenar a própria vida, por certo, criando esse equilíbrio do qual falávamos, que é um equilíbrio dinâmico, não é algo estático, senão que é  algo que vai se adaptando, surgindo com as  necessidades  e com  os momentos, que tenha esse enfoque  ou seja, o enfoque posto na espiritualidade,  no trabalho sobre a consciência. Creio que isso é um pouco a tônica  do que levamos adiante em Cafh. E novamente, a tecnologia pode ser um fator de ajuda, mas o determinante é a nossa atitude, nossa escolha, para onde dirigimos a nossa vida e nossos esforços.

 

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