O significado da amizade espiritual

O significado da amizade espiritual

O sentido de amizade espiritual pode ser traduzido pelo esforço interior e exterior de cada um de nós para conseguir relações conscientes e harmônicas. O esforço interior ocorre quando buscamos o autoconhecimento para superar a ideia de que existimos separadamente dos demais. Já o esforço exterior ocorre quando realizamos um controle contínuo para que a nossa conduta não nos separe uns dos outros e forme um laço interior inquebrantável, quer seja individualmente, quer seja coletivamente.

Ao aprender a trabalhar pelo bem dos outros e a não manipular os que amamos, fixamos nossa atenção além dos nossos próprios interesses e descobrimos o ambiente em que vivemos e respeitamos, pois “respeitar é atender com amor, dar lugar a que as pessoas e a natureza se manifestem como verdadeiramente são” (Waxemberg, 1992, p. 19).

Cafh é um caminho espiritual de autoconhecimento que nos convida a construir amizades espirituais praticando as atitudes recomendadas nas Dez Palavras do Desenvolvimento Espiritual, tanto de forma ascética quanto mística, para expandir a nossa capacidade de conviver harmoniosamente com os demais.

Começamos por calar o falar vocalizado e a murmuração mental para poder escutar com o coração o que o outro diz, de fato; pois no afã de rebater, aconselhar, emitir julgamentos, muitas vezes não ouvimos a essência do que o outro diz.

Falamos pelo outro, atropelamos o pensamento do outro, completamos o discurso do outro com suposições do que ia ser dito. E, assim, comprometemos o verdadeiro sentido da escuta, que é um espaço de organização dos sentimentos e das atitudes. É na escuta amorosa que o outro pode se ver, se reconhecer, se aceitar.

A realização do recordar é para validar, amorosamente, o que foi dito e feito. Não buscamos na recordação dos fatos vividos remeter o outro ao passado para achincalhá-lo com atitudes e palavras de superioridade, de quem detém a verdade, de quem pensa ser “juiz”. Recordar busca conduzir o outro a olhar o que passou com serenidade, esvaziando os sentimentos dos fatos ocorridos, ressignificando-os.

Recordar, às vezes, para esquecer os juízos que fizemos sobre os demais e respeitarmos sua liberdade de ser como eles querem ser, promovendo, dessa maneira, a harmonia e a paz em nós e nos demais.

Se na prática do ato de compreender conseguimos avaliar o que acontece conosco, distinguimos nossas opções, estabelecemos nossas prioridades e discernimos as consequências de nossas ações, precisamos nos lembrar de que esse mesmo processo ocorre com quem nos relacionamos. Essa compreensão ocorre em tempos distintos para cada pessoa. Respeitar o ritmo de compreensão de cada um indica o grau de amor que estamos galgando no relacionamento. Quanto mais amor desinteressado existir na relação de amizade, mais paciência e tolerância serão manifestadas nos momentos de aceitar essa compreensão do outro.

Uma atitude que pode contribuir para elevar o patamar de um relacionamento à amizade espiritual é julgar. Sim, julgar, mas usando um juízo ponderado. Fazer um juízo ponderado é analisar com detenção o assunto a ser tratado, comparar e avaliar diversas interpretações sobre o mesmo e chegar a uma conclusão isenta de preconceitos e preferências.

Os juízos ponderados não ocorrem de forma espontânea. Pelo contrário, costumamos ter o hábito de transformar as nossas opiniões em juízos que estão longe de serem ponderados. Em outras palavras, estamos habituados a julgar por julgar. Ao julgar os outros nos colocamos acima deles; consideramos que nosso critério e nosso juízo são superiores. Para solidificar uma amizade espiritual, o julgamento ponderado pode expressar o respeito pela forma de ser e agir do outro.

A amizade, construída sob esses pilares, voa alto e atinge a dimensão espiritual, pois demonstra respeito, lealdade e afeto sadio. Dessa forma, aprendemos a nos relacionar por participação porque criamos uma atitude de serviço, de ajuda oportuna e do conselho honesto que conhece e reconhece a verdadeira amizade, realizando-a em nós e entre nós, e em toda a humanidade.

Elza Lessa

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