A economia providencial do ser

A economia providencial do ser

A responsabilidade faz com que coloquemos a nossa vontade e entendimento no controle de nossos desejos, disciplinando os nossos hábitos de vida e cuidando de nós mesmos por amor à humanidade.

 O começo

Desde que adquirimos o dom de pensar e de escolher, seja burlando a “ordem” estabelecida no Paraíso ou herdando a habilidade desenvolvida por nossos antepassados Neandertais, o fato é que fomos criando, desde então, aos trancos e barrancos, nossa própria história. Algumas vezes coincidindo com os desígnios e leis do universo. Outras, negando-os…

A providência do ser

A prodigalidade infinita do criador do universo deu aos seres humanos todo o necessário para evoluir indefinidamente: sementes para alimentação e plantio, água, sol e ar puro em abundância. E, principalmente, nos deu o que nos constitui como seres humanos: um corpo adaptável aos alimentos, aos climas, às tempestades e inclemências, com um cérebro com sinapses e neurônios para pensar, medir, filosofar e inventar… E um coração para ditar ao cérebro que este satisfaça seus desejos. De tudo nos providenciou o criador!
Porém, o mais valioso de tudo fomos nós mesmos: aquilo que aloja nossa consciência e com o que nos identificamos para viver.
Se a nossa consciência estiver aberta aos deveres de responder com sabedoria à administração desse cabedal de bens que chamamos economia providencial, perceberemos que, assim como fazemos com os bens da terra, atuamos também com os bens de nosso ser de forma inconscientemente e sem responsabilidade. E, justamente por sermos inconscientes, dilapidamos aquilo de mais valioso, mais belo, mais precioso e maravilhoso que nos deu o criador: o sistema de sistemas que nos constitui.

Do desejo

Os fantásticos mecanismos de funcionamento nos fazem sentir sede quando o corpo está desidratado, a sentir fome quando precisamos de calorias, de enlouquecer-nos na paixão quando se precisa assegurar descendentes etc. Esses maravilhosos mecanismos homeostáticos alojados no precioso sistema de sistemas poderiam emperrar em qualquer momento, desde que entrasse em ação o que descobriu Sidarta Gautama como sendo o grande dificultador da liberdade interior do ser humano: o desejo.
O desejo também é um atributo do coração, só que é um atributo que não responde só às necessidades instintivas da entidade humana. Passando por nossa capacidade de sermos  livres, ele responde ainda à possibilidade de escolher o certo ou o errado e de responder a nossos caprichos (dentro da maçã do “paraíso” havia um verme que destilava saboroso veneno…).
Para Sidarta, a culpa de tudo é o desejo, e como o desejo é pulsão de vida, condenou a vida e ficou sem nada. A liberdade, portanto, seria o nada.
Porém, o desejo é um dos atributos providenciados, que foi inserido em nosso ser como ferramenta da vida para defender e alimentar a própria vida. desejo da urgência à fome, ativa a sede e acende as paixões para reproduzir!
E tudo seguiu seu curso. No início, deve ter ido tudo bem, até que aprendemos a utilizar o dom de sermos livres, livres para escolher certo ou errado…

Escolhendo errado esbanjamos a vida

O desejo é uma enorme porta que traz prazer ao ser satisfeito. Logo, usamos a liberdade de escolher errado para criar desejos e mais desejos, porém, desligando-os de sua função de satisfazer necessidades reais para só provocar o prazer de satisfazê-los. Resultado: avivamos a sede com aperitivos salgados para poder gozar, bebendo sem parar; avivamos a fome com temperos excitantes para gozar, comendo até fartar; e avivamos as paixões com pornografias e receitas que os avivem para gozar, satisfazendo o prazer. E assim nosso amado corpo fica
cheio do que não necessitava, espremido por esbanjar energias roubadas da vida.

Desperdício

Os laboratórios, a indústria e os grandes capitais, que fazem do prazer e dos remédios para os excessos do prazer o maior nicho de mercado do mundo, nos aprisionam com seus tentáculos difundidos pela mídia e estratégias de marketing, para viciar-nos no prazer de satisfazer reclamos vitais.
Para seguir gozando, evitando consequências desagradáveis, ativa-se a ciência, a filosofia, as crenças, os talismãs e tudo o que possa justificar e nos proteger das doenças e das responsabilidades indesejáveis: todo tipo de argumentação para deixar-nos tranquilos de poder seguir gozando, esbanjando a vida. Apoiamo-nos em todo tipo de estudos pseudocientíficos para provar que tudo está certo: medicamentos (antiácidos, antidepressivos, anti… anti… preservativos, anti…), cirurgias, tratamentos preventivos e curativos, hospitais, clínicas, planos de saúde etc.
Com tudo isso não só esbanjamos a preciosa dádiva dos sentidos e dos mecanismos de homeostasia naturais da vida; esbanjamos também o tempo que precisamos dedicar a atender as feridas e doenças que provocam os excessos. Esbanjamos o dinheiro que tanto custa ganhar o enfermo. Esbanjamos as forças próprias da humanidade para manter-nos vivos… Ou seja, esbanjamos a vida.

Lampejos de consciência e sabedoria aparecem no horizonte

No entanto, tudo é um processo, e a mesma mente e avanços da ciência que nos lançaram nos caminhos do esbanjamento dos dons da vida, estão abrindo caminhos à economia providencial do ser e de seus veículos vitais.
Praticar a economia providencial do ser é mais que uma necessidade pessoal, é uma responsabilidade que nos compromete a todos os seres humanos. Essa responsabilidade nos chama a escutar os avanços científicos da neurociência, da psicologia profunda, das ensinanças dos mestres espirituais não comprometidos com doutrinas dogmáticas. Essa responsabilidade, sobretudo, faz com que coloquemos a nossa vontade e entendimento no controle de nossos desejos, disciplinando os nossos hábitos de vida e cuidando de nós mesmos por amor à
humanidade, à providência divina, que é nosso próprio ser.

Enrique Sevilla

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