Renúncia, lei da vida

Renúncia, lei da vida

A renúncia é um ato de desprendimento e abnegação, uma força latente que busca a harmonia e a integração do indivíduo com os outros, podendo transformar a personalidade em uma individualidade mais perfeita e amorosa.

No Dicionário Houaiss, o verbete renúncia remete ao sentido de desprendimento, traduzidos:

• na atitude de abnegação, desapego.

• no altruísmo, desambição, desapegamento, desapego, desinteresse, despego, despretensão, generosidade, isenção, modéstia, renúncia, renunciação, renunciamento. E também ao sentido dos contrários:

• ambição, apego, apetite, avidez, brio, cobiça, cupidez, desejo, egoísmo, fome, ganância, interesse, inveja, sede, sofreguidão. Desse modo, fica mais fácil entender porque, nos tempos atuais – de individualismo exacerbado e “imediatismo digital” –, o sentido da palavra renúncia tenha ficado tão impopular, tão pouco usual.

Parece que tudo que esteja associado ao conceito de sacrifício ou abnegação caiu em desuso, pela predominância de uma cultura de gratificação imediata, de baixa resistência à frustração, de descartabilidade das relações, algo como a “modernidade líquida” de que fala Zygmunt Bauman.

Mas de que renúncia estamos falando? A que se encontra por trás dos gestos de abnegação de grandes seres, líderes da humanidade reconhecidos pela História? Ou as atitudes singelas de cuidado com o outro, do dia-a-dia de pessoas simples e generosas, que a praticam espontaneamente?

Ou ainda a definição de renúncia na teologia ascética, que nos fala sobre o desapego dos bens terrenos, no intuito de se alcançar a perfeição evangélica ou a união com o Divino, aspiração suprema de todos os místicos?

Nosso intuito nesta edição é ir além dessas acepções e possibilitar uma primeira aproximação do conceito de renúncia em Cafh, para que sua importância possa ser captada pelo leitor.
No contexto em que a localizamos, como base da Doutrina de Cafh, a renúncia pode ser definida como liberação progressiva e consciente das ilusões e ataduras da personalidade adquirida ao longo da vida, por meio de um processo permanente de expansão do estado de consciência do indivíduo. Esse processo implica um esforço metódico que nos leva a desenvolver a vontade, a paciência e a perseverança, conjunto de práticas que denominamos “ascética da renúncia”.

Sempre que esse esforço for guiado por uma reta intenção, pelo anseio amoroso de inclusão do outro, entraremos no campo da “mística do coração”. A prática da ascética-mística de Cafh permite a quem a vivencia sistematicamente aprofundar o autoconhecimento e a compreensão e participação com todos.

Sobre este tema encontram-se extratos de cursos do fundador de Cafh, Santiago Bovísio, e escritos de seu sucessor, Jorge Waxemberg, que ilustram múltiplos aspectos da renúncia e sua importância central para o esforço de desenvolvimento a que nos propomos em nosso Caminho.

Textos de nossos colaboradores buscam iluminar facetas diárias da vivência da renúncia, que nos permitem observar essa força poderosa em ação na sociedade.
Se o egoísmo é natural no processo de desenvolvimento do ser humano – a necessidade de o Ego se afirmar e tentar prevalecer – a renúncia também é uma força latente em cada um de nós, uma lei da vida, capaz de transformar a personalidade adquirida em uma individualidade mais perfeita, que busca se integrar às outras individualidades e ao todo.

A tendência à integração, à harmonia, a criar em conjunto, pela vivência da Renúncia, parece ser o novo paradigma em gestação no mundo, ou, como disse o fundador de Cafh, “a nova ciência social que há de pautar o século XXI”.

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