A liberação interior através da renúncia
O anseio de liberdade é inerente ao ser humano. Junto com este anseio está o de dar um sentido à própria vida. Que valor teria para nós a liberdade se ela não nos levasse aonde queremos ir? Buscamos liberdade para crescer, para explorar, para descobrir, experimentar e nos desenvolver.
Nunca antes tantos seres humanos tiveram a possibilidade de escolher entre tantas opções, em todos os campos, como as que temos hoje. No entanto, comprovamos que não é o poder escolher entre uma grande quantidade de opções que nos leva à plenitude, mas a capacidade de escolher aquelas opções que nos conduzem a realizar nosso fim último.
Como buscadores de liberação interior, procuremos abrir espaço na abundância de ideias que impulsionam a humanidade em diferentes direções.
Estas ideias geram poderosas correntes que, muitas vezes, se movem à deriva sem que saibamos qual é sua origem, quem as dirige, nem com que aval de desenvolvimento interior ou com que intenção são manejadas. Quem orienta as novas tendências? Em que referências podemos confiar?
De um mundo de mudanças previsíveis, que ocorriam em um espaço conhecido e em um tempo que permitia uma gradual adaptação, passamos a um mundo onde as mudanças são tão profundas e vertiginosas que nos vemos envolvidos por elas.
Temos o privilégio de ser atores e expectadores de um momento histórico no qual, em um curto espaço de tempo, ocorreu um extraordinário processo de transformação na humanidade.
As rápidas mudanças podem desestabilizar-nos, porém, se soubermos vivê-las, podem ser uma maravilhosa ajuda em nosso processo de desapego e de oferenda. Nós, membros de Cafh, regemos nossas vidas pela lei da Renúncia. O valor desta lei se apoia em que, quando aceita e vivida, leva o ser humano a transcender o pessoal e limitado para ingressar em um mundo sem ataduras e sem fronteiras.
Alguns enfoques que nos ajudam a orientar nossa busca de liberação interior.
Necessitamos liberar-nos do sentido de posse e estar preparados para adaptar-nos imediata e espontaneamente a qualquer mudança e condição que nos afete. O segredo da não posse está em descobrir e reconhecer que a riqueza do adquirido ou conquistado não reside principalmente no resultado que obtemos com nosso trabalho, mas na entrega de nós mesmos através do esforço para realizá-lo. Quando compreendemos isto, nenhum bem material, intelectual ou espiritual nos sujeita. O mais importante é o que demos de nós mesmos e o que se transformou em nós no processo que vivemos. Por outro lado, se ficamos prisioneiros dos resultados, estes com o tempo perdem atualidade e nos prendem no passado.
Necessitamos liberar-nos do temor que tende a provocar a incerteza. Para poder desenvolver-nos necessitamos apoiar-nos sobre a confiança em nós mesmos, em nossos valores como buscadores de liberdade interior.
Necessitamos liberar-nos da necessidade de querer ser como aqueles que idealizamos. Por buscar as conquistas de outros, não descobrimos o próprio potencial. Por outro lado, a comparação e a competição nos afastam do caminho que leva à egoência*, a verdadeira individualidade que só é encontrada quando se busca no próprio interior os valores essenciais que temos que alimentar e fazer crescer. Qualquer lugar que se queira ocupar no mundo é instável. Qualquer circunstância, ou ainda o previsível fluxo da vida, podem provocar sua perda. Ao deixar de buscar um lugar de protagonismo, nós nos permitimos ser em liberdade. Deixamos de flutuar entre os polos de êxito e fracasso para viver com serenidade e paz interior.
O fruto da vida espiritual é a liberação interior. Queira a Divina Mãe conceder-nos a graça de manter sempre vivo em nós o espírito de buscador para que, atentos e alertas ao verdadeiro sentido da existência, possamos ser plenamente livres para viver e transmitir a ideia da Renúncia
* Sobre a egoência , ver Revista Cafh ano 4 – N.º7.
