Os Dois Caminhos

Domingas Covre Loss

“O ser humano, diferentemente da folha que cai no rio e está sujeita às eventualidades da correnteza, vai decidindo como se orienta nela, se no fluxo que se move rumo ao horizonte ou nos encrespados que terminam

na ressaca.” (Jorge Waxemberg)

A busca do desenvolvimento da consciência leva-nos à compreensão de que só podemos mudar a nós mesmos. A partir dessa constatação, tudo muda, pelo menos para nós. Assim, se considerarmos a correnteza da vida, somente nós podemos determinar nosso próprio destino.

Na meditação sobre a Dama do Véu Negro*, percebemos e dissecamos algum aspecto que não entendíamos, e aborrecemos o que percebemos interiormente como limite aos nossos anseios de superação e liberação.

Na meditação sobre a desolação, compreendemos o abismo que existe entre satisfazer nossos desejos e a possibilidade de viver segundo a nova realidade que percebemos. Se antes atuávamos movidos pelo instinto, agora percebemos a possibilidade de liberação.

Na meditação sobre os Dois Caminhos, teremos a possibilidade de discernir o que queremos alimentar para ser livres.

Quando nos permitimos experimentar, sem queixas e lamentações, a desolação causada pela repetição de experiências que já sabemos que não queremos, descobrimos a força que reside nos momentos de realização. Alimentamo-nos da compreensão de que, se em alguns momentos conseguimos viver segundo uma escolha, é porque esta força está em nós; só necessitamos alimentá-la.

Tendo desenvolvido uma descrição da realidade que nos orienta para a transcendência, e tendo compreendido que somos movidos por instintos e condicionamentos, somos agora chamados a assegurar nossas conquistas e caminhar com passos seguros.

Para meditar sobre os Dois Caminhos, devemos apoiar-nos no fato de que, afinal, sempre temos duas opções a escolher, e compreender que, ao dizer sim a uma, estamos dizendo não à outra.

É uma etapa em que temos que tornarmo-nos dogmáticos conosco mesmos, para reafirmar nossos passos. Lembremo-nos de que nossos atos podem invalidar o que nossa mente compreende. A plenitude dos momentos em que conseguimos realizar o que nos propomos, ajuda-nos a ter a força necessária para mantermo-nos na opção escolhida.
Identifiquemos nossos apegos e o que eles nos causam e o que geram no meio em que nos relacionamos.

Poderíamos chegar ao cume do monte diretamente pelo caminho da renúncia, mas nós, seres humanos comuns, seguimos pelo caminho das inúmeras experiências, e tendemos a nos distrair com as pedrinhas multicoloridas que vamos encontrando pelo caminho. Assim, repetimos as experiências, algumas delas, muitas e muitas vezes; sofremos, fazemos sofrer, até que passamos à outra experiência e assim por diante.

Identifiquemos nossos apegos. Não são os apegos materiais que mais nos afastam dos demais. Aprendamos a discernir. Aprendamos a dizer SIM ao que nos sustenta no caminho escolhido e NÃO ao que nos afasta.

Como exercício pessoal, imagino “algum aspecto da minha personalidade que consegui compreender e que afeta minha relação com os demais, mas que, apesar de ter compreendido e conseguido realizar, diante de qualquer descuido, perco o controle da situação”. Descrevo para mim mesmo como a situação se apresenta, o que causa, como me senti quando consegui controlar a situação, que escolhas tenho a partir desta consciência. Na resposta, reforço com argumentos a escolha que quero alimentar, e me proponho terminantemente a desapegar-me daquela que não quero.

Podemos viver nossas vidas através da visão limitada que nossas experiências passadas nos oferece, ou podemos descobrir a liberdade de renunciar a aquilo que nos detem.

Desapego é liberdade. Um mundo melhor se faz possível com nossos esforços de criá-lo em nossas vidas.

Um amor simples e comprometido, que se expressa na perseverança de nosso trabalho espiritual, dá-nos força nas dificuldades e uma perspectiva que nos permite discernir qual é o melhor curso de ação para fazer de nossos ideais uma realidade.

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