Liberdade: possibilidade ou ilusão?

Nesta edição abordaremos um aspecto fundamental do processo de desenvolvimento espiritual do ser humano, “a ascética da liberdade”, da forma como o compreendemos em Cafh.

O conceito de ascética está presente em todas as tradições espirituais e tem se revestido de diversas interpretações conforme a época e o contexto histórico. No passado, as práticas ascéticas ainda vigentes em algumas comunidades religiosas evocavam a imagem do “asceta” isolado do mundo e dedicado somente à contemplação ou a exercícios inacessíveis a nós, seres humanos comuns. Esta palavra estava igualmente associada tanto à rígida disciplina militar “espartana” quanto à autoflagelação, os castigos corporais e suplícios que os santos da cristandade, entre outros exemplos, impunham a si mesmos.

Não é esta, no entanto, a acepção que lhe damos, como se verá. Se o fosse, pareceria paradoxal chamar-se “ascética da liberdade” ao conjunto de práticas e atitudes que compõem um método de vida cuja essência básica é a ideia da “renúncia”.

Nosso foco pretende iluminar especialmente o conceito de liberdade.

Existe uma liberdade interior e outra exterior? Liberdade é fazer o que se quer, em qualquer circunstância? Qual é o verdadeiro “querer” que nos chama a agir e que norteia nossa vida? Não temos a pretensão de dar a resposta a esses questionamentos, mas convidamos nossos leitores a percorrer conosco um caminho que leva ao âmago desta questão: afinal, o que é liberdade interior?

Liberdade interior é o cerne da doutrina de Cafh. Nesta perspectiva, a liberação espiritual é vista como um estado anímico ao qual se chega pela transformação de si mesmo, através de um método de vida (ascética) que conjuga a vontade à intenção de se alcançar o divino dentro de nós (mística) e não somente por experiências sensíveis, como preconizado em alguns caminhos, religiões e filosofias.

Como veremos na matéria de capa e na seção “Reflexões”, a ascética da liberdade focaliza o trabalho interior não como uma mera ginástica interior, uma “musculação espiritual”, mas como um esforço do ser para se depurar do acessório, do ilusório; para trocar em si mesmo o gozo sensorial por uma nova sensibilidade que incorpore todos os sentidos interiores, espirituais. Um esforço integrado com o corpo, a mente e o espírito.

O depoimento da seção “A arte de viver” fala sobre a prática do silêncio e a experiência de recolhimento vividos em um retiro espiritual. Os cuidados com o corpo e com a saúde estão presentes no artigo “Qualidade de Vida”.

Novos colaboradores enriquecem esta edição com seus artigos. Continuam os nossos temas já tradicionais, relativos à meditação e à leitura espiritual que são aspectos fundamentais de nosso método de vida. Na seção dedicada à memória de grandes seres, os quais consideramos mestres, neste número trazemos a figura luminosa de Hildegard de Bingen, uma mulher à frente de seu tempo: compositora, bióloga (intuitiva), escritora (semiletrada), sábia, santa!

Pensamos que se a participação crescente com toda a humanidade reflete o grau de expansão de consciência do indivíduo, a ascética da renúncia é um instrumento à disposição de qualquer um de nós, participantes da orquestra humana, para vivermos no dia a dia o processo de desenvolvimento interior, cujo sentido central é a união de todos os seres vivos na grande sinfonia cósmica do amor. Acreditamos que o nosso lema possa se expressar da seguinte forma: Sou livre por mim e também por todos os seres.

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