Desapego e o desenvolvimento da noção de ser

O desenvolvimento espiritual é um processo que começa quando se concebe um objetivo que transcende os interesses pessoais estritos. É o despontar da consciência de ser algo mais do que o mero produto do instinto de conservação e do desejo de auto-satisfação.

Assim, a vida espiritual vai se desenvolvendo na medida em que se expande a nossa noção de ser.

Se a minha noção de ser é a de ser independente e separado da realidade que me circunda, minha vida espiritual tem esta característica. Quando minha noção de ser se expande e incluo em minha consciência e em meu interesse algo mais do que eu mesmo, assim é também minha vida espiritual.

É impossível desenvolver a vida espiritual se nos aferramos a uma noção de ser que resiste a expandir-se e a participar.

Mas como posso saber se a minha noção de ser está se expandindo? É muito simples: basta que eu observe qual é a natureza de meus pensamentos habituais: como penso, em que penso, o que me preocupa.

A área que cubro com meus pensamentos habituais é, na prática, a que cobre a minha noção de ser. Naturalmente não estamos falando, neste caso, da consciência de ser, senão dos limites até onde chega a noção que tenho de “ser no meio”.

Se meus pensamentos habitualmente se centram em mim e no que EU quero, essa é a minha noção de ser. Nesse caso, o meio não é o “meu” meio, senão que é o “outro” meio, oposto ao meu. Se meus pensamentos habituais incluem outros seres, eles se incluem em minha noção de ser e conformam o meu meio.

Quanto mais inclusivos meus pensamentos, mais expansiva minha atitude para com o “meu” meio, que deixa de ser meu para abrigar o nosso meio, o de muitos, o de todos.

Este é o campo do desapego, onde se dá o embate entre a força da retenção (medo) e a da expansão (amor).

Nesta edição, procuramos abordar essa dinâmica sob vários prismas, como nos mostra nossa matéria de capa, o artigo “Pegar e largar”, e o próprio tema da seção Meditação: “Os Dois Caminhos”.
Outros textos nos chamam a refletir sobre a nossa responsabilidade com os demais: “Os desafios da aldeia global” e a necessidade de “Olhar para o futuro”.

Temos ainda um comovente depoimento em “Tocada pelas mãos”, que enfeixa os vários sentimentos que abrigamos em situações que impactam as nossas vidas, numa riquíssima experiência de desapego e superação.

Não ambicionamos, evidentemente, esgotar o assunto, mas permitir ao leitor identificar aspectos próximos ou similares em sua própria experiência, assim como alternativas para lidar com uma realidade que é inerente à condição humana, à vida de todos nós.

Talvez possamos simplesmente dizer que a vida é uma lição permanente de desapego. Estar consciente disso pode ser o primeiro passo de nossa caminhada espiritual.

A todos, uma boa leitura!

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